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Espírito Militar - Um Antropólogo na Caserna

Por:   •  3/5/2018  •  1.919 Palavras (8 Páginas)  •  251 Visualizações

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Quanto às sete armas, Celso Castro as define muito bem. A Infantaria é considerada “a mais militar”, pois seus cadetes são rústicos, líderes e mais dados à ação do que ao estudo. Quando definidos pelos de outras armas, são chamados de burros. Aos cadetes da Cavalaria são reconhecidos como bagunceiros, cachaceiros, sujos, flexíveis e ágeis. São conhecidos por darem intimidade não só àqueles que entraram no mesmo ano, mas do segundo, do terceiro e quarto, sem se importarem com a hierarquia (o que pra os da infantaria seria “promiscuidade”). Os cadetes da Artilharia são o oposto da Infantaria: muito estudiosos, meticulosos, organizados, e “irritantemente calmos”, até mesmo no passo de marcha; por isso as duas armas possuem fortes rixas a ponto de certos cadetes serem presos e punidos por atos contra a arma rival. A Engenharia é chamada de “os infantes que pensam”, pois são dados à ação, mas também ao estudo, além de terem tarefas civis (como construções em locais perigosos como selvas ou comunidades muito pobres e isoladas) em épocas sem guerra. Por conta desse outro serviço tem a imagem de mais humanitários e são elogiados pelos elementos de outras armas. Porém sofrem um sutil preconceito étnico-racial, pois os que mais se atraem por trabalhar nela são os advindos do Norte que querem ter mais contato com sua terra ao final da Academia, e por isso são chamados de “os sem beleza”.

As quatro armas já citadas são as mais antigas e, portanto, tradicionaisda Aman, com patronos que Castro chegou a afirmar sobre uma “força evocativa” a eles; o que lembra da tentativa de reforçar a identidade, citada alguns parágrafos acima com um breve trecho de Mary Douglas, pois os militares que vieram a se tornar patronos tinham o estereótipo que é dado a sua respectiva arma. Já as últimas três: Intendência, Comunicações e Material Bélico (MatBel) são vistas como mais paisanas, menos militares, pois ficam na retaguarda. No caso da Intendência, cuidam do suprimento e das funções burocráticas (os “barrigudinhos”). As outras duas, “não fedem nem cheiram” para os outros cadetes, apesar de serem tão importantes para o bom funcionamento, quanto as outras. Ou até mais.

O Capítulo 3, como seu próprio nome diz, História da Aman, tem o objetivo de contextualizar historicamente o(a) leitor(a), mostrando a tragetória desde 1810, quando foi criada, até a época em que aconteceu o trabalho de campo de Celso Castro. A Academia passou por muitas modificações, como a idade e nacionalidade dos cadetes, a militarização, o tempo de duração da escola, exigência ou não de curso preparatório, a quantidade de paisanos estudantes, os métodos militares, a mudança de lugar físico da Academia, mudanças de nome e as decisões sobre se tornar ou não um internato. Somente em 1913 (103 anos após sua fundação) a Aman tomou os moldes pelos quais ela é retratada em 1990 por Celso Castro.

É interessante notar as opiniões de oficiais e cadetes de épocas próximas ao ano de 1913, pois 80 anos depois elas se tornariam jargões e até verdades como a noção sobre trotes e batismos e sobre “se casar” com sua Arma e o termo “promiscuidade” no sentido de não valorizar a hierarquia. E foi por essa época que começaram a surgir os símbolos, patronos e canções das Armas mais antigas. Vê-se a “invenção das tradições”, termo de Hobsbawm utilizado por Celso Castro para esclarecer um pouco mais sobre a construção do espírito militar. Ainda interessantes são as discussões sobre o internato, os trotes humilhantes e o termo “bicho” quando esses assuntos não eram máximas. Sobre isso, um oficial, não concordando com esses métodos chegou a dizer: “Já não sois estudantes! Sois escravos!”, sendo que em 1990 Castro não mostrou nem cadetes nem oficiais criticando isso a ponto de exigir reformas na Aman. Na verdade, há uma justificação com a motivação de manterem legitimadas essas práticas, em grande parte das entrevistas registradas no livro.

Ainda sobre o capítulo 3, Celso Castro relatou depoimentos de ex-cadetes, alguns dos anos 30 e outros dos anos 50, falando com certo saudosismo de suas épocas; em que os militares eram elite homogênea, tinham prestígio social e a Academia formou “uma verdadeira aristocracia física, intelectual e moral”, sendo que hoje há uma “proletarização do militarismo” o que fez que os militares perdessem o seu valor.

O Capítulo 4 – Os Cadetes e o Mundo de Fora retrata um pouco como os cadetes (principalmente os do quarto ano) se vêem nas relações com paisanos e com a possibilidade de se envolverem em ambientes civis ou até mesmo largarem a vida militar. Muitos se queixam de terem terminado namoros e amizades, de não terem podido fazer cursos fora da instituição e de terem a dificuldade de encontrar esposas com empregos disponíveis a mudarem de estado. Muitos afirmaram ter vontade de cursar em uma universidade civil “para expandir os horizontes”. Esse discurso chega a ser surpreendente, pois o que é imposto pela Academia através do espírito militar é exatamente o contrário: que a Academia já é o suficiente e que a faculdade civil não tem nada a acrescentar.

O último capítulo, Um Antropólogo na Caserna, tem a função de mostrar que métodos de pesquisa Castro utilizou e como conseguiu entrar na Academia com aparente tanta facilidade. Ele era filho de militar e escreveu uma carta afirmando isso além do pedido de autorização para poder conviver lá com os cadetes e oficiais. A facilidade foi aparente porque sua carta passou na mão de muitos pelo simples fato de que isso era tão novo que os oficiais não sabiam como proceder. Ao final, quando chegou ao superior, ele descobriu que esse superior já tinha lido textos de Antropologia e por isso se simpatizou com Celso. O antropólogo teve permissão para participar de um treinamento e até chegou a sofrer de amnésia antropológica, se esquecendo do seu intento em estar lá. Isso pode acontecer em qualquer situação intensa, presumo, porém pode reforçar a idéia do espírito militar. O fato de ele

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