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A Micro-história em Carlo Ginzburg

Por:   •  10/12/2018  •  1.635 Palavras (7 Páginas)  •  328 Visualizações

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Carlo Ginzburg utiliza obras de diferentes autores para essa análise em sua obra. A primeira a ser analisada e descrita pelo autor é “O ataque de Pickett. Uma micro-história do ataque final em Gettysburg, 3 de julho de 1863”, na qual há uma análise de uma batalha decisiva da guerra civil americana. Logo após, “Pueblo en vilo. Microhistoria de San José de Gracia”, de Luís González y González, onde uma aldeia ignorada é alvo de uma investigação que durou quatro séculos. Seguida por “Zaharoff Lecture”, de Richard Cobb – dedicada a Raymond Queneau – onde o autor parte da análise de personagens mais modestos para contrariar a historiografia que possuía foco nos grandes e poderosos; “O queijo e os vermes”, de autoria própria, explicando a intenção de reconstruir o cenário do processo de inquisição de Mennochio através dos documentos produzidos por seus juízes; “Guerra e Paz”, de Tolstói, onde há uma análise da batalha de Waterloo por meio da visão de Fabrício del Dongo e, por fim, “A estrutura do universo histórico”, de Siegfried Kracauer, que enfatiza a importância da micro-história ao mesmo tempo que reconhece a da visão macroscópica, classificando como ideal uma junção de ambas, tomando como exemplo “A sociedade feudal”, de Marc Bloch.

Para concluir o pensamento de Ginzburg ao escrever “O fio e os rastros”, devemos levar em consideração o capítulo dedicado ao estudo, nomeado “Micro-história: duas ou três coisas que sei a respeito”, onde são apresentadas diversas obras que possuíam essa visão microscópica da história. O autor ressalta, no começo, a importância dessa área da história ao passar por autores diferentes que estudam temáticas diferentes e, ao concluir o capítulo, exibe a visão de Kracauer como unificadora de pensamentos, falando que ambas as perspectivas da história são importantes, e que não devemos excluir uma para usar única e exclusivamente a outra.

Já partindo para a análise de “O queijo e os vermes”, também de autoria de Carlo Ginzburg, encontramos, nessa obra, a descrição e narrativa do processo de Inquisição de Domenico Scandella, também conhecido como Mennochio – e assim chamado durante toda a obra -, um moleiro italiano nascido em Montereale, que vivia em uma aldeia, localizada na zona italiana do Friuli.

A história possui um recorte histórico do século XVI, mais precisamente a partir do ano de 1532, ano o qual Mennochio declarou ter nascido no primeiro processo[6], ao qual possuía 52 anos. Percebemos, desde o começo dessa obra, a utilização da micro-história por Ginzburg, visto que estudou um simples moleiro que fora acusado por heresia pela Inquisição italiana.

A ideia principal do autor, aqui, é construir através das documentações produzidas pelos julgadores de Mennochio sua trajetória, abordando e tentando reconstruir seu mundo intelectual e suas influências, visto que o personagem aqui tratado de não somente possuir um pensamento herético, mas sim de tentar disseminá-lo para sua aldeia. Suas afirmações classificadas como heréticas eram acerca da Virgem Maria, de Cristo e da concepção do Universo. Vale lembrar que Mennochio era religioso, porém não aceitava a história “oficial” sobre esses temas, não levando a bíblia como uma verdade universal.

Há, durante toda a obra, questionamentos de Ginzburg para que seja compreendido o contexto histórico desse processo de Inquisição, já que, em pleno século XVI, quais seriam as fontes do modesto moleiro para possuir tal pensamento crítico? Temos um exemplo de questionamento do autor a partir deste excerto:

“Além de fantasiar sobre o paraíso, Mennochio desejava um ‘mundo novo’: ‘Meu espírito era elevado’, dissera ao inquisidor, ‘e desejava que existisse um mundo novo e um novo modo de viver, pois a Igreja não vai bem e não deveria ter tanta pompa’. O que Mennochio queria dizer com essas palavras?” (GINZBURG, 1996, p.157.)

A cada interrogatório passado, Mennochio deixa cada vez mais evidente seus pensamentos de caráter herético, não se acanhando com o processo de Inquisição por possuir ideias contrárias ao pensamento da época. Era uma pessoa tão convicta de suas ideias que rejeitou ser acusado de louco e não ser condenado pela Inquisição.

Como objetivo secundário de Ginzburg, podemos dizer que, através dessa obra, o autor quis passar a mensagem de que a historiografia não depende ou se resume apenas da elite, sendo possível a realização de uma historiografia “menor”, classificada como micro-história, estudando pessoas “comuns”. Há, também, uma discussão entre a cultura erudita e cultura popular.

Após uma série de julgamentos e exposição de suas ideias heréticas, em 1584 o moleiro foi condenado a passar o resto de sua vida na prisão, porém, em 1586 sua pena fora amenizada, e Mennochio retorna à sua aldeia, em Montereale. Apesar disso, manteve a mesma postura herética em relação aos pensamentos da época, o que o levou a outro julgamento, datado de 1598, no qual fora condenado, sendo assim, torturado e morto na fogueira da Inquisição italiana.

Para a conclusão da linha de pensamento de Carlo Ginzburg em “O queijo e os vermes”, vale ressaltar que o historiador italiano utilizou a vida de Domenico Scandella e os documentos produzidos por seus juízes no processo de Inquisição como objeto de estudo e fonte, respectivamente, para reafirmar a importância do estudo da história de pessoas “comuns”, classificado como a base da micro-história.

REFERÊNCIAS

GINZBURG,

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