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Resenha - A parte dos anjos e Eu, Daniel Blake

Por:   •  26/10/2018  •  1.237 Palavras (5 Páginas)  •  292 Visualizações

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Os personagens do filme são retratados de uma forma bastante realista com uma humanidade inerente a eles. A personagem Katie é literalmente jogada pelo Serviço Social em Newcastle, onde se encontra sem dinheiro, longe da família, sem qualquer amparo e sem emprego. E Daniel é retratado como um homem justo e trabalhador que viveu a vida inteira como um cidadão comum. Ambos os personagens são ingleses de nascença que vivem à margem da sociedade pela falta de humanidade do sistema capitalista.

Ken Louch, muito mais do que em A parte dos anjos, retrata de forma singular a eterna busca de se viver com dignidade, muda-se o cenário, mas os problemas são os mesmos. O maior destaque de Eu, Daniel Blake, é o retrato de uma sociedade que cria organizações para assegurar o bem estar social do cidadão comum, mas que não faz nada além de apontar essas pessoas como um fracasso e burocratizar o acesso aos benefícios do cidadão.

A cena em que Katie abre faminta uma lata de comida, não é apenas um recurso sensacionalista para prender o espectador, mas o retrato da miséria deflagrada nesse século, uma realidade que ainda é indiferente aos governantes, que não buscam solucionar o abismo social, criam mecanismos de disputa social, a partir de falácias discursivas como meritocracia, como se a disputa fosse justa aos mais pobres. O filme não propõe uma solução ou possui um final feliz, cumpre a pretensão de ser um espelho da realidade, uma realidade totalmente desesperançosa.

Além da crítica ao sistema, tanto Eu, Daniel Blake quanto A parte dos anjos, mostra como o próprio estado empurra o cidadão para a ilegalidade e para se manter à margem. Se por um lado, os jovens escoceses tentam uma nova vida a partir do roubo do whisy, por outro Daniel Blake que era um cidadão honesto desde sempre, se vê obrigado a vender produtos chineses ilegais. Sendo assim, há como pano de fundo em ambos os filmes o risco a integridade dessas pessoas, visto que para sobreviver cria-se mecanismo, mas nem sempre tais mecanismos disponíveis estará de acordo com a lei.

Por fim, ambos os filmes conseguem adentrar a problemas iguais em inúmeras partes do mundo. Isto porque o sistema tido como o que deu certo, ignora o cidadão comum e coloca a culpa no próprio cidadão, fazendo com que as lideranças não sintam o peso das mazelas dos países que comandam. Outra questão em torno do filme de Louch, é a aceitação dos pobres em torno da pobreza, tornando-os passivos em relação ao sistema, deixando o espectador ainda mais desesperançoso.

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