PRETO CONTRA BRANCO: UMA DISPUTA SEM CAMPEÃO
Por: Sara • 24/9/2018 • 1.091 Palavras (5 Páginas) • 300 Visualizações
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O documentário segue entrevistando outros personagens, acompanhando o dia a dia dos bairros, em uma narrativa que encerra no jogo. Parte das entrevistas é realizada no Bar do Chuchu, que fica no Clube da Comunidade, local onde os organizadores dos jogos se encontram periodicamente para beber cerveja, conversar sobre partidas de futebol e relembrar os momentos épicos dessa disputa que acontece a quatro décadas. Apesar do tom de amistosidade e saudosismo o racismo se revela, ora sorrateiro, ora escancarado. Ora numa piada, ora num grito que ecoa: “Tem que matar esses pretos aí, com certeza!”, diz um dos entrevistados. Todo esse discurso é levado em tom de brincadeira, é quase uma unanimidade a afirmação de que não há racismo nem nas partidas, nem nas comemorações, mesmo com as histórias carregadas de preconceito. Para um deles, que se declara branco, comprar uma máscara de macaco e umas bananas não significa “tirar sarro com a cor de ninguém”. É uma gozação. Contudo, racismo e/ou injúria racial não são brincadeiras. O racismo é sempre deletério. São crimes e, inclusive, inafiançáveis para casos graves.
Enfim, o grande jogo começa. Primeiro uma oração em uníssono: “assim como nós perdoamos a quem nos tem ofendido” Eles já sabem que o que se segue é uma partida com troca de ofensas. A disputa revela que o principal adversário é o preconceito, seja em campo ou fora dele. Em 80 minutos de documentário futebol, paixão nacional, com ídolos negros consagrados, a exemplo Pelé, não é um território livre de preconceito racial. O goleiro Aranha que foi chamado de macaco pela torcida do Grêmio em 2015 é mais desses exemplos que acontecem mundo afora.
Estes episódios são reflexos do que está cristalizado na nossa sociedade. Talvez, o problema não resida no fato da divisão exótica dos times, poderia ser só mais um modo seletivo. Mas no jogo “Preto contra Branco” o que se vê é a reprodução da contradição de um tipo de racismo presente, consequência de séculos de escravização, exclusão e marginalização, mas que é invisibilizado, colocado pra escanteio. O racismo que mata a cada 23 minutos um negro no Brasil é o mesmo que se ouve nos estádios de futebol. É preciso falar sobre racismo em todos os espaços. É preciso combater o racismo em todos os espaços. No fim do jogo a equipe dos pretos vence a partida. Mas a sensação que fica é de que ninguém sai campeão. Enquanto fingirmos que o racismo não existe, o preconceito vai continuar dando de goleada.
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