A ANTROPOLOGIA FILOSÓFICA DOS PRÉ-SOCRÁTICOS
Por: Sara • 20/12/2018 • 10.816 Palavras (44 Páginas) • 501 Visualizações
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O homem pergunta acerca da natureza porque ele sempre soube dessa possibilidade; porque é caracterizado pela autoconsciência e pela autocompreensão. É por isso que ele se eleva sobre os entes infra-humanos que se sujeitam a ela. Só porque o homem sabe sobre si mesmo e compreende – de modo autotransparente – a si mesmo pode perguntar sobre si mesmo. Ele é um ser que não deixa a pergunta se perder na superficialidade, mas a torna possível. Porque o homem não compreende plenamente a si mesmo, permanecendo enigmático e cheio de mistério, porque o seu saber é ao mesmo tempo um não saber e a sua autocompreensão uma não-compreensão, ele pode e deve perguntar a cerca da sua verdadeira e própria natureza. Assim o homem se encontra num lugar de estranha ambiguidade. Ele se compreende como ser espiritualmente dono de si, capaz de se autocompreender. Mas está também ligado a obscuridade do ser material e daquilo que lhe envolve, como impedimento de uma plena compreensão de si. Esta dualidade determina a natureza do homem: dela surge a possibilidade e a necessidade do seu perguntar.
Assim, essa pergunta já revela a si mesma a primeira resposta, a qual é certamente provisória e necessita ainda de desenvolver-se, mas indica a direção ao nosso ulterior perguntar e a procurar a essência do homem. Aquilo que o homem sabe desde o inicio sobre si mesmo se dá de modo originário e imediato, mas não ainda de modo expressamente refletido, deve ser levado à luz e tornar-se explicito. Aquela originária autocompreensão que de um modo constante se torna atualmente possível, acompanha, condiciona e permeia de si todo ato de consciência explicito e objetivo; todo nosso falar e agir deve ser tematicamente descoberto, esclarecido e exposto a uma reflexão que nos conduz a um tempo anterior considerando tudo aquilo que nós somos e como nos experimentamos e nos compreendemos. Isso parece muito simples. Trata-se de uma coisa muito evidente, mas considera-la e tematizá-la de modo conveniente, é muito difícil para o conhecimento empírico-objetivo, o qual se move na direção do nosso dirigir-se naturalmente e espontaneamente ao mundo que pode sempre reenviar o objeto oferecido, de modo visível e palpável. Aqui, ao contrário, se pede uma inversão de rota e uma parada de recolhimento, na qual se pode facilmente detectar modos reduzidos e deformados, que conduzem a uma interpretação unilateral a cerca de essência do homem. Por outro lado, a pergunta nunca prevalecerá à meta definida, ainda que a resposta seja procura sobre o justo caminho, isto é levando em consideração a existência humana na sua plenitude. A essência do homem, mostrando sempre novas profundidades, provoca a renovação constante da pergunta. Porém não se pode jamais calar diante dessa interrogação da humanidade. Ela não se aquietará até que seja pensamento humano, pois perguntando e procurando, está sempre a caminho. Também se na história se dão respostas diferentes, e até mesmo opostas, essas vão assinalar os fenômenos, ou problemas válidos, dos quais uma explicação filosófica da existência deve fazer a diferença.
Coloca-se, portanto, o problema acerca de tudo aquilo que a antropologia é e deve ser. Pergunta-se como ela, em coerência com tudo que foi dito, deve ser metodicamente inserida e desenvolvida. É o problema do método, que deve demonstrar-se válido e determinar-se ulteriormente em relação a coisa em si. Como acesso metódico é nos oferecido a possibilidade de partir de um fenômeno privilegiado contrastado pelo fato que nele se abre fundamentalmente a modalidade constitutiva da existência humana. Pode-se partir do fenômeno do perguntar, questionar e do conhecer humano, da experiência da consciência ética, da liberdade e do amor. Podemos ainda nos defrontar com Jaspers, tendo como ponto de partida as situações-limites, ou então Heidegger com a angústia existencial e o cuidado, o ser getado e o estado de direção, o ser para a morte. Ou então escolher o início da relação “eu tu” com M. Buber, ou Gabriel Marcel e a comunicação interpessoal e a participação, ou Franz Rosenzweig com a relação dialógica como abertura para o outro. Existem muitas possibilidades. Essas são justificadas, até que a totalidade do homem não seja reduzida, com a inevitável simplificação que o coloca diante de um simples fenômeno determinado, mas que é acolhido como unidade de sentido total e estruturado, a partir de um fenômeno antropologicamente central.
Hoje um grande número de ciências empíricas particulares dispõe-se ao serviço de pesquisa antropológica: biologia e psicologia, pesquisa sobre a evolução e sobre o comportamento, psicologia empírica e sociologia, etnologia, ciências da cultura e da religião. O nome “antropologia” por muito tempo não é mais reservado ao interesse filosófico. Seria a função da antropologia filosófica aquela de integrar os resultados da pesquisa científica sobre o homem? É necessário ver, se uma síntese das ciências empíricas pode revelar a vastidão da pesquisa antropológica. É preciso levar em conta que a simples ciência se funda na presteza e precisão de uma problemática cientificamente bem colocada. Ela se limita a um aspecto determinado e desenvolve um método correspondente, mas prescinde de outros aspectos e conexões, que não pertencem ao âmbito do seu sujeito e que os seus métodos não podem colher. Ainda que muitas ciências tratem do homem, cada uma delas se dirige a um aspecto bem delimitado da realidade humana. Nenhuma ciência particular pode reunir tudo sobre o homem, nem pode dizer algo sobre a sua essência.
Uma precompreensão daquilo que significa ser o homem é já pressuposta se um simples conhecimento do tipo científico-experimental deve ser antropologicamente relevante. Se o biólogo, por exemplo, tem um conhecimento importante para os processos vitais humanos, o seu conhecimento como tal não lhe diz o que é o homem. É preciso saber primeiro para reconhecer os seus estudos relevantes do ponto de vista antropológico. Se o estudioso da evolução se defronta com um fóssil no qual reconhece ou pensa de reconhecer um osso do crânio humano, a sua poderá ser uma descoberta de máxima importância, mas este osso não lhe diz absolutamente nada sobre o que é o homem. O mesmo vale para o histórico, o arqueólogo que descobre restos de utensílios ou de construções de um tempo distante. Estas descobertas poderão também ser muito importantes do ponto de vista da história da cultura. Todavia, não o são porque dizem alguma coisa sobre o homem, mas porque, no fundo de um pré-saber acerca do homem, acerca do seu agir e do seu comportamento, vem compreendida como obras humanas e encontram o seu lugar dentro da história da cultura.
Isso vale
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