A Construção Social da Loucura
Por: Hugo.bassi • 27/10/2018 • 1.559 Palavras (7 Páginas) • 436 Visualizações
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Não podemos comparar o sofrimento de ambos e fazê-los se confrontarem em relação a isso. O indivíduo localizado no Brasil afirmaria que a vida que o segundo indivíduo leva enquanto encarcerado é muito melhor e mais fácil do que a dele, mas, para esse segundo indivíduo, aquela é a sua realidade, e para ele, ela continua sendo desagradável, mesmo havendo pessoas em condições piores.
Alguém, digamos, de classe média, que reclama por não ter o que comer em casa, quando na verdade apenas algo que ele deseja não está disponível, não pode se equiparar a alguém que reclama por não ter o que comer porque mora na rua, pois são “realidades” completamente diferentes, com indivíduos e seus “conhecimentos” também diferentes.
Para entendermos o louco, devemos nos manter cientes o tempo todo de que a “realidade” dele é, às vezes até extremamente diferente da nossa (Nós, que somos considerados ‘normais’ na sociedade em que vivemos). Nossa “realidade” se associa bastante com a ideia de ‘rotina’: Estamos sempre fazendo a mesma coisa constantemente, até algum evento quebrar essa rotina momentaneamente, estabelecendo uma nova. O louco não possui rotina, suas ações não são tomadas com base no que se estabelece como Ato Racional, o que já o destaca do restante da sociedade. Ainda, a sua infraestrutura é de forma alguma semelhante à nossa, o que o faz ter uma superestrutura completamente diferente do comum.
Nós temos o costume de banalizar e, muitas vezes, romantizar a loucura, adotando o termo para diversas coisas que não os casos clínicos de distúrbio. Falamos que estamos loucos de amor, de raiva, de excitação e de felicidade de forma aberta, mas isso não significa que estaria sendo errado de forma errada. A Loucura é uma alteração do estado mental que faz com que o indivíduo passe a tomar decisões que não estão relacionadas à razão comum, o que realmente ocorre em determinadas situações com pessoas que não têm um diagnóstico na loucura.
Ainda temos a necessidade do ser social de fugir de sua realidade, seja através de mudança de rotina ou da utilização de substâncias que alteram o estado humano de consciência. Como afirma o filósofo Osho, “Ficar louco de vez em quando é necessidade básica para permanecer são”. Ao referir-se ao ato de ficar louco como necessidade básica, problematiza-se toda uma gama de motivos para tal. Os problemas em geral do ser humano (sejam eles financeiros, de relacionamentos ou pessoais) demandam uma certa cautela em seu lidar, dependendo da intensidade do problema (e veja intensidade de problema como uma criação de “realidade” definida por cada sociedade e cada indivíduo diferente). É em casos como esse que vemos que o termo “loucura” realmente não precisa necessariamente ser relacionado ao diagnóstico psicológico de alguém.
A Loucura como diagnóstico psicológico pode ser desencadeada por uma grande gama de motivos, e vemos relacionados a esses motivos situações que ocorrem devido à “realidade” na qual o diagnosticado como louco está inserido. Experiências inesperadas, traumáticas ou simplesmente impensáveis são os usuais gatilhos para o desencadeamento de um quadro de loucura, e tais experiências são relacionadas, pelo indivíduo, com algo que esse já tinha em mente previamente, e, quando mixadas essas ideias e percepções, começa-se o surto. A “realidade” do louco passa a ser uma totalmente diferente da qual ele e todos aqueles à sua volta estão/estavam acostumados.
As famigeráveis alucinações, tanto visuais quanto auditivas, podem vir a ser resultado de uma gama de desejos que estavam reprimidos pelo agora, louco. Porém, mais comumente, são distorções completas da realidade, com uma mudança brusca de comportamento e uma linha de raciocínio nova, extremamente aleatorizada. Pode-se ainda, hipoteticamente, com a teoria da Dissonância Cognitiva, de Leon Festinger, que diz que as ações de um indivíduo são condicionadas pela sua capacidade de conseguir realizar tais ações. Podemos tomar como exemplo a Fábula de Esopo A Raposa e As Uvas, onde, desejando comer as uvas de uma árvore que estavam muito altas e não obter sucesso em alcançá-las, o interesse foi perdido. Como isso relaciona-se com a loucura é simples: o fato de as alucinações distorcerem a “realidade” do louco fazem com que seus desejos causados por alucinações seja ignorado, ou, em situações extremas e completamente opostas à teoria, ele tenta por criar toda uma forma de alcançar o inalcançável, causando, dessa forma, dano a si mesmo e, muitas vezes, aos seres ao seu redor e em sua área de influência.
Como dito antes, não se pode ignorar a “realidade” na qual o louco possui “conhecimento”, pois, mesmo não sendo a aparente “realidade” verdadeira para quem não se faz louco, para tais indivíduos, essa distorção acaba por se tornar sua rotina, com sua adaptação automática, seja ela benéfica ou maléfica (no sentido comportamental do distúrbio). Chamado como for (“realidade”; “superestrutura”), é inegável o fato de que cada ser possui uma concepção própria do mundo à sua volta, e ainda, a sua percepção desse mundo, o que o forma para sua tentativa e provável sucesso de inserir-se em determinado mundo.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O aproveitamento deste trabalho dá-se pelo entendimento das fases e faces da loucura, a perda do preconceito com o desconhecido e, especialmente, o adquirimento de um olhar crítico sobre toda e qualquer situação
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