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Festa de Santo Antônio: O Limiar entre o Sagrado e o Profano; Religiosidade e Cultura Popular em Barbalha de 2000 a 2012.

Por:   •  7/11/2018  •  9.485 Palavras (38 Páginas)  •  446 Visualizações

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“Barbalha hoje tem uma manifestação cultural muito grande e muito importante, não só para a Região do Cariri como também para o estado do Ceará e por que não dizer para o Brasil. Nós já tivemos há três décadas atrás, aproximadamente cem grupos da cultura popular, onde nós tínhamos reisados, penitentes, bandas cabaçais, lapinhas, maneiro pau, são diversos grupos né? Que permeiam a cultura popular de Barbalha e hoje com a ajuda da Secretaria de Cultura nestas três décadas tem sido também de organizar os seus movimentos procurando da forma mais justa desenvolver um trabalho onde todos eles consigam mostrar essas manifestações da forma mais pura e mais interessante possível. Então a festa de Santo Antônio tem sido um dos momentos onde esses grupos buscam se apresentar e mostrar a sua tradicionalidade, a sua cultura a todos os turistas que aqui passam né? E que nos deixam um legado muito importante, porque todos eles vem em busca de fazer um documentário, registros e isso é muito importante na difusão desses grupos e da cultura popular de Barbalha.” [1]

Barbalha, nesta oportunidade, polariza a multiplicidade de manifestações culturais que se apresentam na festa do “Pau da Bandeira” onde ocorre mutuamente o sagrado e o profano, ou seja, no mesmo espaço e ao mesmo tempo existindo assim uma convivência entre os dois. É considerada a maior atração turística do município, com abertura por ocasião do cortejo do referido “Pau da Bandeira”, um mastro com mais de 20 metros, pesando em torno de 2,5 toneladas. O pau “sagrado” é transportado ao longo de nove quilômetros nos ombros de cerca de 200 carregadores, como forma de penitência e tradição, até ser fincado em frente à Igreja Matriz.

A festa de Santo Antônio teve início em 1928, ocasião esta que o Padre José Correia de Lima, vigário de Barbalha, motivado pelo costume do hasteamento da bandeira nas festas juninas instituiu o carregamento do mastro no qual seria hasteada a bandeira do padroeiro Santo Antônio passando a marcar a abertura dos festejos. Não é errôneo dizer que esta prática, em seu nascedouro, foi fomentada pelo grande missionário Padre Ibiapina, que durante algum tempo prestou serviços de caridade à população nas renovações e nas festas dos santos nessa Região Caririense. Desde o ano da sua criação, até os dias atuais, esse cortejo do pau-da-bandeira passou por diversas mudanças.

“O Padre Ibiapina quando passou aqui no Cariri em 1860 até 1870, na zona rural, nas fazendas e nos sítios, ele estimulava que se botasse um mastro com a bandeira do santo pra quem passasse na estrada vê, que ali tava vendo qualquer coisa. Tenho a impressão que essa daí foi a semente do costume de hasteamento de “pau da bandeira” em tudo que é de capela. Então Padre Ibiapina passou aqui em Barbalha por volta de 1860, vindo de Jardim a cavalo, desceu no Caldas e viu essa Região e se encantou com tanta belesa permanecendo aqui mais ou menos uma década.” [2]

Dentro dessas principais mudanças e da política de (re) valorização e de reestruturação da festa estão principalmente a construção do Parque da Cidade, onde seriam realizados os shows de artistas regionais bem como a recuperação dos grupos folclóricos que tiveram como desdobramentos a sua participação dentro da Festa de Santo Antonio. Agora eles faziam parte da festa participando do cortejo (desfile) pelas ruas da cidade. Para tanto, a prefeitura oferecia aos grupos a fabricação de suas indumentárias, afinal a celebração precisava está organizada e padronizada, isso tudo teve grande contribuição para a carnavalização[3] do evento religioso onde seriam mesclados elementos do sagrado e profano. Encontrando-se em um nebuloso eixo entre ambos os conceitos, o que sempre deu certos cuidados à Igreja Católica, de forma que, no momento em que se hasteia o Pau-da-Bandeira, as portas da Igreja da Matriz encontram-se fechadas. Essa carnavalização dos festejos religiosos que é encarado como o mais relevante aspecto de mudança ocorrido ao longo dos anos, com a contribuição das camadas populares da sociedade, sobretudo, por transformar o cortejo num momento festivo. Devido a esse fator a manifestação mencionada passou a ser encarada por alguns setores da sociedade como “profana” constituiu-se numa expressividade religiosa e cultural das camadas populares dentro da festa de Santo Antônio. Sendo assim, ela é profundamente marcada pelos valores da cultura daqueles carregadores do pau-da-bandeira, ou seja, aqueles que se “aventuram” desde o corte do pau; seu carregamento; até o seu levantamento e hasteamento da flâmula simbólica do “Santo Casamenteiro”.

A festa de Santo Antonio tem grande relevância social por se tratar de uma forma de expressividade da religiosidade popular intrínseca na sociedade envolvida sendo dotada de um valor imensurável para as pessoas que cultivam essa crença ao longo das suas vidas e a toma como referência. Visto que serve de padrão moral transfigurando todos os seus valores e sentimentos transmitidos de geração a geração tomando uma dimensão enorme e que envolve uma gama variada de pessoas das mais diferentes regiões do nosso país. Dessa forma, na época do festejo, ocorre um verdadeiro deslocamento de pessoas que transportam em seu “ser” diferentes histórias, ou seja, vivências diversas, mas que se assemelham pela busca do mesmo propósito mediante a fé e preceitos igualitários.

Dessa forma, o presente trabalho tenta contribuir para o crescimento e amadurecimento da sociedade com relação às questões centrais aqui abordadas, cuja problemática central reside na temática acerca da cerimônia do Pau da Bandeira na Festa de Santo Antônio de Barbalha tratar-se como sendo ou não sagrada. Portanto, o objetivo é elucidar e comprovar o equívoco de rotular, ou seja, colocar essa nomenclatura de profana a essa ou qualquer outra manifestação de caráter religioso sem levar em consideração princípios de cunho sócio-cultural como a alteridade entre as sociedades.

O limiar entre o Sagrado e o Profano na Festa do “Pau” de Santo Antônio de Barbalha

Na intenção de abordar alguns aspectos acerca da dimensão folclórico – artístico – cultural da festa de Santo Antônio, faz-se importante um breve retrospecto nas quatro últimas décadas enfatizando os pontos mais relevantes acerca das mudanças ocorridas nesse evento. Sendo assim, a partir da década de 1970, acontecerá a implementação de uma política nacional de turismo ligado à cultura e ao desenvolvimentismo, que instigou o poder público municipal a transformar Barbalha aos moldes de algumas cidades do interior do estado em referências culturais do Ceará.

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