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Movimento alquímico e a vida

Por:   •  30/1/2018  •  4.971 Palavras (20 Páginas)  •  300 Visualizações

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O inconsciente é uma fonte de conhecimento que sabe do passado e do futuro, nele o espaço e o tempo se tornam relativos, quando não são reduzidos a quase zero, permitindo que os eventos sincronísticos aconteçam. VON FRANZ(1987)

A sincronicidade e a adivinhação estão relacionadas, ambas acreditam na união entre físico e psíquico e tem sua base na causalidade mágica, que repete em menor escala (microcosmo) o que ocorre simultaneamente na escala cósmica (macrocosmo). (VON FRANZ, 1998)

O tempo no modo sincronístico de pensar é central, pois é o momento crítico que une o físico e o psíquico e permite a visualização da realidade psicofísica. Esse é o tempo que une os opostos, é o tempo simbólico do fluxo consciente-inconsciente, onde o mais importante é o que acontece conjuntamente de maneira significativa e não o que acontece antes do que. (LAUREIRO, 1986)

“A simbolicidade é a forma do homem habitar no tempo, é um habitar lúdico e criativo como a brincadeira de criança, e portanto, é nosso modo de habitar simbolicamente esta terra, nosso modo de habitar poeticamente na alma.” (LAUREIRO, 1986, p. 93)

Os eventos sincronísticos ainda guardam um caráter mágico que nos impressiona e nos faz deparar com um novo e desconhecido mundo, um mundo regido pelo Self. Essa magia nos acompanha quando estamos envolvidos no processo analítico, onde no contato com o inconsciente encontramos mistérios e segredos que ao serem desvendados, revividos e reconstruídos vão nos transformando. (JUNG, 1986)

A alquimia é muito importante na psicologia do mais profundo, pois as imagens do processo alquímico descrevem as experiências de transformação do processo analítico, e do Processo de Individuação. Assim, afirmamos que Análise e Alquimia são processos análogos, visto que ambas, são um processo de experimentação, onde os elementos têm que ser submetidos a várias operações de transformação até que tudo possa ser organizado e reunido em algo uno.

A alquimia descreve um processo de transformações químicas no qual a matéria é submetida com o propósito de obter uma substância milagrosa, a Pedra Filosofal, o Elixir da Longa Vida. Os processos de transformação ocorriam dentro do vaso alquímico, que psicologicamente corresponde tanto ao próprio indivíduo que contém em si tais transformações, quanto ao ambiente de análise. (EDINGER, 1984)

A opus alchimicum (trabalho alquímico) é a imagem central da alquimia, é um trabalho pela busca do valor supremo; o objetivo do opus é criar a pedra filosofal, o elixir da vida, uma substancia milagrosa e transcendente, que é carregada de poder e tem efetividade energética capaz de transformar tudo que chegue próximo a ela, fazendo nascer a essência de cada coisa (multiplicatio). Na análise buscamos a individuação que também tem como objetivo chegar à essência verdadeira, à individualidade humana. Neste processo a consciência do indivíduo (Ego) que se relaciona com o próprio Self pode ser contagiosa e multiplicar-se, promovendo o desenvolvimento em si mesmo. (EDINGER, 1984)

O processo de Individuação, como a alquimia, é um processo de experimentação, exige entrega e coragem para experimentar as dualidades, as dúvidas, os tormentos, as quebras do ego, as tensões, para que em outro momento tudo possa ser organizado e reunido, transformado em algo uno. (CARVALHO, 2002)[5]

A opus é permeada por mistério e segredo, e isso deve-se ao fato de que os próprios alquimistas desconheciam o processo, pois esse era uma projeção inconsciente, diante da matéria desconhecida projetava as imagens que emergiam de sua psique, projetando seu próprio inconsciente na escuridão da matéria na tentativa de clareá-la.

Os alquimistas observavam o fenômeno interno (psíquico), através da manifestação externa (matéria), vivenciavam assim um evento sincronístico.

Para iniciar a transformação, primeiro é necessário o material adequado, a Prima Matéria, mas por ser o processo constituído de operações obscuras, é difícil dizer o que é essa prima matéria. Ela, e analogamente o material analítico, podem ser encontrados em qualquer parte. Como a própria angustia, é múltipla, tem inúmeros nomes, é indiferenciada e não tem limites ou forma definida, pois ela representa a substância portadora da projeção do conteúdo inconsciente.

Quando encontrada é preciso reduzi-la a seu estado original indiferenciado, o que também pode ser observado no processo analítico, onde aspectos rígidos, fixos da personalidade devem ser remetidos à condição original para que possam ser transformados. (JUNG, 1991)

Para compreender os aspetos obscuros da transformação psíquica (da alma) a que a obra o remetia, os alquimistas utilizavam, do ponto de vista psicológico, o mesmo método utilizado na interpretação de sonhos que é a amplificação, a ampliação e multiplicação da vivência obscura, até que a vaga insinuação possa ser compreendida. Tudo isto feito por meio de material psicológico associativo e analógico no vaso alquímico, tanto análise quanto no laboratório do alquimista e no processo de desenvolvimento natural da própria vida. (JUNG, 1991)

O sonho, sendo ’mensageiro’ do inconsciente, nos propõe, através de sua linguagem misteriosa, um mergulho nas profundezas de suas águas, onde da escuridão nasce a luz...

“(...) A morte é cotidiana. Nós a desposamos todas as noites.(...) Ela nos faz entrar em seu seio,(...) o qual contém as águas primordiais do inconsciente. Nele a nossa monotonia diurna cede o lugar a núpcia da sombra com a luz: nele as águas negras são atravessadas por raios que vêm de outro lugar, raios alternadamente celestes e infernais, que as fecundam e, se soubermos cultiva-lo, fazem eclodir nele o novo(...).” (PERROT, 1998, p. 60 e 61)

Quando se aprofunda na idéia da alquimia, percebe-se que na verdade tudo é a mesma coisa, se fôssemos falar o que o alquimista é, ele é o pesquisador, o experimento, a substância que é transformada, a própria transformação, ele é tudo.(CARVALHO, 2002)

OS CAMINHOS DA TRANSFORMAÇÃO: A Sincronicidade nas Fases dos Processos Alquímico e Analítico

“Logo no início você encontra o “dragão“, o espírito ctônico (...) os alquimistas o chamavam, o “negrume”, o nigredo, e este encontro gera sofrimento...(...) a matéria sofre até que o nigredo desapareça, quando a ”alvorada” (aurora) será anunciada pela “cauda do pavão” (cauda pavonis) e um novo dia amanhecerá, a leukosis ou albedo. Mas neste estado de “brancura”

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