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Tecnicas psicotenicas tecnicas

Por:   •  29/4/2018  •  5.267 Palavras (22 Páginas)  •  272 Visualizações

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A propaganda infantil consegue ser até hoje um mercado lucrativo. Não tenha dúvidas que empresas que lucram bilhões por ano só conseguem isso porque seu filho de cinco anos está ávido em frente a tela sendo convencido de que ele precisa de determinado objeto pra sobreviver. No comercial, que eu lembro com detalhes até hoje, um garoto acordava pela manhã com a maior preguiça do mundo: Tropeçando nos próprios passos, o cabelo todo bagunçado e o pijama cheio de dobrinhas. A mãe já estava com o jeito típico de todas as mães de comerciais: Maquiagem feita, olhos lindos, cabelo deslumbrante e um super sorriso ao abrir a janela do quarto, o que pra mim sempre foi uma crueldade – Ela estava realmente se sentindo deliciada por acabar com o sono do pobre filhinho que não tinha energia alguma pra sequer andar direito.

Ele então pega a escova de dentes e no instante que faz isso, parece que o mundo inteiro para apenas por aquele momento especial: Uma energia maluca toma conta do então preguiçoso e o garoto que estava tropeçando até dois segundos atrás simplesmente parou de existir. Não sei se pra você isso está claro, mas uma criança de seis anos vai absorver absolutamente tudo o que ver. Comigo não foi diferente, é claro: Eu imaginei que com uma escova daquelas a minha vida mudaria completamente pra melhor. Eu não acordaria cansado pra ir pra escola, seria forte e nem precisaria tomar café da manhã mais. A imagem que o comercial tentou passar foi certeira pra mim: Se eu queria ser o garoto mais popular, forte e destemido do colégio; se eu queria impressionar todos na rua e se queria ter uma força de gigante, a fórmula era mais do que simples – Eu precisava escovar meus dentes com a escova superespecial de dinossauro.

Eu nem preciso dizer que minha mãe não compartilhou desse sentimento. Por uma razão completamente desconhecida, ela não conseguiu acreditar em como aquela escova seria a premissa de um filho diferente que ganharia em troca. Ela não conseguia compreender a magnitude de se ter um objeto que mudaria por completo a minha personalidade e fiquei muito magoado por isso – Se eu não tinha a ajuda daqueles que me amavam, a explicação era porque todos tinham medo de dar o poder nas minhas mãos.

Cheguei a quase adoecer por conta daquilo. Eu não apenas queria uma, como sentia que minha vida inteira não teria o menor sentido se não ganhasse. Foi então que cheguei na escola determinada manhã e me deparei com a professora Marina.

Marina era o tipo de professora que me causava imenso medo. Até hoje, quando paro pra pensar nas três semanas em que ela substituiu a nossa titular, fico completamente chocado. Não sei se sou o único da minha turma que se lembra dela até hoje, mas vou dizer a mais absoluta verdade: Essa mulher precisa ser impedida de lidar com crianças, se ainda estiver lecionando. Marina tinha um senso de humor que não era compativel com o nosso. As piadas pareciam muito engraçadas pra ela, mas nossas cabecinhas ficavam procurando sentido. Eu já tinha ouvido alguns palavrões aos seis anos e sabia muito bem reconhecer quando alguém falava um. Certo dia, Marina atendeu um telefonema na classe e quando desligou, pude ouvi-la claramente dizendo:

— É uma grande filha da puta mesmo.

A onda de reconhecimento daquele palavrão em específico causou em mim uma onda de choque que percorreu todas as minhas veias. Não tínhamos autorização pra falar palavrões daquele tipo dentro da escola, pra falar a verdade não tínhamos permissão pra falar em lugar algum. E por saber que era errado, fiquei impressionado ao ver a nossa professora dizendo algo tão feio e dentro da escola.

— Você falou um palavrão? — Perguntei. Eu estava sentado como sempre na primeira fileira e sozinho. Por alguma razão que eu não sabia, as outras crianças não gostavam de se sentar perto de mim e isso não mudou muito até o colegial. — Ouvi você dizendo um.

Com uma expressão de horror, exatamente como uma pessoa ofendida faria, ela retrucou com a mão no peito:

— Eu jamais falaria um palavrão, Cleber. Você entendeu errado.

— Mas eu ouvi você dizendo. — Insisti — Você disse filha da puta.

Minha frase causou um verdadeiro furor na classe. Todos emitiram sons surpresos por terem ouvido aquela coisa tão feia saindo da minha boca.

E novamente aquela expressão de horror tomou forma: Olhos saltados das órbitas e a boca se abrindo em uma enorme letra O .

— Bem, eu não disse isso e jamais diria. — Explicou — Eu apenas disse que a minha cadelinha é uma filha da pluta. Você conhece a pluta?

— Não. — Respondi.

— Ela é a esposa do pluto. Pluto é o cachorro do Mickey. Eles tiveram um filhotinho lindo e de orelhas pontudinhas. Eu comprei um e agora a minha mamãe me ligou dizendo que estão querendo levá-la embora. Parece que alguém não acredita em mim. Por isso eu disse que sim, a minha cachorrinha é uma filha da pluta mesmo. Porque ela é, juro que é!

Crianças geralmente acreditam em tudo o que adultos contam, mas por alguma razão aquela explicação não desceu pela minha garganta. Ficou entalada como um carocinho incômodo, uma lasquinha de amendoim que fica presa. Talvez pelos olhos maldosos dela – eu estava acostumado com atuações fingidas porque adorava os vilões de todas as novelas que assistia - , talvez pela desculpa esfarrapada que havia sido inventada quase na hora.

Outra vez ela repetiu a palavra puta em classe. Parecia que eu era o único a pegar aquelas falhas miseráveis da Marina, mas a explicação não era tão complicada, se eu for avaliar bem. As ligações que ela fazia aconteciam apenas quando todos estavam entretidos com suas intriguinhas, brinquedos super legais e revistas de colorir e me deixavam sozinho. Eu não tinha nada de interessante pra fazer, então apenas observava tudo a minha volta. Foi quando meus olhos e ouvidos pegaram o momento exato dos lábios dela se mexendo e dizendo com todas as letras:

— Ela é uma bela de uma puta. E É SÓ ISSO QUE EU TENHO A LHE DIZER.

A segunda frase foi dita com um ódio muito grande, uma raiva que a fez bufar como um boi irado. Fiquei inquieto na minha mesa e esperei por apenas cinco minutos, o máximo que aguentei, antes de irritá-la:

— Quem é uma bela de uma puta?

Minha memória é muito

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