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Resenha: Ritual e Permanência de meninas que jogam bola em instituição pública de lazer

Por:   •  20/12/2018  •  1.559 Palavras (7 Páginas)  •  449 Visualizações

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reafirmação de outras feminilidade possíveis, mais próximas de suas individualidades. Com essas descobertas, optou-se por analisar especificamente a turma de futebol, pois, além das características comuns com as outras turmas de ECC, era a única turma exclusiva de mulheres, e na qual, mais notadamente, o estigma de masculinização se efetivava.

Para os gestores do projeto eram as crescentes acusações de comportamentos inadequados e condutas homossexuais, feitas por usuários e profissionais do local, como resultado da mediação entre as praticantes (que não queriam perder o espaço) e os gestores (que precisavam de uma resposta para o problema), algumas mudanças ocorreram, as principais sendo: pautar as aulas pela iniciação esportiva, ao invés dos jogos; Optou-se pela análise indutiva aplicada ao estudo etnográfico, atentando para os desvios existentes nas regularidades construídas, como “indícios que precisam ser teoricamente explicados e incluídos como parte da história” (BECKER, 2007).

O desafio o para esta pesquisa foi analisar como se constitui esse processo de seletividade e seus resultados, que redundaram na permanência de apenas algumas mulheres na prática do futebol.

O convívio do grupo ia além da atividade esportiva, mas eram notórias, na rede de relações, ações em duplas entre elas, ou de uma delas com uma novata, tanto no jogo quanto nas demais interações do grupo com a prática do futebol. Falar baixo sem expressões agressivas, rir pouco, não comentar as jogadas das iniciantes e cumprir as exigências dos exercícios de fundamentos propostos pelo professor eram atitudes que tomavam relevância nas aulas em que uma delas estivesse presente.

As veteranas com trânsito livre nas aulas tinham uma aparência menos destoante do modelo feminino tradicional e um nível de escolaridade maior do que aquelas que desistiram de retornar; As novatas que participaram de mais de seis aulas tinham idade similar à das líderes (18-24 anos) e desempenho atlético com- patível para acompanhar o jogo. A integração ao grupo, para as praticantes com idade semelhante à das líderes e competência para jogar, dependia quase exclusivamente de iniciativa própria e resistência ao ambiente emocional desfavorável.

Tendo como contexto a relação do indivíduo na metrópole, o autor afirma que a ocupação profissional e o lazer são especialmente importantes para visualizar as etapas do ciclo da vida moderna. O autor alerta que esses ritos nem sempre seguem uma ordenação intencional e institucionalizada, podem também não ser completamente conscientes, mas acarretam uma nova combinação na vida, com seus consequentes riscos e alegrias para o indivíduo. No caso do presente estudo, a passagem pelo ritual de entrada das pretendentes tornava-se imperativo para que elas continuassem a carreira de praticantes de futebol na turma. Essa etapa se caracteriza por um duplo processo de transformação do indivíduo: a apropriação das normas e símbolos comuns do grupo e a consolidação do futebol como um elemento constituinte do seu estilo de vida e de sua identidade.

A quarta etapa é a dispersão, quando, em alguma das etapas anteriores ou após todas elas, a praticante não conseguiu, ou não quis, continuar seu projeto individual de pertencer ao grupo. A amostra apresentou significativas distinções em categorias como classe social, raça, idade, escolaridade, desempenho atlético e estilo de vida, mas nenhuma se mostrou, isoladamente, su ciente para garantir a permanência. Entretanto, praticantes com estilos de vida diferentes e percebidas como de classe social inferior à das líderes conseguiram perseverar e permanecer no grupo, por jogarem bem e por se conformarem no limite das normas impostas por elas. Apenas participar de um grande número de aulas também não garantia a participação na turma, pois as veteranas com afinidade com as líderes detinham mais chance de participar e permanecer que as demais novatas que perseveravam por muitas aulas.

Conclusão

As praticantes que permaneceram demonstraram competência em equalizar suas identidades para acompanhar o grupo das líderes ou em aceitar uma espécie de “adaptação secundária” que lhes garantia algum espaço, mesmo que não o melhor espaço.

Observa-se, no entanto, que a grande seletividade para entrada na turma estudada foi feita pelas próprias praticantes veteranas do local e que isso se relacionava com a preservação delas e do espaço privilegiado de prática do esporte.

Entretanto, para aquelas que, inicialmente pelo gosto e competência, permaneceram nas modalidades de tradição masculina, o estigma funcionou como espaço de contestação do modelo tradicional de feminilidade e de valorização da agressividade e da camaradagem, como marcas de uma identidade afirmativa. Elas precisavam garantir a existência do es- paço para jogar, minimizar o estigma imputado a elas, bem como construir alternativa para que pudessem, mais que em outros locais públicos, vivenciar suas identidades transgressoras com maior fruição.

Referências

DUNNING, E. O desporto como uma área masculina reservada: notas sobre os funda- mentos sociais da identidade masculina e

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