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ANÁLISE CLÍNICA NA VERTENTE PSICANALÍTICA

Por:   •  26/9/2018  •  1.540 Palavras (7 Páginas)  •  304 Visualizações

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Em relação às políticas públicas de saúde, o abandono ou interrupção do processo terapêutico é apontado como uma situação com implicações sérias nas trajetórias de saúde dos indivíduos e com alto custo econômico e social (BUENO; CÓRDOBA; ESCOLAR; CARMONA; RODRÍGUEZ, 2001; WALITZER; DERMEN; CONNORS, 1999). Assim, a identificação das situações potencialmente associadas a um maior risco de abandono permite o desenvolvimento de ações preventivas tanto para o paciente como para o treinamento do profissional, orientando as ações dos programas em saúde mental.

A importância da clínica psicoterápica como um campo de intervenção fundamental no atendimento dos diferentes transtornos emocionais é reconhecida nos trabalhos e pesquisas acerca da eficácia das intervenções psicoterapêuticas (LEICHSENRING; HILLER; WEISSBERG; LEIBING, 2006). Entretanto, um aspecto continuamente identificado como necessitando de maiores estudos é a questão do abandono psicoterápico (ARNOW et al., 2007; MELO; GUIMARÃES, 2005; BUENO et al., 2001). O abandono em psicoterapia refere-se basicamente àquelas situações de interrupção do tratamento sem que haja indicação para tal encaminhamento por parte do terapeuta (LHULLIER; NUNES, 2004). Entretanto, ao se pesquisar sobre o tema são encontradas inconsistências em relação à definição conceitual de abandono, o que dificulta comparações entre os estudos. Por exemplo, em algumas

pesquisas utilizam-se critérios semelhantes na inclusão de casos em amostras, considerando-se abandono tanto as situações de sujeitos que nem iniciam o atendimento como as daqueles que o interrompem após comparecimento em determinado número de sessões (RENK; DINGER, 2002; BUENO et al., 2001). Além disto, os estudos se utilizam de delineamentos diferentes para a identificação dos fatores associados à continuidade das terapias encontrando resultados inconsistentes, fator que prejudica a busca de bibliografia e a sistematização dos resultados dos trabalhos (ISSAKIDIS; ANDREWS, 2004).

Considerando tudo isso, também no caso clínico aqui exemplificado, pode-se presenciar tal contexto, no qual L., foi recebido e ouvido sem com que houvesse muitas intervenções por parte da estagiária, deixando com que o cliente falasse quase o tempo todo.

A queixa inicial do cliente quase sempre demanda uma palavra de cura. Ele espera pela ajuda de alguém, pois acredita que o outro sabe algo sobre seu sofrimento, podendo trata-lo. Assim, esse período preliminar serve também na investigação dos reais motivos que levam o paciente àquela consulta.

O pedido de ajuda é muito claro nos atendimento de L. Sua queixa inicial trata-se de angustia, ansiedade e medo. L. também relata constantemente sobre sua falta de iniciativa, muitas vezes justificada pelo “medo de errar”. De acordo com Lacan, há apenas uma demanda verdadeira para se dar início a uma análise: a de se desvencilhar de um sintoma. No caso de L. aqui exemplificado, é observado esse desejo de se desvencilhar das angústias e dos medos.

Torna-se também necessário a realização de um diagnóstico diferencial, em particular, entre neurose, psicose e perversão, na medida em que a forma de conduta frente ao caso se torna diferente para cada uma dessas estruturas clínicas.

Quinet aput Freud (1991, p. 20), diz que

L. está em um relacionamento amoroso há cerca de um ano, onde relata não estar satisfeito, mas “não consegue" romper com a namorada, pois diz ama-la. L. a conheceu em uma casa noturna (Zona), e se refere a ela no momento em que conta à estagiária sobre seu relacionamento usando o termo “garota de programa”.

Freud no seu texto " Um tipo especial de escolha de objeto feita pelos homens" esboça uma reflexão sobre como se dão as escolhas amorosas no homem neurótico. Esse tipo de escolha costuma obedecer a algumas condições. A primeira precondição, ainda segundo Freud (1910) diz que deve existir uma terceira pessoa, quem ele quer é uma mulher comprometida com outro homem, e ao mesmo tempo a sua escolha recae sobre uma mulher sobre a qual possa exercer o seu "direito de propriedade". A segunda precondição é talvez menos freqüente, mas não menos digna de nota, Freud (1910) entende que:

Deve-se encontrar em conjunção com a primeira para que o tipo se configure, enquanto a primeira precondição parece ocorrer muito amiúde, também, independentemente. Consiste a segunda precondição no sentido de que a mulher casta e de reputação irrepreensível nunca exerce atração que a possa levar à condição de objeto amoroso, mas apenas a mulher que é, de uma ou outra forma, sexualmente de má reputação, cuja fidelidade e integridade estão expostas a alguma dúvida. Esta última característica pode variar dentro de limites substanciais, do leve murmúrio de escândalo a respeito de uma mulher casada que não seja avessa a namoricos, até o modo de vida francamente promíscuo de uma cocotte ou uma profissional na arte do amor; mas os homens que pertencem ao tipo que descrevemos não ficarão satisfeitos sem algo desta espécie. Pode-se designar esta a segunda condição necessária, de maneira um tanto crua, `amor à prostituta.’

REFERÊNCIAS

QUINET, A. As 4+1 Condições da Análise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editora, 1991.

FREUD, S. Recomendações aos médicos que exercem a psicanálise. In: Obras Psicológicas Completas de Sigmund Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996, p. 123-133, Vol. XII.

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