EDUCAÇÃO DO ESPÍRITO, UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA PARA A HUMANIDADE
Por: Evandro.2016 • 17/9/2018 • 3.407 Palavras (14 Páginas) • 365 Visualizações
...
No século XVII encontramos Jan Amós Comenius, considerado o maior pedagogo da época, apresentando um método considerado um marco inicial da pedagogia moderna, com sua proposta de educação intuitiva.
O século XVIII seria marcado pela consolidação do processo educacional da Humanidade, graças às profundas transformações que esse período traria para a cultura humana. O Iluminismo construiria um novo modelo de homem, cujo desenvolvimento intelectual viria a demonstrar a importância da educação no contexto de sua instrução, alicerçada em valores morais reconhecidamente indispensáveis.
A França ficou marcada como berço das idéias iluministas, que desembocariam na Revolução Francesa, marco de um novo tempo, na História de Educação da Humanidade.
Ao iniciar-se o século XVIII, encontramos uma plêiade de reformadores, entre os quais citamos, como marco inicial de uma reforma na educação no ocidente, Rosseau, denunciando uma falsa “educação” praticada na época, principalmente na França, propondo, em sua obra Emílio, uma nova educação baseada no desenvolvimento natural da criança, antevendo o surgimento a psicologia infantil.
No final do século XVIII e início do século XIX despontou outro pedagogo, chamado Johamn Heinrich Pestalozzi, que recebeu fortes influências de Rousseau. Pestalozzi definiu a educação como sendo o desenvolvimento harmônico de todas as potencialidades do ser, considerando como elementos básicos no interior da criatura humana a inteligência, o sentimento e a vontade. Para ele, essa tríade, sintetizada em educar a cabeça, o coração e as mãos, ganhava amplitude incomensurável quando se cria a relação de amor entre educando e educador (oliveira, 2002). Para Pestalozzi, a grande conquista da educação, é a autonomia do homem, pela maturidade de suas potências morais, que já se encontram em gérmen em seu mundo íntimo ao nascer (OLIVEIRA, 2002).
Hipolyte Léon Denizard Rivail, como aluno da escola de Yverdan, fundada por Pestalozzi, foi notadamente influenciado pela tríade conhecida mais tarde como Princípio do Equilíbrio de Potencialidades (OLIVEIRA, 2002), ou seja, mãos, coração e cabeça em harmonia. Nota-se em seu comentário na questão 917 de O Livro dos Espíritos o quanto esse pensamento do mestre suíço influenciou sua formação:
A educação, convenientemente entendida, constitui a chave do progresso moral. Quando se conhecer a arte de manejar caracteres, como se conhece a de manejar as inteligências, conseguir-se-á corrigi-los, do mesmo modo que se aprumam as plantas novas. Essa arte, porém, exige muito tato, muita experiência e profunda observação. (Kardec apud Oliveira, 35:2002).
Rivail fundou em Paris um Instituto de Educação nos moldes pestalozzianos e foi educador durante trinta anos, período em que escreveu inúmeras obras e ministrou aulas de matemática, química, física, astronomia, biologia e anatomia comparada de forma gratuita àqueles que não podiam pagá-las. Aos 51 anos, adotou o pseudônimo de Allan Kardec ao codificar a Doutrina dos Espíritos ou Espiritismo, doutrina que possui um tríplice aspecto — cientifico, filosófico e religioso — cujo objetivo é promover a evolução do homem e esta evolução é um processo pedagógico, desde que a Educação do Espírito é o cerne da proposta espírita (LAPLANTINE, 1991, p.79).
Os princípios básicos do Espiritismo repousam na sobrevivência e imortalidade da alma (somos Espíritos imortais), na reencarnação (voltamos ao mundo físico em um novo corpo até atingir a perfeição, meta de todo Espírito, considerado como um ser divino em evolução) sofremos as conseqüências das nossas ações (lei de ação e reação ou lei de causa e efeito) e por isso mesmo somos os artífices dos nossos destinos.
Segundo Dora Incontri (2005: p. 10), a história do Espiritismo passa necessariamente pela Educação, já que Kardec, antes de assinar-se como tal, havia sido durante 30 anos emérito educador na França, figurando através de suas propostas pedagógicas, entre os grandes educadores da época. Discípulo direto de Pestalozzi, Kardec vinha de uma tradição filosófico-pedagógica e não compreendia a doutrina espírita como mais uma religião, no sentido tradicional da palavra. Acima de tudo, seu ideário era o da educação.
Herculano Pires (1985) e Incontri (2005) ressaltam que Kardec não chegou a elaborar uma teoria com métodos e objetivos de uma educação espírita, mas deixou o Espiritismo impregnado de seu ideal educacional. O Espiritismo, diziam-lhe os Espíritos, tem por missão modificar o mundo inteiro. E Kardec afirmaria, de acordo com sua orientação anterior de pedagogo: A educação é a chave do progresso moral (PIRES, 1985: p. 55).
Com um novo conceito de ser humano (como projeto inacabado, que deve ele mesmo aperfeiçoar) e um novo conceito de criança (como ser reencarnado, herdeiro de si e dono de potencialidades únicas), Kardec abre um novo rumo à educação do ser, a Educação do Espírito, que tem como objetivo principal, a emancipação do ser humano baseada na percepção e compreensão da sua própria natureza espiritual. A esse respeito trata Alves (1997, p. 18):
Não se trata de transformar crianças em espíritas. Trata-se de torná-las pessoas felizes, realizadas, conscientes das leis da vida e da sua função no Universo. Para isto, é necessário considerar o educando em todos os aspectos interligados de seu Ser: espiritual, moral, mental, emocional, físico-energético, social. É necessário desenvolver um tipo de trabalho que inclua todas estas dimensões do Ser; que relacione conceitos, sentimentos e prática; que seja atual e interdisciplinar e adaptado a cada realidade, sem perder-se de seus princípios norteadores.
A proposta da Educação Espírita não é ensinar espiritismo, pois deve ser uma pedagogia aplicável a qualquer ser humano, de qualquer tendência filosófica e religiosa. É uma educação que vê o homem como um ser espiritual livre e transcendente que deve usar sua razão para construir o seu ser e para conquistar a sua moralidade. É uma abordagem nova da educação humana e não um movimento sectário, autoritário e centralizado em alguma pessoa ou instituição. Todos podem se embeber de seus princípios e praticá-los livremente.
O pano de fundo do conceito espírita da Educação é o princípio da multiplicidade das existências. Para o Espiritismo, todos os seres humanos são essencialmente iguais, todos são perfectíveis, chegarão à realização completa de suas potencialidades através das sucessivas reencarnações (retorno do Espírito à matéria) e construirão um mundo melhor, pautado
...