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Releitura O Pequeno Principe

Por:   •  1/5/2018  •  9.642 Palavras (39 Páginas)  •  364 Visualizações

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Perdido com a parte que havia parado, comecei a folhear novamente o meu livro, foi quando vi o desenho da jiboia e inevitavelmente, fiz com que ele escorregasse, e assim ele caiu perto do pé da cadeira dela. Ela gentilmente se inclinou e pegou o meu desenho.

– Belo desenho – ela me disse sorrindo.

– Obrigado, mas não sou tão bom desenhista assim – respondi envergonhado.

– Na verdade, eu acho que você conseguiu retratar muito bem o que queria.

Naquele momento eu pensei “apenas mais uma que viu um chapéu”. Sorri, guardei o desenho e voltei a leitura.

Depois de vinte minutos eu já havia me cansado, arrumei minhas coisas, levantei-me e me despedi com um sorriso de canto. Ela olhou para mim e disse:

– Posso te fazer uma pergunta antes de ir?

– Claro. - Respondi

– Talvez você me julgue, talvez me ache louca. Minha imaginação vai além do que eu enxergo, mas você consegue ver? Isso é uma jiboia engolindo um elefante, não é?!

Naquele momento não pude prestar atenção em mais nada que acontecia em minha volta. Se um meteoro caísse ali, bem no meio da biblioteca, tudo o que eu faria seria continuar olhando para ela. Era ela. Ela era a única merecedora de ouvir a história. A história que eu me privei de contar para qualquer um. Me chamariam de louco. Ela não.

Decidi falar alguma coisa, ela deveria estar pensando que disse algo condenável. Abri o maior sorriso que meu rosto poderia comportar e falei olhando para os olhos mais puros já haviam cruzado meu caminho.

– Talvez ... – sorri de canto – É uma explicação e tanto! Se estiver disposta poderíamos nos encontrar outro dia. Prometo que te conto tudo.

– Sim! – Ela me disse entusiasmada e sorridente. Uau! E que sorriso.

Ela rasgou um pedacinho de papel de um caderninho que estava em sua bolsa, escreveu um endereço e seu nome, Sofia, e me entregou:

– Amanhã as quatro. Te espero lá. – E voltou a ler.

Me virei e fui embora, tentando disfarçar a felicidade de poder vê-la de novo.

Voltei para a pousada assoviando. E comecei a perceber quantas flores passaram despercebidas pelo meu caminho até então.

No dia seguinte, uma hora antes já estava no lugar combinado, uma cafeteria. Ela viria as quatro da tarde, mas desde as três comecei a ser feliz. Ela chegou sem se atrasar, com um vestido rodado até a altura do joelho, num tom de azul claro. Parecia o céu, coincidentemente.

Sorri e perguntei:

– Não ficou com medo de se encontrar com um completo estranho?

Ela ergueu levemente a sobrancelha esquerda e ironizou um sorriso:

– Alguém que desenha uma jiboia devorando um elefante não poderia me fazer mal.

Sofia era tão leve e sincera, quase imperceptível as palavras, parecia um anjo cantando.

Contei a ela minha origem, sobre uma família rude e extremista que indiretamente me estimulou para algo maior. Viajar para procurar coisas simples no mundo e nas pessoas, isso me trazia paz. Ela me olhava com um ar de doçura e interesse, e a cada palavra dela com aquele aroma de café forte, nos tornávamos mais íntimos e ela parecia se sentir bem, tão fantástico.

Após isso, expliquei sobre a jiboia. Um desenho antigo de uma criança inocente, mas que por fim foi um “objeto” de identificação. Minha busca incessante por pessoas de coração puro. Ela riu e me perguntou:

– Você por acaso é Deus? Porque essa busca por alguém assim?

Pela primeira vez eu estava conversando com alguém sobre aquilo, e ela me fez uma pergunta e tanto. Fiquei espantado, sem reação, pelo simples fato que eu não tinha a resposta completa. Ela percebeu, mas eu não hesitei por muito tempo e logo respondi:

– Acredito que essa seja a busca por algo que meus pais não me deram ... ou pelo menos a chance de poder acreditar que exista alguém que vai poder salvar o mundo – ri com um tom de quem tenta descontrair algo que já está bem complicado.

Ficamos lá por mais uma hora e meia, conversamos bastante. Quase escurecendo ela me disse que deveria ir embora, o Rio de Janeiro a noite não era para qualquer um. Concordei, paguei a conta por nós dois e a acompanhei até a rua.

– Então, é isso ... – ela me olhou de uma maneira que quase me partiu o coração, o olhar de quem não gostaria de ir embora. Eu não poderia mais ficar longe de uma companhia igual àquela.

– Por favor, vamos trocar nossos números, precisarei de ajuda nessa viagem e se você estiver disposta, gostaria de ter uma ajudante.

– Sem dúvidas! Estarei a dispor - ela tirou um bloco de notas da bolsa e anotou seu número, pediu que eu anotasse o meu. Coloquei no bolso e fiquei parado olhando para ela, sem saber o que fazer.

Ela sempre sendo natural, me abraçou por alguns segundos. Segundos esses que pareceram horas, o cheiro doce do seu cabelo me prendia naquele abraço. Abri os olhos e vi pessoas nos observando e me afastei desajeitadamente. Ela me olhou assustada, mas em seguida sorriu e nos despedimos.

Eu mal poderia esperar pelos próximos dias.

[pic 5]

Se passaram alguns dias após o nosso encontro, não sabia se era cedo ainda para ligar, se deveria esperar mais alguns dias para não parecer apressado. Essas coisas sempre me perturbaram, vivi me indagando porque o ser humano não se formou de uma maneira mais simples, porque temos que viver agindo de uma maneira tão confusa? De qualquer forma, esperei mais dois dias e liguei.

O telefone tocou muito, ou eu que estava ansioso. Ela atendeu, e perguntou quem era, respondi, e ela me respondeu apenas com um “Ah”. Preocupado, perguntei se ela estava bem:

– Estou – ela silenciou por um tempo – E você?

– Bem ... – eu estava nervoso. Porque ela estava estranha? – Lembra que eu disse que precisaria da sua ajuda?

...

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