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A Magia das Palavras

Por:   •  19/8/2018  •  5.689 Palavras (23 Páginas)  •  392 Visualizações

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são os trabalhos que demonstram que a diferença deste discurso fica cada vez mais evidenciada, onde a objetividade e, de certa forma, a objetividade da fala do profissional médico acaba criando barreiras e distanciamento entre ele e aquele que recebe o tratamento, caracterizando um cenário de hierarquização e onde a responsabilidade pela sua cura e tratamento ficam, exclusivamente, na mão do médico. E quando o médico diz ao paciente que não há como determinar uma patologia, grande frustração pesa sobre aquele que buscou tratamento e suplantar um processo que lhe incomoda e assusta.

Porém, é importante deixar claro que este trabalho não objetiva contrapor ciências ou dizer que há uma abordagem certa ou errada, muito menos por para duelar profissionais tão importantes dentro do hospital. Quer-se explicitar que, em determinadas situações, há a necessidade de se escutar o paciente e coloca-lo como parte ativa na busca pelo seu diagnóstico. Faz-se necessário abrir canais de comunicação horizontais e diretos para que o paciente possa minimizar sua angústia.

Assim, este trabalho adotou a metodologia de relatar e acompanhar, o caso de uma paciente em situação análoga a esta e evidenciar como isto repercute em sua vida e como outros problemas podem surgir.

O atendimento não recebeu um pedido, nem dos médicos, nem da enfermagem, parecendo dessa forma não haver nenhuma preocupação dos profissionais que compõe o campo médico, deixando claro nesse caso que a equipe só iria se interessar por aquela paciente quando ela tivesse um diagnóstico em seu prontuário. O que me chamou atenção foi pensar, afinal, porque o paciente só é tratado a partir do diagnóstico? Sem diagnóstico ele é praticamente inexistente enquanto alguém que possa ser tratado?

Buscou-se observar, in loco, como o discurso (ou sua falta) pode causar traumas psíquicos e incertezas ainda maiores a quem já está em posição de fragilidade.

Através de levantamentos bibliográficos realizados, tendo como base a teoria psicanalítica, o presente trabalho surge a partir da reflexão sobre a importância da palavra, capaz de alcançar uma função organizadora, diante de um período longo de internação em um caso sem diagnóstico médico. Crê-se que o papel do psicanalista é essencial em momentos assim e que o diálogo entre instituição e tratado deve ser transparente e simples.

2. APRESENTAÇÃO DO CASO CLÍNICO

O caso foi acompanhado no período de estágio obrigatório da pós-graduação em Psicologia Hospitalar do Hospital Israelita Albert Einstein, realizado no Hospital Municipal Vila Santa Catarina Dr. Gilson de Cássia Marques de Carvalho, situado na Zona Sul da cidade de São Paulo.

A história de J. acontece no contexto hospitalar, que chegou até mim sem um pedido médico, e foi possível a realização de quatro atendimentos até o momento de sua alta médica.

Relato do Caso: o paciente Paciente J., procurou o serviço médico por apresentar evacuações frequentes e líquidas. Já havia relatos de histórias semelhantes a essas no decorrer de sua vida. Trata-se de paciente do sexo feminino, adulta, sem filhos, casada e não exercia atividade remunerada.

Queixas apresentadas pelo paciente: A queixa inicial apresentada pela paciente foi a dificuldade de não saber de seu diagnóstico frente a 8 dias de internação, sendo dois deles em isolamento por suspeita de doenças bacterianas contagiosas, gerando preocupação, angustia e ansiedade. Durante os atendimentos relatou uma história de vida permeada por uma rotina tranquila que se resumem a cuidados de casa e com seu marido, ao qual o acompanhava diariamente durante o período de hospitalização. Não foi observado nenhum fato significante em seu histórico. Foram realizados quatro atendimentos que sempre eram em torno da dificuldade que ela trazia em lidar com o fato de não saber o que estava acontecendo com seu corpo, por cada dia ter uma suspeita de um novo diagnóstico e nenhum realmente aparecer nos diversos exames que eram realizados diariamente, para que ela pudesse ter um nome de sua patologia e assim entender o que estava acontecendo com seu corpo.

Diante do relato de caso apresentado, foram levantados alguns questionamentos que permearam os atendimentos. J. dava extrema importância ao nome que teria sua doença, ou seja, o seu diagnóstico, mas afinal por que era tão importante o diagnóstico? Por que a falta dele lhe causava tanto mal estar? Por que ela supunha que um diagnóstico aplacaria esse mal estar? O que estava suposto nesse diagnóstico tão requerido?

Para percorrer isso que foi recolhido durante os atendimentos farei um percurso pela escrita que pretende dar elementos para aproximar-se disso que foi escutado da paciente J., ou seja, aquilo o que lhe faltava e que ela pedia.O percurso será iniciado, primeiro, com a tentativa de definir o diagnóstico médico. Qual função do diagnóstico? Qual a diferença do diagnóstico para a medicina e para a psicanálise? E por fim, o que há de tão funcional e tão mágico nas palavras?

3. MEDICINA X PSICANÁLISE: OS DIFERENTES DISCURSOS PARA O DIAGNÓSTICO

No ambiente hospitalar a predominância do discurso é o da medicina. Quando as pessoas vão a um hospital procuram aplacar seu mal estar relacionado ao funcionamento orgânico, e o campo da medicina procura responder a essa demanda diagnosticando, medicando e prognosticando

Aspecto relevante e que merece o devido destaque é o fato de que, em um ambiente hospitalar, deve-se deixar bastante claro e delineado os limites da Psicanálise e da Medicina, observando que cada área ocupa um espaço específico para clinicar no que for necessário. Este conceito é corroborado por Moretto (2001), que ainda ressalta que o encontro entre as áreas é inevitável e que seus discursos têm papel decisivo no processo de recuperação do paciente.

A principal diferenciação que pode se inferir entre o psicanalista e o médico, quando clinicam, é o discurso que praticam, como parte intrínseca aos seus processos de formação e de atuação profissional. Enquanto um parte do pressuposto que somente os dados e informações provenientes de um método que privilegia a constatação empírica e a produção de evidências claras e objetivas, um busca traçar paralelos e indícios a partir da subjetividade humana.

Justamente por essa diferença, o que sobra do campo médico, dá a possibilidade de trabalho no campo da psicanálise.

Sobre a prática

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