O QUILOMBO DE MAGÉ MONOGRAFIA
Por: Lidieisa • 9/11/2018 • 2.122 Palavras (9 Páginas) • 431 Visualizações
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A atividade agrícola tendo como cultivo de cana-de-açúcar, arroz, feijão, milho e mandioca, garantia a Magé um papel de destaque na Corte, logo, é notório observarmos que a mão de obra escrava foi um elemento fundamental para a produção. O aumento da oferta de excedentes proporcionou um aumento considerável do comércio destes produtos e assim o município de Magé conseguiu aumentar o seu potencial mercantil. Em 09 de junho de 1789, a primeira vila da Baixada Fluminense foi criada. Na Freguesia de Magé, logo institui câmara pública, cadeia pública e o pelourinho. Com o desenvolvimento agrícola recebeu o titulo de ‘Celeiro da Corte’. Magé destacou-se também por abastecer não só a Corte, mas, para acém do mercado interno, os seus produtos foram levados para outras colônias do Império Português, como Angola e Moçambique.
As potencialidades econômicas de Magé são devidas ao seu alto grau de mercantilização. A proximidade com a corte e sua facilidade de comunicação fez com que esta localidade se tornasse uma das principais regiões a realizar o comércio com a Corte, senão a principal. Por causa de sua importância foi instalado em Magé a primeira ferrovia da América do Sul, a Estrada de Ferro Barão de Mauá, inaugurada em 30 de abril de 1854, uma idealização do empresário Irineu Evangelista de Souza, mais tarde conhecido como Barão de Mauá. Havia também transporte aquático.
Seus portos são de grande importância, citemos Porto Estrela, Porto da Piedade, Porto de Inhomirim e o Porto de Suruí, pois serviam para escoar a produção agrícola e as riquezas do Brasil.
Em 1822, Dom Pedro I, ao viajar para as Minas Gerais passou pela fazenda de Cordoaria, em Inhomirim, que pertenceu ao capitão João Antonio Albernaz e achou o local apropriado para a transferência da fábrica de pólvora. Esta fábrica era instalada no Centro do Rio de Janeiro, na Lagoa Rodrigo de Freitas. Logo a mudança para um local mais distante era uma questão de segurança. A cidade do Rio de Janeiro crescia muito e uma fábrica de pólvora significava a possibilidade de explosões.
1.1- Preciosidades Históricas em Magé
Em passeio pela cidade é possível conhecer os monumentos históricos como o Morro do Bonfim, rota de fuga dos negros em direção ao Quilombo de Maria Conga. Este local se transformava num campo de batalha quando os senhores dos escravos mandavam seus jagunços para resgatar os fugitivos. Outro local é o bairro Piedade, tradicional bairro negro de Magé. Ali os escravos montavam toda a sua estratégia de resistência. Neste mesmo bairro encontra-se a Praça do Leilão. Esta praça é o antigo porto de desembarque escravo. Quando ali desembarcavam, aqueles que foram escravizados eram acorrentados no paredão.
Ainda na Piedade, tem uma capela inteiramente construída por negros escravizados. Existiu também um túnel, escavado por eles, que dá acesso ao Quilombo de Maria Conga.
1.2 – O Quilombo Maria Conga e a memória local.
Outro monumento importante é o Quilombo Maria Conga. Único da Baixada Fluminense reconhecido pelo Ministério da Cultura e que ainda luta para sair do esquecimento. A memória, no sentido primeiro da expressão, é a presença do passado. Conforme Henry Rousso, “seu atributo mais imediato é garantir a continuidade do tempo e permitir resistir à alteridade, ao ‘tempo que muda’, as rupturas que são o destino de toda vida humana; em suma, ela constitui – eis uma banalidade – um elemento essencial da identidade, da percepção de si e dos outros”.(ROUSSO, 1998, pp.94-95)
Recebeu este nome para homenagear escrava guerreira que fundou o quilombo na cidade e que morreu aos 95 anos de idade. Os remanescentes, ao se referirem à Maria Conga, não falam em morte, mas em imortalidade. Foi o que lembrou Marcílio da Costa Faria , ao repetir uma célebre frase de Maria Conga, ao cair nas mãos de um senhor de escravos: "O senhor prendeu meu corpo, destruiu meus sonhos, mas não conseguiu alienar minha consciência de mulher negra". (Casa de Cultura da Mulher Negra)
Entre tantos tesouros, a partir da segunda metade do século XVIII, gradualmente começou a decadência de Magé. Na região de Piedade foi reduzida a quantidade de cativos e Suruí também sofreu uma grande crise econômica.
No meio dessa história toda, nos deparamos com um tesouro cultural que Magé desconhece, no caminho entre a Baixada Fluminense e a Região Serrana, tendo como plano de fundo a Baía de Guanabara. Bem próximo ao Centro, lá está encravado o Morro da Maria Conga, com a comunidade remanescente do Quilombo Maria Conga. Magé hoje, praticamente uma cidade-dormitório, abriga um tesouro cultural desconhecido inclusive por boa parte de seus 250 mil habitantes e é sobre ele que falaremos um pouco mais no próximo capítulo relatando a história e as memórias do Quilombo.
“Segundo Peter Burke (2000)
a visão tradicional das relações entre a história e a memória se apresentava sob uma forma relativamente simples: a função do historiador era ser o guardião da memória dos acontecimentos públicos, quando escritos para proveitos dos autores, para lhes proporcionar fama, e também em proveito da posteridade, para aprender com o exemplo deles. Assim, para Cícero (106 a.C. -43 a.C.), a história era a vida da memória. Na mesma perspectiva, Heródoto (c. 484 a.C. - 425 a.C.), Jean Froissart (c. 1337-1410) e o Conde de Clarendon (1609-1674) afirmaram que escreviam para manter viva a memória dos grandes fatos e feitos notáveis.”
O intuito de Ivone Matos na sua luta era justamente escrever, registrar, fotografar, resgatar a existência de um Quilombo que estar esquecido, a fim de manter viva a memória da Maria Conga, pois compreende que a preservação da memória de um povo abre portas para documentar sua existência no mundo.
CAPÍTULO 2 - Um tesouro cultural que Magé desconhece
Maria Conga foi batizada com o nome de Maria da Conceição por um senhor de engenho de Salvador. Auxiliava aos que necessitavam de abrigo e foi a Fundadora do Quilombo, a fim de proteger os negros refugiados da guerra e assim ensinou-os a lutar pela conquista de direitos.
“Margeando a linha férrea que cruza Magé, o único quilombo da Baixada Fluminense reconhecido pelo Ministério da Cultura ainda luta para sair do esquecimento. Apesar de homenagear a escrava guerreira que fundou um quilombo na cidade, o Maria Conga não tem motivos para comemorar, por exemplo, o Dia da Consciência Negra.
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