Resenha Critica Liderando a Mudança

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O autor afirma que os movimentos sociais interagem com eleitores, não com clientes; sendo que a autoridade se baseia mais na moral do que numa coerção política ou econômica. Assim, podemos dizer que a relação pela qual são mobilizados os participantes não repousa em uma relação contratual e nem consiste a priori em uma obrigação, mas sim na motivação das pessoas que decidem participar. É preciso que as pessoas queiram participar – essa é a grande diferença.

O líder pode exercer um importante papel na motivação dos participantes. Ganz dedica um artigo a esse tema. Para ele, um movimento “conta uma história”, e o líder deve aprender a contá-la. Assim, ele fala da motivação por meio da narrativa pública. O autor recorre à psicologia, que, segundo ele, mostra que uma situação de insatisfação social só leva à ação se combinada com a crença na eficácia ou com o sentimento de esperança. Assim, para um sujeito empreender o sacrifício de destinar seu tempo e esforço a uma causa, comprometer-se e arriscar-se, a queixa deve ser vista como injustiça; e o movimento deve ser visto a partir do sentimento de que é possível mudar, de solidariedade e esperança. Logo, o discurso deve ir além de uma articulação de argumentos e reivindicações, envolvendo também uma energia moral e emocional: não basta apelar para o convencimento racional – os corações devem ser convencidos.

Assim, a história pessoal do líder pode gerar identificação nos participantes. Ela apresenta quem ele é e gera um vínculo entre o líder e os ouvintes, que, como espectadores de um filme, ficam presos à história do personagem, sendo inspirados e motivados por ela. Para Ganz, é melhor contar a história de vida do que ler um currículo. O autor menciona que esta estratégia foi adotada pela equipe de Barack Obama, que, num treinamento para militantes, dizia não ser necessário saber tudo sobre política, mas desenvolver a habilidade de contar suas histórias pessoais. Ganz ainda afirma que o ato de contar a história pessoal satisfaz a uma dupla necessidade: à necessidade de dividir suas motivações sociais e também à de motivar os outros para participar. Além disso, são reforçados os laços de solidariedade grupal.

O líder pode atuar promovendo identificação entre os membros do grupo; e do grupo com a causa em questão. Ele desenvolve esse trabalho por meio de discursos; da manipulação de frames (lendo situações sociais como injustiça, ou a partir do uso de linguagens filosóficas, religiosas, morais); do uso de símbolos, uniformes, ritos, tradições, eventos, etc.; e fomentando as relações interpessoais, a fim de que as pessoas se sintam como parte de um mesmo grupo, dividindo algo que têm em comum. Trata-se de uma importante tarefa, pois, como demonstra Ganz, é principalmente devido à motivação oriunda do sentimento de identidade coletiva que as pessoas são impelidas a participar.

“Liderar é aceitar a responsabilidade de criar condições que permitam que outros alcancem propósitos partilhados em face do incerto. Líderes aceitam responsabilidade não apenas por suas "partes" individuais do trabalho, mas também pelo "todo" coletivo. Líderes podem criar condições interpessoalmente, estruturalmente, e/ou processualmente”.

Apontamentos

O artigo visa chamar a atenção para a importância de tratar da liderança nos estudos sobre os movimentos sociais. Para tanto, a leitura busca apontar em que sentido a atuação do líder é relevante e quais as tarefas por ele desempenhadas. De forma mais ampla, trata-se de atentar para o papel da agência humana nos fenômenos sociais.

A leitura no faz pensar sobre alguns problemas que envolvem liderança e ação coletiva. Vimos que o líder desempenha importantes tarefas, que vão desde a parte administrativa até a parte propriamente política, seja no que diz respeito ao relacionamento com as bases ou às articulações externas. Nesse sentido, sublinhamos que um bom líder deve ser um bom estrategista, visto que precisa criar estratégias para mobilizar recursos materiais e humanos, além de conseguir apoio externo para o movimento, a fim de que este possa alcançar seus objetivos. Dessa maneira, buscamos mostrar que a atuação das lideranças se configura como um elemento importante, ou mesmo decisivo, para o sucesso do movimento. Os líderes desempenham importantes funções nos movimentos, e suas ações fazem a diferença dentro dos contextos nos quais estão inseridos. Assim, ressaltamos a importância do estudo da liderança nos movimentos sociais, assim como a necessidade da realização de estudos empíricos, a fim de observar como tais relações acontecem na prática.

É evidente que estamos muito longe de esgotar essa nova agenda de pesquisas sobre liderança que começam a orientar as pesquisas em Ciência Política, como mostram o trabalho de Ganz. Todavia, temos