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RESENHA CRÍTICA - RAÍZES DO BRASIL .

Por:   •  25/11/2018  •  4.348 Palavras (18 Páginas)  •  414 Visualizações

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A busca pelo mais fácil é tão natural e ao mesmo tempo absurda nas organizações, que as vezes nem nos damos conta. O funcionário almeja ser chefe do seu departamento, por que imagina que seu superior não precisa trabalhar tão intensamente, pois sua função é apenas dar ordens para que os outros trabalhem. A teoria pelo menor esforço começa muito antes de vivenciar um ambiente corporativo, na escola é muito comum ver um aluno, que não é tão aplicado, tentar tirar alguma vantagem do colega mais inteligente, lhe pedindo para copiar os exercícios ou lhe passando as respostas em uma prova.

A experiência e a tradição ensinam que toda cultura só absorve, assimila e elabora em geral os traços de outras culturas, quando estes encontram uma possibilidade de ajuste aos seus quadros de vida.[...] Nem o contato e a mistura com as raças indígenas ou adventícias fizeram-nos tão diferentes dos nossos avós de além-mar como às vezes gostaríamos de sê-lo. (HOLANDA, 1936, p. 40)

- Trabalho & Aventura

Neste capítulo, o autor destaca a natureza da nossa colonização, de que maneira fomos colonizados e como isso se reflete em nossa cultura, em nosso modo de vida.

Nunca houve a intenção de formar uma colônia estruturada, de fazer do Brasil um lugar habitável, onde se pudesse construir um futuro e onde as famílias portuguesas pudessem se estabelecer e viver bem aqui; muito pelo contrário, desde o início o Brasil foi visto como uma fonte inesgotável de riquezas e poder, uma fonte dos desejos para seus descobridores e posteriormente, uma fonte de barganha para livrar a coroa portuguesa de seus inimigos, ou pelo menos acalmá-los.

O autor destaca dois perfis existentes nos países colonizadores: o aventureiro e o trabalhador.

[...] o objetivo final, a mira de todo o esforço, o ponto de chegada, assume relevância tão capital, que chega a dispensar, por secundários, quase supérfluos, todos os processos intermediários. Seu ideal será colher o fruto sem plantar a árvore. [...]

O trabalhador, ao contrário, é aquele que enxerga primeiro a dificuldade a vencer, não o triunfo a alcançar. (HOLANDA, 1936, p. 44)

O princípio aventureiro dos portugueses, fizeram com que o Brasil fosse descoberto, homens desapegados da família e sem nenhum vínculo moral, foram impelidos a desbravar o oceano e essas terras desconhecidas com o objetivo de conquistar riquezas e obter fama. A motivação de um aventureiro é alcançar um determinado fim sem medir os meios, ele simplesmente mira seu objetivo final, não se importando com o que será preciso fazer ou como irá alcançá-lo, isso faz com que o aventureiro chegue mais longe que o trabalhador, mesmo que não seja suficiente para permanecer onde ele chegou.

O trabalhador é metódico, ele analisa onde pode chegar com as ferramentas que possui, só depois de analisar os meios determina o fim, seu avanço é mais comedido, porém mais sólido que o aventureiro.

[...] o indivíduo do tipo trabalhador só atribuirá valor moral positivo às ações que sente ânimo de praticar e, inversamente, terá por imorais e detestáveis as qualidades próprias do aventureiro [...]

Por outro lado, as energias e esforços que se dirigem a uma recompensa imediata são enaltecidos pelos aventureiros; [...] Nada lhes parece mais estúpido e mesquinho do que o ideal do trabalhador. (HOLANDA, 1936, p. 44)

Foi o espírito aventureiro que moveu os portugueses na exploração das nossas riquezas, foi esse princípio que prevaleceu e até hoje está enraizado em nossa cultura. O brasileiro é um povo sonhador, ser sonhador não é um problema, o problema é como o brasileiro busca a realização do seu sonho. Não se importar com os meios que serão utilizados para realizar esse sonho, se terá que participar de algo ilícito, se terá que passar por cima de alguém, se terá que abrir mão daquilo que é moral e ético, pouco importa, desde que seu sonho seja alcançado. Isso é retratado pelo autor no trecho abaixo:

E essa ânsia de prosperidade sem custo, de títulos honoríficos, de posições e riquezas fáceis, tão notoriamente característica da gente de nossa terra, não é bem uma das manifestações mais cruas do espírito de aventura¿ (HOLANDA, 1936, p. 46)

A busca pela riqueza de modo fácil, também é vista na exploração da terra, a cultura de cana de açúcar implantada pelos portugueses é uma prova disso, observando apenas os fins sem se importar com o estrago que essa monocultura fez ao nordeste brasileiro. A plantação de cana de açúcar, produzia lucros absurdos, pois era um produto com grande demanda no mercado europeu e os portugueses já dominavam o cultivo, pois já produziam o plantio em Portugal; em contrapartida esse cultivo contínuo, sem o rodízio da plantação, destrói completamente a terra e faz com que a mesma se torne improdutiva.

O que o português vinha buscar era, sem dúvida, a riqueza, mas riqueza que custa ousadia, não riqueza que custa trabalho. A mesma, em suma, que se tinha acostumado a alcançar na Índia com as especiarias e os metais preciosos. Os lucros que proporcionou de início, o esforço de plantar a cana e fabricar o açúcar para mercados europeus, compensava abundantemente esses esforço – efetuado, de resto, com as mãos e os pés dos negros - ,mas era preciso que fosse muito simplificado, restringindo-se ao estrito necessário às diferentes operações. (HOLANDA, 1936, p. 49)

A mesma visão exploradora na obtenção de ganho fácil está presente em nossa cultura, o “jeitinho brasileiro” expressa exatamente isso. O racismo, apesar dos portugueses serem um povo miscigenado, também é nítido e perpetuado em nossa cultura, mesmo que em alguns momentos de forma velada.

Os pretos e descendentes de pretos, esses continuavam relegados, ao menos em certos textos oficiais, a trabalhos de baixa reputação, os negro jobs, que tanto degradam o indivíduo que os exerce, como sua geração. Assim é que, em portaria de 6 de agosto de 1771, o vice-rei do Brasil mandou dar baixa do posto de capitão-mor a um índio, porque “se mostrara de tão baixos sentimentos que casou com uma preta, manchando o seu sangue com esta aliança, e tornando-se assim indigno de exercer o referido posto”. (HOLANDA, 1936, p. 56)

Menosprezar um indivíduo por causa da sua etnia ou por sua origem é algo inconcebível, porém recorrente e extremamente comum nos nossos dias, um absurdo completo. O Brasil é um país totalmente miscigenado, isso é inegável, somos uma mistura de índios, negros e brancos (europeus),

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