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Quilombo, Identidade e Território

Por:   •  15/11/2017  •  2.383 Palavras (10 Páginas)  •  484 Visualizações

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Território e Identidade

O espaço é concebido pela Geografia como seu objeto de estudo, embora, paralelo as transformações socioespaciais históricas, a própria ciência geográfica tenha sofrido transformações e deste modo teve de se adequar aos novos modelos de sociedade para poder explicá-las, assim, seu objeto de estudo é concebido atualmente como espaço social. O mesmo ocorre com as demais categorias de analise geográficas, que passam por um processo de renovação devido às transformações espaciais. Para tanto, o conceito de território, categoria de análise norteadora deste trabalho apresenta-se como um produto espaço/temporal, fruto de um trabalho realizado por um ator/ou grupo que estabelece uma relação de dependência com o território, mesmo sendo temporário ou mesmo permanente. Para Saquet (2009) o espaço, pode ser entendido como ambiente natural ao mesmo tempo em que corresponde ao ambiente socialmente organizado. O território, entretanto na visão do referido autor, é resultado de ações desenvolvidas ao longo do tempo ao passo que se concretizam em momentos distintos o que resulta em paisagens diferentes. O território então é oriundo da dinâmica socioespacial.

A partir dessa compreensão entende se que espaço e território estão coadunados, indissociáveis. “O espaço é indispensável para a apropriação e reprodução do território” (SAQUET, 2009, p. 83). Na perspectiva de Haesbaert (2009) ambos não poderão ser separados, posto que não há território sem espaço. Contudo, não são equivalentes, como bem define Raffestin (1993), ao apontar que o espaço é anterior ao território, formando-se a partir do espaço, sendo resultado da ação conduzida por um ator que realiza um programa em qualquer nível. Ainda sobre a compreensão de território entende se que:

(...) desde sua origem, o território nasce com uma dupla conotação, material e simbólica, pois etimologicamente aparece tão próximo de terra-territorium quanto de terreoterritor (terror, terrorizar), ou seja, tem a ver com dominação (jurídico-política) da terra e com a inspiração do terror, do medo – especialmente para aqueles que, com esta dominação, ficam alijados da terra, ou no “territorium” são impedidos de entrar. Ao mesmo tempo, por outro lado, podemos dizer que, para aqueles que têm o privilégio de plenamente usufrui-lo, o território pode inspirar a identificação (positiva) e a efetiva “apropriação” (HAESBAERT, 2007a, p. 20).

Deste modo o território apresenta-se impregnado de uma carga cultural (material e simbólico), ao se referir ao termo dominação da terra, nota-se que as relações de poder operam-se num sentido mais concreto, enquanto o ato de se apropriar apresenta um valor simbólico.

Na concepção de Saquet (2003) o processo de territorialização se desenvolve sob a tríade economia, política e cultura, que determina as diferentes territorialidades no tempo e no espaço. Ainda nesta linha de pensamento o referido autor aponta que tais forças de desenvolvimento se processam coadunadas as relações cotidianas, neste sentido,

(...) as forças econômicas, políticas e culturais, reciprocamente relacionadas e em unidade, efetivam o território, o processo social, no e com o espaço geográfico, centrado e emanado na e da territorialidade cotidiana dos indivíduos, em diferentes centralidades, temporalidades e territorialidades. Os processos sociais e naturais, e mesmo nosso pensamento, efetivam-se na e com a territorialidade cotidiana. É aí, neste nível, que se dá o acontecer de nossa vida e é nesta que se concretiza a territorialidade (SAQUET, 2007, p. 57).

Para os autores BOLIGIAN & ALMEIDA (2003), o território é o espaço das experiências de vida, na qual as relações entre os sujeitos e destes com a natureza, são relações permeadas por sentimentos e simbolismo atribuído aos lugares onde as identidades sócio/cultural são construídas por meio das práticas sobre este espaço. Ou seja, para a compreensão do território como um todo é preciso levar em consideração todos os aspectos que o produz, sejam estes aspectos materiais ou imateriais, entretanto, a cultura é o elo mais forte na produção destas identidades.

Priorizando a dimensão simbólica e mais subjetiva Haesbaert (2004), apresenta o território como sendo o produto da apropriação e valorização simbólica de um grupo em relação ao seu espaço vivido. Ainda na concepção do referido autor o território pode ser concebido sob múltiplas formas de relações de poder, na qual a ordem material se concretiza sob as dimensões política e econômica e simbólica sob a dimensão cultural.

Entende-se então que o espaço é anterior ao território, a partir do momento que grupo se apropria do espaço e exerce sobre ele um determinado trabalho este grupo se territorializa e as experiências acumuladas neste território acaba por gerar uma identidade particular do grupo com o lugar. Sobre esta afirmação, Santos (2008), assegura que território e identidade estão intimamente relacionados enquanto um estilo de vida, uma forma de ver, fazer e sentir o mundo. Um espaço social próprio, específico, como formas singulares de transmissão de bens materiais e imateriais para a comunidade. Bens esses que se transformam no legado da memória coletiva, num patrimônio simbólico do grupo. A propósito disto, os territórios quilombolas refletem bem este discurso,

portanto o território não deve ser visto como algo isolado, único, dever ser entendido a partir das relações que se estabelece, e a partir do se constrói no espaço apropriado, seja material ou imaterial, constituindo a identidade de um grupo. Neste sentido, Santos (2008), vai mais além quando diz entender-se por territorialidade como o resultado de uma história entre sujeitos e um espaço, que ao longo de um tempo, nas interações com o meio, com a terra, estabelece um vínculo de identidade de um grupo com o seu território. Neste sentido, a territorialidade dos grupos quilombolas efetivamente resulta da homogeneidade de uma ancestralidade em comum na organização da ocupação espacial, ou seja, o território construído a partir de uma vida coletiva gerida pelos mesmos propósitos sociais configura-se numa identidade étnica, pois a origem, a história são elementos significativos na formação espacial de um território enquanto área de quilombo. Neste sentido, a constituição dos territórios quilombolas em solo brasileiro ressignificou a cultura destes povos, ao passo que precisaram se reinventar para reproduzir seus modos de vida.

Neste sentido, ao passo que estes sujeitos se apropriavam de um dado lugar (e isso se deu

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