Resenha Crítica - "A Trégua"

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Quando finalmente consegue uma oportunidade de dizer que está apaixonado, surpreende-se com um “eu já sabia”. A partir desse momento, o “Nosso Assunto” se torna um relacionamento cada vez mais consistente, mas que ainda era rodeado pelo medo de serem vistos pelos colegas ou da reação que os familiares poderiam ter.

Martín adquire um apartamento para que os dois possam se encontrar sem medo. Pela primeira vez desde a morte da mãe de seus filhos ele se vê envolvido com alguém por algo além do que ele chamava de “sexo por necessidade”.

Por não acreditar que poderia haver uma felicidade duradoura entre os dois por causa da enorme diferença de idade, Martín reluta em pedir Avellaneda em casamento e se entregar de vez a um amor que nem por Isabel havia sentido.

Quando finalmente resolve lutar contra seus medos e pedir sua amada em casamento, Martín é engolido pela triste notícia de sua morte. Ali acabava a trégua que a vida o havia trazido.

A dor provocou um intervalo de dias enorme no diário de Martín. Avellaneda levou consigo a possibilidade de dias felizes, jogando Martín de volta ao seu abismo particular. Terminam seus registros dizendo-se desgraçado. Acabou-se o escritório. Não há mais trégua. Restou-lhe o ócio e a dúvida: O que fazer?

A narrativa inteira é construída de modo a estabelecer claramente uma conversa entre Martín e o leitor, fazendo com que o texto perca a característica pessoal que um diário deve ter. Ao ler o livro, não temos a impressão de estar adentrando a intimidade do diário de uma pessoa, mas sim de estar lendo algo escrito justamente para que terceiros leiam. Observando os traços de personalidade que o autor deixa nas entrelinhas do diário de Martín, podemos até ter em um primeiro momento a visão de que Martín é um homem complexo, cheio de dúvidas sobre a vida, que busca um sentido para sua existência e que vê no amor por Avellaneda uma trégua para suas inquietantes questões. No entanto, não é preciso muito tempo para notar que o personagem não é construído da forma como deveria ser, resultando em um trágico ser ingênuo e superficial que não encontra um sentido para a vida por excesso de conformismo.