RESUMO DE LINGUAGEM, ESCRITA E PODER
Por: Kleber.Oliveira • 4/11/2018 • 1.370 Palavras (6 Páginas) • 527 Visualizações
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este sistema. Durkheim, Mauss e Lévi-Bruhl incluíram os chineses entre os exemplos de “povos primitivos” ou “pré-lógicos”. Foucault afirmou que a escrita é uma forma de duplicação, uma vez que representa elementos fonéticos, e não o seu significado, ao contrário dos ideogramas. Para Saussure, a palavra falada tem prioridade sobre a escrita, que é apenas a representação da primeira. Para Sapir, as formas escritas são “símbolos dos símbolos”. Entre os autores que contribuíram para o estabelecimento do campo de estudo da escrita quase não encontramos linguistas. Lord descobriu que os poemas cantados pelos iugoslavos nunca era repetido da mesma forma, o que representa a invariabilidade dos textos.
Por que (não) ensinar gramática na escola
Dado que a língua padrão é de fato o dialeto dos grupos sociais mais favorecidos, tornar seu ensino obrigatório para grupos sociais menos favorecidos, como se fosse o único dialeto válido, seria uma violência cultural. Isso porque, juntamente com as formas linguísticas (com a sintaxe, a morfologia, a pronúncia, a escrita), também seriam impostos os valores culturais ligados às formas ditas cultas de falar e escrever, o que implicaria em destruir ou diminuir valores populares. O equívoco, aqui, parece-me, é o de não perceber que os menos favorecidos socialmente só tem a ganhar com o domínio de outra forma de falar e escrever. Aprender outro dialeto é relativamente fácil. Portanto, nenhuma das razões para não ensinar o dialeto padrão na escola têm alguma base razoável. Ler e escrever não são tarefas exatas que possam ser sugeridas aos alunos como lição de casa e atitude de vida, mas atividades essenciais ao ensino da língua. Portanto, seu lugar privilegiado, embora não exclusivo, é a própria sala de aula. Para que um projeto de língua seja bem sucedido, uma condição deve necessariamente ser preenchida, e com urgência: que haja uma concepção clara do que seja uma língua e do que seja uma criança (língua sistema complexo; criança altamente capaz de aprender). O fato de desconfiarmos de um dicionário revela, em princípio, uma visão mais adequada de língua do que o fato de desconfiarmos de um processo gramatical produtivo. Os dicionários e as gramáticas são bons lugares para conhecer os aspectos da língua, mas não são os únicos e podem até não ser os melhores. Nem tudo se aprende da mesma forma. Então será que tudo o que os seres humanos aprendem é resultado das mesmas estratégias? Os seres humanos adquirem certos comportamentos de forma “criativa”, não dependendo de repetições numerosas, mas de hipóteses constantemente propostas e testadas pelo próprio aprendiz. Não precisamos ensinar uma criança a fazer frases, uma vez que elas já sabem fazê-las, e com elevado grau de complexidade. Uma grande descoberta do ponto de vista europeu é que não existem línguas simplificadas ou primitivas. Afirmações de que o português é cheio de regras e exceções vão por água abaixo. Os grupos que falam uma língua ou um dialeto em geral julgam a fala dos outros a partir da sua e acabam considerando que a diferença é um defeito o um erro. E daí pensamos equivocadamente que os outros não sabem falar. Saber falar significa saber, uma língua, e consequentemente saber uma gramática, e por conseguinte conhecer algumas regras que se aprendem na escola, ou fazer análises morfológicas e sintáticas. Qualquer avaliação da inteligência do aluno com base na desvalorização do seu dialeto (ou do domínio do padrão) é cientificamente falha. A escola ensina, na realidade é a modalidade escrita da língua, e não propriamente a língua, pressupondo um grande conhecimento da modalidade oral. Todas as línguas variam, e esta variedade reflete a diferença de status ou papel entre indivíduos ou grupos numa sociedade. Os valores machistas produzem diferenças entre as linguagens de homens e mulheres, e um questionamento a estes valores conduziria a uma padronização neste sentido.
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