As Redes de Polarização
Por: Jose.Nascimento • 11/6/2018 • 7.646 Palavras (31 Páginas) • 302 Visualizações
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Após essa análise, será descrito pela teoria de CASTELLS (2013) como os novos movimentos sociais se formam e qual o papel da rede nesse novo modo de mobilização social. Por fim, será comentado quais os possíveis impactos que essas redes causam, analisando a Internet como um elemento educador que tem influência sobre a cognição e ação do indivíduo.
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2 A concentração de poder na rede
O intuito de avaliar a concentração de poder na rede é favorecer o entendimento de como a circulação de informações dentro dela atualmente está em grande parte atrelada às grandes empresas de tecnologia. Afinal, estas empresas controlam uma parte significativa do fluxo da internet com objetivo de criarem benefícios econômicos para si próprias. Com isso, estas empresas acabam por comprometer o caráter descentralizador da rede, e, através de algoritmos altamente complexos feitos para identificação de comportamentos, essas empresas têm em mãos inputs poderosos para criação de ambientes artificialmente produzidos para maior comodidade dos usuários. Esta é uma característica das chamadas bolhas de filtro, que serão tratadas em detalhe na próxima sessão.
O mercado global de smartphones está extremamente concentrado. O Google com a plataforma Android domina cerca de 87,6% do mercado, a Apple com o IOS cerca de 11,7%, Windows phone 0,4% e demais 0,3% (INTERNATIONAL DATA CORPORATION, 2016). O que é bastante relevante quando soma-se a maior presença de smartphones como ponte de acesso a dados online e influência do sistema operacional no navegador a ser utilizado – Chrome para Android, Safari para IOS , por exemplo. Mas é válido mencionar quea própria interface do sistema operacional já cria uma bolha de filtro.
No entanto, mais determinante para formação de bolhas de filtro é o poder de influência que pode ser exercido sobre mecanismos de busca e redes sociais, pois estas duas ferramentas constituem o núcleo das atividades realizadas por usuários na rede hoje. Sendo assim, chama atenção o fato de que grande parcela da população mundial tem acesso a estes dois serviços por meio da oferta de poucas gigantes da internet.
Para mecanismos de busca, O Google concentra uma fatia de mercado equivalente a 89,72%, enquanto o segundo maior rival, o Bing 4,2%, e Yahoo! 3,37% (STATISTA, 2016). Não é de se surpreender que hoje seja inimaginável o mundo sem o Google, ou melhor, sem o Chrome para pesquisas online.
Quanto às redes sociais, reina a supremacia do Facebook. No Reino Unido, por exemplo, o Facebook representa 78% do mercado das mídias sociais (STATISTA, 2016). Fatia que deve ser semelhante em boa parte dos outros países. Além disso, o número de usuários ativos mensais do Facebook em 2015 atingiu a casa de 1,654 bilhões de usuários enquanto o número total de usuários de mídias sociais no mundo era 2,34 bilhões de usuários (STATISTA, 2016). Globalmente, em 2016, o Facebook é a líder em número de usuários ativos disparadamente, com 1,7 bilhões, seguida pelo WhatsApp com 1 bilhão de usuários, QQ Chat 899 milhões e várias posições abaixo Instagram (500 milhões), Twitter (313 milhões) e Snapchat (200 milhões) (STATISTA, 2016). Por último, para enfatizar a situação no Brasil, a taxa de penetração do Facebook é praticamente o dobro de qualquer outra mídia social no país (STATISTA, 2016).
Para ilustrar como é importante economicamente para as empresas de tecnologia exercerem influência sobre o conteúdo disponível a cada usuário, será ilustrado o caso do Facebook enquanto ainda um projeto de estudantes no campus universitário de Harvard. RIES; Eric (2011) expõe que o modelo de negócios a princípio era bastante modesto e sem absoluta certeza da fonte de receitas. As únicas premissas importantes eram o que o autor classifica como hipótese de valor e de crescimento, respectivamente: quanto mais atenção dos usuários for possível reter, mais as agências de publicidade estarão interessadas em anunciar na plataforma; e quantos clientes visitavam a plataforma mais de uma vez ao dia. Portanto, Zuckerberg sabia apenas que quanto mais atenção (buzz) tivesse na plataforma, mais as agências de publicidade estariam interessadas em fazer propaganda na plataforma, mas não sabia ao certo quanto estariam dispostas a pagar por um anúncio.
Ao somar estas duas premissas, que seria buzz em torno da plataforma e número de mais de duas visitas por dia, há um quadro interessante quanto a necessidade do Facebook de criar um ambiente virtual agradável ao usuário e que o entretesse pelo maior tempo possível dentro da plataforma. Afinal, WOLTON; D. (2014) já coloca a internet como uma mídia de demanda, ou seja, uma mídia na qual o usuário busca o conteúdo e assuntos de interesse conforme a própria necessidade, criando um sistema de participação que caracteriza uma mídia comunitária – dividem os mesmo interesses, mas não necessariamente se compreendem. Assim, o Facebook como uma rede social que está vinculada a internet deveria estar alinhado com a questão de demanda do meio e para cumprir esta lógica, fazia sentido programar um ambiente que atenda aos desejos dos usuários. Portanto, a teoria da bolha de filtro tinha nexo tanto economicamente por manter as pessoas mais tempo na plataforma e chamar mais atenção de agências publicitárias quanto ideologicamente por atender o quesito de demanda da internet.
O Facebook então se tornou uma usina de publicidade dirigida. Sobrepondo filtros em cima de filtros, o Facebook cria um circuito fechado o qual é acessível basicamente a um nicho de pessoas entendidas como “amigas”, que em geral compartilham das mesmas opiniões. A consequência é o desconhecimento de opiniões e pontos de vista divergentes, não sendo eficaz no fornecimento da complexidade das informações. É o caso da jornalista londrina que às vésperas do referendo do Brexit não tinha o menor conhecimento da onda favorável à saída da união Europeia, pois o feed do Facebook não trazia nada a respeito. Afinal, ela tinha feito parte de um documento em favor dos pró-europeus. A situação suscita a pergunta: “Facebook, uma ameaça a democracia?” (LE MONDE, 2016).
Um olhar crítico sobre a campanha presidencial nos EUA pode esclarecer o papel nefasto das bolhas de filtros das mídias sociais para regimes democráticos. Uma série de notícias e reportagens falsas inundou as redes sociais na campanha presidencial de 2016. O compartilhamento de artigos da web aparentemente sérios, mas incorretos, foi uma realidade nesta eleição. E o Facebook como um importante
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