Cosmonauta e ciência espetacular - Emanuel Galdino

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em mídias online alguma notícia na qual esses desenvolvimentos científicos foram mencionados. Acho uma única reportagem, com as mesmas informações minuciosas que me foram passadas pela comunicação da CSA, assinada pela repórter de ciência e tecnologia, Kate Allen, do jornal canadense The Toronto Star (www.thestar.com).

Será que os meios de comunicação não tiveram a mesma ideia de entrar em contato com a CSA ou preferiram insistir apenas no lado artístico e divertido de Hadfield? Até mesmo o Washington Post, que publicou uma matéria interrogando o que o comandante fazia de importante na ISS, não se deu ao trabalho de questionar essas supostas afirmações ao programa espacial canadense.

Ao tentar aproximar o conhecimento científico do público não especializado no tema, a imprensa optou por omitir fatos relevantes sobre a importância do programa espacial canadense. Falhou quando perdeu a oportunidade de transmitir uma compreensão mais consciente sobre o tema para sociedade e promover, dessa forma, uma discussão crítica sobre o papel da C&T. A população canadense, como pagadora de impostos e responsável direta pelo financiamento do programa espacial de seu país, assim como do desenvolvimento de pesquisas científicas e novas tecnologias, não recebeu toda a visibilidade necessária nesse contexto e deveria ser melhor informada de como seu governo investe na elaboração de programas que envolvem C&T.

O sistema midiático depende de um público cativo, acessos constantes, assinaturas e cliques para gerar lucros e se manter ativo financeiramente, como acontece em qualquer outro tipo de empresa comercial.

Ao analisar o caso do “Astronauta Pop”, fica claro que o “negócio jornalístico” abordou temas de interesse do público e deixou de lado o que seria de interesse público. Manter o equilíbrio entre essas duas partes não seria algo tão complicado assim, divulgando as características de showman na editoria de entretenimento e as descobertas científicas na seção de C&T. Hadfield tinha méritos para figurar em ambas.

Enquanto os meios de comunicação falhavam, Hadfield tratou de fazer a sua parte. Seu legado não está na utilização de redes sociais e mídias digitais como forma de divulgação científica e tecnológica, mas sim no seu papel como agente de popularização do conhecimento de C&T e difusor da Cultura Científica. O astronauta realizou uma série de seminários no espaço, todos reproduzidos pelo YouTube, no qual respondia a perguntas de estudantes do ensino fundamental sobre ciência, tecnologia e vida na estação espacial.

Sua contribuição pedagógica no que se refere à alfabetização científica e tecnológica iniciou com o apoio da CSA à ONG canadense “Let’s Talk Science”, que tem o intuito de ampliar a percepção dos jovens sobre C&T. O astronauta foi um dos responsáveis pela criação do programa “Project Sky Science” para inspirar e cativar a população jovem sobre a importância da ciência, tecnologia, engenharia e matemática.

Apesar de inegáveis críticas à forma como Hadfield se autopromoveu na web, de certo modo não seria correto negar sua participação em despertar um senso de curiosidade científica na sociedade, ao esclarecer fenômenos cientificamente estudados ao público leigo. Seus vídeos e mensagens talvez tenham motivado centenas de pessoas a realizarem buscas individuais por assuntos sobre ciência e tecnologia, informações sobre campo gravitacional ou até mesmo como são produzidas as pesquisas espaciais ao redor do mundo.

Embora não seja possível afirmar, seu trabalho como divulgador também pode ter aflorado a vocação do público jovem por carreiras relacionadas à C&T. Esse seria um dos principais benefícios ao se divulgar C&T, pelo pressuposto que o aumento no interesse pelas profissões ligadas a essa área seria fator determinante para a manutenção do próprio sistema de produção de pesquisas no âmbito científico e tecnológico.

Ao contrário da mídia que o apelidou de “Astronauta Pop”, Hadfield mostrou que a transmissão de informações científicas com intuito puramente educacional e o empenho para a formação de uma cultura científica são fatores capazes de transformar a sociedade. O conhecimento traz com ele a consciência, o esclarecimento, a discussão, a crítica e o interesse, aspectos que inseridos no cotidiano de uma população com poder de decisão podem direcionar o futuro do desenvolvimento de políticas públicas de C&T. A divulgação científica contribui democraticamente ao dar embasamento para a sociedade manter um pensamento reflexivo e agir de forma participativa sobre todo o processo de produção de C&T.