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Ultimato Inglês

Por:   •  12/4/2018  •  2.275 Palavras (10 Páginas)  •  481 Visualizações

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Em presença duma ruptura iminente das relações com a Grã-Bretanha e todas as consequências que poderiam dela derivar, o governo resolve «ceder» às exigências recentemente formuladas nos dois últimos memorandos (…) protestando bem assim o direito que lhe confere o artigo 12º do Acto Geral de Berlim de ser resolvido o assunto em litígio por mediação ou arbitragem. O governo vai expedir para o Governo-Geral de Moçambique as ordens exigidas pela Grã-Bretanha. (Teixeira, 1990, p.62)

E Portugal cedeu, por medo ou por incapacidade de enfrentar a poderosa Inglaterra, ou até de forma a evitar o isolamento internacional. Um país que fizesse frente a uma Inglaterra provavelmente não iria ter pessoas do seu lado. Terminava a utopia do mapa cor-de-rosa se é que não passou disso, de um sonho impossível.

Várias figuras mais ou menos importantes reagiram ao desfecho do ultimato, várias conferências e teses se lêem e ouvem, criticando a política externa de Portugal, questionando o que seria de esperar da política interna após este falhanço e, outros, defendendo o país que apesar do conflito ainda mantém territórios em África.

“Sendo o Ultimatum um acontecimento de política externa, torna-se um acontecimento de política interna.” (Teixeira, 1990, p.70) Foi exatamente isto que aconteceu.

As repercussões internas não se demoraram a fazer sentir; em vez de tentarem defender os interesses do país, os partidos desejavam aproveitar o acontecimento em seu proveito. Pressionado pela opinião pública e política, o governo progressista, que tinha aceitado o Ultimato, demite-se. De imediato, o líder do partido regenerador António Serpa Pimentel encarrega-se em formar governo não ficando este livre das críticas dos seus oponentes.

Amenizado, não resolvido estava o problema interno, mas continuava a pressão externa. Portugal encontrava-se isolado internacionalmente sendo que qualquer pedido de ajuda era recusado. Arredado do poder e do parlamento, o partido republicano parece entrar em forma de propaganda, seria o único capaz de devolver orgulho a Portugal?

Certo é que o governo se intimidou; a Lei das Rolhas foi a forma encontrada para silenciar e travar o possível aproveitamento republicano da situação. O país parecia pouco a pouco restaurar-se e modificar-se. Após o ultimato realizam-se eleições para o parlamento, eleições que, obviamente, não eram livres para todos. Contudo o partido republicano ganha os primeiros resultados políticos.

Mas as relações com Inglaterra continuaram com a construção de dois tratados: o Tratado de 20 de Agosto de 1890, que confirmava o ultimato e a perda de tudo o que Portugal desejava e o tratado de 1891 que substituiu o anterior e que fixou as fronteiras entre os territórios ingleses e os territórios portugueses. Portugal não conseguiu enfrentar a sua fiel aliada, estes dois tratados são outra evidência disso, e assim como o ultimato também estes tratados não foram bem recebidos na sociedade portuguesa, colocando em causa a solidez do Rei e do governo.

Governo que cai novamente, Serpa Pimentel não conseguiu aguentar a pressão dos seus oponentes nem da opinião pública. D. Carlos finalmente toma uma decisão política: chama para formar governo João Crisóstomo, que chefia um governo de certa forma extra partidário. Uma vez mais, as críticas dos partidos são ouvidas. O partido republicano era o que mais indignado estava, criticando o regime.

E é importante salientar tudo o que os republicanos fizeram: a tentativa de aproveitamento da situação em seu proveito já foi referida, mas as formas de chegar à população são importantes de mencionar.

A celebração do tricentenário da morte de Camões, o maior símbolo do patriotismo português e que escreveu os gloriosos feitos, foi aproveitada pelos republicanos; responsáveis pelo acontecimento, figuras como Teófilo Braga e Ramalho Ortigão, entre outros, as ideias republicanas começavam a ser espalhadas.

A Portuguesa que, muitos desconhecem a sua origem, foi também utilizada como símbolo republicano. A letra que todos hoje cantam, bem ou mal, não era assim na última década do século XIX. Henrique Lopes de Mendonça, responsável pela letra, e Alfredo Keil, responsável pela composição, foram os dois autores do tema. Mas os republicanos não se interessaram pela música apenas por ser bonita, interessaram-se sim pelo conteúdo; contra os bretões e não contra os canhões. Era assim que se cantava a letra, numa forma clara de oposição à Inglaterra e ao ultimato.

O partido republicano saiu reforçado, a imagem de patriotismo e de recuperação da glória portuguesa foi bem recebida na sociedade; consideravam-se os únicos importados com a nação. Ora estava a tornar-se claro que os republicanos desejavam mudanças. E tentaram a 31 de Janeiro de 1891, o dia em que aconteceu o primeiro levante republicano no Porto. Pretendiam a implementação dos seus ideais, contudo, foram travados pela Guarda Municipal que deteve alguns dos manifestantes.

D. Carlos teve pouca sorte, visto que chegou ao poder e foi confrontado com esta grave situação: o ultimato e todas as consequências que já foram expostas. Mas devia e poderia ter feito mais, aliás, essa foi a principal crítica que lhe fora feita: o pouco envolvimento com as questões do país. Era evidente que o seu reinado não ia durar muito mais.

Opinião pública

O ultimato e, principalmente, o seu desfecho não agradaram aos portugueses “o que eu esperava nunca bem esteve definido no meu espírito, mas não era por certo essa ensurdecedora gritaria de rua” (Chagas, 1892-93, p.214), era este o ambiente, de desagrado e de frustração popular.

Poderiam os outros partidos tirar proveito da situação, no entanto, a curto prazo mostrava-se difícil. Como foi referido, nem o Partido Progressista nem o Partido Regenerador tinham capacidade de mitigar o conflito e o partido republicano, que fora apanhado de surpresa, não conseguiu tirar partido da insatisfação popular, “o Directório republicano fora colhido de surpresa e nada organizara para prevenir a necessidade de um golpe de força” (Salgado citado por Homem, 1992, p.283) explicando-se, assim, a posterior falha da revolta de 31 de Janeiro de 1891, que pecou pela falta de preparação.

Nem o rei nem o governo foram capazes de solucionar o conflito militar diplomaticamente, mas a sociedade tentava fazer frente à Inglaterra, boicotando a comercialização de produtos britânicos e a não exportação; eram as pessoas do país que lutavam sem armas.

Esmere-se a nossa indústria em produzir

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