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CONCEPÇÕES ÉTICO-FILOSÓFICAS ACERCA DO VALOR DA AMIZADE EM PLATÃO E CÍCERO

Por:   •  9/9/2018  •  4.713 Palavras (19 Páginas)  •  309 Visualizações

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Essa oposição entre corpo e alma, gera uma dualidade. Para compreender a alma Platão a divide em três partes: a alma racional que é superior as outras duas almas – irascível e concupiscível –, localizando-se na cabeça e tendo como virtude asabedoria, que é a alma do filósofo. Depois, a alma irascível, que vem associada à vontade e dá ao homem o ânimo que necessita para enfrentar problemas e conflitos; fica localizada no peito e traz a virtude da força e da coragem, sendo a alma do guerreiro. Por último, está a alma concupiscível, constituída pelos desejos e necessidades básicas do homem. É localizada no ventre, tendo por virtude a moderação, e por isso, é a alma dos artesãos e camponeses.[5]

Platão divide o corpo em três partes - cabeça, tronco e pernas, como faz com a alma, trazendo para a sociedade um ideal de governante, que é o rei-filósofo, sendo este a primeira divisão do corpo, seguido pelo guerreiro e depois os artesãos e camponeses.

Na sociedade de Platão, dividida em classes, cada um deve saber seu lugar e fazer aquilo que é de sua competência. Pois, fazendo isso, tem-se o bom andamento de toda a pólis, alcançando, assim, a justiça. Mediante a vivência da ética-moral, a sociedade pode caminhar para o conhecimento e a felicidade.[6]

As pessoas cuja senhoria se exercesse pela razão poderiam ser filósofas; elas teriam tudo o que é necessário para participar do conselho de governantes e até mesmo para chegar a ser rei. As pessoas cujo espírito fosse o motor principal seriam homens de ação e, uma vez educados, formariam o grupo dos guerreiros, defensores armados da cidade. Por fim, os que caíssem sob o domínio dos apetites [...] estariam destinadas a trabalhar com as mãos, no artesanato e afins, servindo na cidade para o estamento dos operários e artesãos.[7]

Alem disso, é necessário descobrir a verdade sobre as coisas, o que só é possível encontrar ao se alcançar o mundo inteligível,o que acontece por meio do reconhecimento docaráter ilusório e transitório do mundo acessível pelos sentidos. Para não ser enganado pelos sentidos e buscar conhecimento é preciso libertar-se dos prazeres, necessita-se sair da caverna, para alcançar sabedoria.

Quanto à subida à região superior, e à contemplação dos seus objetos, se a considerares como a ascensão da alma para a mansão inteligível, não te enganarás quanto à minha ideia, visto que, também tu desejas conhecê-la. Só Deus sabe se ela é verdadeira. Quanto a mim, a minha opinião é esta: no mundo inteligível, a ideia do bem é a última a ser apreendida e com dificuldade, mas não se pode apreendê-la sem concluir que ela é a causa de tudo o que de reto e belo existe em todas as coisas; no mundo visível, ela engendrou a luz e o soberano da luz; no mundo inteligível, é ela que é soberana e dispensa a verdade e a inteligência; e é preciso vê-la para se comportar com sabedoria na vida particular e na vida pública.[8]

Libertando-se das sombras da caverna e da ignorância, é preciso contemplar a verdade e ir em busca do Bem. Na alegoria, vê-se um personagem que se liberta da ignorância das sombras; esse indivíduo adquire conhecimento ao sair fora da caverna. Esse conhecimento gera no indivíduo uma volta para anunciar a verdade aos que ainda estão na caverna, dando-lhes a chance de sair, trazendo-os à luz do conhecimento.

E se tiver de entrar de novo em competição com os prisioneirosque não se libertaram de suas correntes, para julgar essas sombras, estando ainda sua vista confusa e antes que os seus olhos se tenham recomposto, pois habituar-se à escuridão exigirá um tempo bastante longo, não fará que os outros rissem à sua custa e digam que, tendo ido lá acima, voltou com a vista estragada, pelo que não vale a pena tentar subir até lá? E se a alguém tentar libertar e conduzir para o alto, esse alguém não o mataria se pudesse fazê-lo?[9]

O indivíduo que volta à caverna, traz consigo conhecimento para os demais, e é levado a voltar por causa da ética e política, que nascem através da razão. O que o impulsiona pode levá-lo a morte, pois há os que não aceitem sair de seu lugar. Em Lísis, ou da amizade, Sócrates questiona sobre a amizade e se ela se mostra no que ama ou no que é amado. Ou mesmo, no que ama e é amado;na reciprocidade.[10]

Trazendo tais questionamentos ao mito da caverna, a resposta pode ser o que ama e não é amado. Mas, a amizade comunga também do Eros, que é amor, se encontra na volta à caverna. Pois aquele que conhece a verdade, liberta-se das paixões e busca sabedoria, vive regido pela ética, chega ao conhecimento e à vivencia da amizade. Esse caminho de volta, além de ético-moral e político, é também pedagógico, gera questionamentos e uma comunicação entre os indivíduos em vista do conhecimento.[11]

A amizade, que vem trazida por Sócrates no diálogo com Lísis e Menexenodo acontece por meio da maiêutica e gera o conhecimento de dentro para fora, na subjetividade de seus personagens, onde a resposta não chega a uma conclusão exata. Mas, a ideia de amizade é trazida como algo importante, ao se destacar, que a posse da amizade é um bem que supera a posse de todos os bens materiais:

Cada um tem um desejo de posse: um deseja possuir cavalos, outros cães, um outro ouro ou honras. No que me toca, sou indiferente a tudo isso. Mas quanto a possuir amigos, sou absolutamente passional e ter um bom amigo seria para mim sumamente mais preferível do que possuir a melhor codorniz ou o melhor galo do mundo e até, por Zeus, o melhor dos cavalos ou dos cães [...].[12]

O valor de uma amizade parece grande, mas os questionamentos de Sócrates de onde se manifesta a amizadetornam-se amplos. De perguntas, geram-se mais perguntas. Sócrates passa, então, a analisar a possibilidade de uma amizade que se manifeste entre semelhantes de bem e depois de contrários, e, ainda, que a amizade nasça quando alguém que não é bom e nem mau, que passa, pela ação do mal, a amar o bem.[13]Mas tais questionamentos não chegam a provar na totalidade a amizade.

A reciprocidade se destaca dentre o surgimento de mais questionamentos, mas para Sócrates ela não existe puramente, acontecendosempre com o desejo de algo em troca, beneficiandoapenas à um indivíduo.

Diante disso, o que nos resta agora fazer, eu disse, se amigos não são os que amam, nem os que são amados, nem os que amam e são amados? Haverá outros além destes com relação aos quais podemos afirmar que se tornam reciprocamente amigos?[14]

Surgem novas perguntas sobre a amizade, mas não surgem respostas. Por fim, Sócrates diz:

Lísis

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