Fichamento filme onze homens e um segredo
Por: Evandro.2016 • 22/4/2018 • 1.619 Palavras (7 Páginas) • 431 Visualizações
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Apenas o jurado de número oito discordou do resultado por não ter nenhuma certeza, mesmo após seis dias de julgamento e análise de provas testemunhais e materiais, para formar a convicção de culpabilidade ou inocência do réu. Aliás, o termo utilizado por este jurado, “não culpado” ao invés de “inocente” deixa transparecer o tempo todo que ele não possui evidências da inocência do réu, mas também não tem evidências da culpa do mesmo, restando a “dúvida razoável” que, no caso, se tornará a causa de absolvição do réu (esta é a base de sua argumentação durante todo o filme).
Em sua concepção, o bem em discussão é de muito valor - a vida de alguém – e, portanto, não pode ser simplesmente decidido de forma tão precária, displicente e vã, mas sim exaustivamente debatido para se chegar à uma conclusão pautada em argumentos plausíveis. Testemunhos dados sob juramento e mesmo provas materiais podem ser passíveis de falhas, ao menos de interpretação e contextualização (um exemplo é o canivete, ao qual atribuíram o fato de ser único e na verdade, não era).
Durante a tentativa do jurado de número oito demonstrar seus pontos de vistam fatos, conceitos que suscitam dúvidas quanto à verdadeira autoria do delito, vão ocorrendo paulatinamente, mudanças nas formas de pensamento dos demais jurados que, ainda que inconscientemente, começam a maturar suas idéias.
A cada mudança de opinião de um jurado, fica claro, mediante os argumentos empregados e o seu próprio posicionamento, alguma característica pessoal deste jurado, quer seja sua idade avançada, a timidez, a origem humilde, a condição de imigrante, os conflitos familiares, enfim, detalhes que o fazem rever seus posicionamentos e também provocam nos demais a necessidade de rever seus conceitos, quer seja, para inicialmente sustentar a posição inicial ou até mudar de opinião.
Neste momento do filme, ou seja, durante o processo de discussão e argumentação, com a retomada da análise de provas materiais, com a dicotomina inicial entre o jurado de número oito e os demais que ao longo do filme, leva a um equilíbrio de ideais entre estes até a inversão final de idéias, durante o qual são propostas novas votações, surge um vasto campo para estudos psicológicos.
Logo de início podemos notar o peso da emoção sobre a razão, ao observar o jurado de número dois, que desprovido de argumentos desde o início, tenta prevalecer sua ideia de que o réu é culpado empregando uma forma agressiva de comunicação, com tom de voz elevado e postura acintosa, como se isto desse estofo às suas ponderações destituídas de fundamentação.
As influências da emoção, também podem ser visualizadas na formação de idéias e na recuperação da memória em relação àquilo que foi ouvido e visto durante o julgamento, assim como de memórias pessoais e de infância (dois exemplos interessantes de como a emoção pode influenciar na interpretação de um fato ou no resgate de memórias que se pode citar neste momento são: o da testemunha que julga entender que o filho grita que vai matar o pai e o mata efetivamente para cumprir o que ameaçou e o do jurado que resgata suas memórias de infância vivida em um meio violento ao lembrar como se manuseia um canivete).
A “Síndrome de Pirandello” fica demonstrada quando o jurado de número oito demonstra que o testemunho da testemunha principal, ocular do fato, também tem a veracidade comprometida pois preenche as falhas visuais com a própria imaginação (no caso, o que ela não consegue efetivamente ver pela passagem do trem, ela imagina que viu e inconscientemente agrega realidade a esta visão).
Além disto, os mecanismos defesa do ego também são acionados inconscientemente para sustentar a argumentação e a posição contraria aos demais, como no caso do jurado agressivo, que apenas se dirige aos outros em voz alta, como se o volume da voz pudesse dar o estofo para sua posição em detrimento da argumentação. Este jurado demonstrou várias vezes o mecanismo de projeção, ao projetar no réu as características que o desagradavam em seu próprio filho.
O jurado de número doze, com seu comportamento infantil, deslocava a falta de interesse pelo assunto debatido por desenhos, jogos (como o jogo da velha), entre outros meios de distração.
Estes foram apenas alguns pontos de interesse ressaltados, porém, há muito mais tópicos que poderiam ser trabalhados nesta película de apenas noventa e cinco minutos.
Outro fato interessante em relação ao filme estudado tem relação ao mecanismo de “figura-e-fundo”, magistralmente trabalhado pelo roteirista onde, em um primeiro momento, a figura seria a argumentação e deliberação sobre a culpa ou não do réu, que passa a ser fundo quando a figura se desloca para a análise das características pessoais dos próprios jurados, expostas de maneira crua e às vezes cruel através das argumentações entre estes jurados.
Ao término do filme, a curiosidade original sobre a culpa ou não do réu se dilui a ponto de se tornar quase indelével face a tantos outros conflitos que se desenrolaram em apenas um cenário e em tão pouco tempo (que parece tanto mais!). A saída dos jurados do tribunal – cena final – se transforma no sopro de ar que faz voltar a respiração
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