Estudo de Caso JR Diesel
Por: Hugo.bassi • 16/2/2018 • 8.323 Palavras (34 Páginas) • 329 Visualizações
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De acordo com o Manual de Oslo (2005), a razão pela qual as empresas inovam também passa pela melhoria de desempenho, seja pelo reflexo no aumento de demanda, seja pela redução de custos.
Assim, os motivos que levam à inovação podem ser vários, como redução de custos, ganhos de qualidade, aumento de lucratividade, ampliação de demanda, criação de vantagem competitiva, ganhos de desempenho e de competitividade entre outros, os quais também fazem parte do repertório de motivos ou de norteadores do processo de formulação estratégica das empresas, o que mostra a relação direta entre esses dois conceitos. Segundo Porter (1990), o processo de inovação não pode estar desassociado dos contextos competitivo e estratégico da firma.
No caso, o processo de formulação estratégica orientada para o mercado visa desenvolver e manter a adequação entre os objetivos da empresa, suas habilidades e recursos e as oportunidades do ambiente externo, que representam as mudanças e os desafios que a empresa deverá enfrentar. Assim, seu foco é dar forma aos negócios e aos produtos da organização, visando sempre o lucro e o crescimento almejados (KOTLER, 2005).
Já na visão baseada em recursos, segundo Grant, (1991), a seleção da estratégia para a empresa é feita com base no seu ambiente interno, com vistas a melhor utilização dos seus recursos e capacidades, sempre focando uma oportunidade externa do ambiente em que a empresa atua. A premissa central é analisar a capacidade que a empresa tem de criar e sustentar vantagem competitiva a partir de seus recursos com maior potencial de ganho.
Por tanto, a proposta que se faz nesse artigo é entender qual a influência ou a relação existente entre a estratégia das empresas e suas iniciativas de inovação, sejam elas de processo, produto, métodos de marketing ou organizacionais. O que se pretende é analisar a inovação como um processo orientado pela estratégia da empresa.
A partir dos conceitos-chave sobre formulação estratégica com base na visão baseada em recursos e sobre inovação, visando analisar a relação entre esses dois construtos, chegouse na seguinte questão de pesquisa: Qual a relação entre a estratégia e as iniciativas de inovação da empresa?
Para responder essa questão, foi realizada a análise do caso da JR Diesel, empresa pioneira em reciclagem de caminhões, fundada em 1984 e que hoje é referência no segmento de autopeças usadas com foco em veículos pesados. Atualmente, segundo informações da própria empresa, a JR Diesel é a maior empresa do setor, tendo chegado em 2013 à marca de mais de 12 mil caminhões desmontados, que representa uma média de 1.000 caminhões por ano. Ela conta com mais de 100 colaboradores, 75 mil clientes cadastrados e ocupa uma área de 15.000m² na cidade de Osasco, em São Paulo (JR DIESEL, 2014).
O objetivo geral que se pretende alcançar a partir da análise desse estudo de caso único é, por tanto, entender como e se a formulação estratégica da empresa direciona e oferece as premissas para suas iniciativas de inovação. Em função do objetivo geral proposto, foram definidos três objetivos específicos:
- Caracterizar o processo de formulação estratégica da empresa.
- Identificar as principais iniciativas de inovação da empresa (produto, processo e métodos de marketing e organizacionais);
- Analisar a relação entre a estratégia e as inovações promovidas pela empresa.
No próximo tópico será realizada a análise teórica dos conceitos que embasam o estudo, iniciando com uma breve análise da evolução do pensamento sobre estratégia, os seus tipos e as razões pelas quais as empresas buscam seu desenvolvimento. Na sequência se analisará o tema da formulação estratégica, a partir da visão baseada em recursos (RBV), para então focar na verificação e conceituação dos tipos de inovação.
Os tópicos seguintes abordarão o âmbito de pesquisa, com a descrição do setor de atuação da empresa JR Diesel, e a análise da metodologia utilizada. Então, serão apresentadas a discussão dos resultados e a conclusão sobre a questão de pesquisa com base no objetivo proposto.
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REFERENCIAL TEÓRICO
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Estratégia e Formulação Estratégica
Whittington (2002) trouxe uma importante discussão do que é estratégia a partir das quatro principais teorias que embasam o pensamento estratégico, as quais divergem uma das outras quanto as suas implicações na administração estratégica e orientação às ações gerenciais. As quatro abordagens são descritas como: clássica, processual, evolucionária e sistêmica.
A abordagem clássica, segundo Whittington (2002), tem seu principal foco na maximização do lucro e é suportada pela análise e planejamento racional de longo prazo, colocando a responsabilidade por sua formulação nos cargos mais altos da organização. Já a abordagem evolucionária tem seu foco no próprio mercado, a partir da lógica de que independe de haver ou não um planejamento racional. No caso, as estratégias de longo prazo dão lugar à maximização da sobrevivência no curto prazo e às iniciativas inovadoras, em função da alta imprevisibilidade e elevada concorrência. Os processualistas, por sua vez, compartilham da lógica evolucionista contra as estratégias racionais da teoria clássica, porém, não confiam nos mercados para a maximização do lucro. Nesse contexto, o resultado ótimo dá lugar ao apenas satisfatório e a lógica estratégica da formulação e execução de maneira sequencial é substituída pela estratégia que emerge a partir da própria atuação da empresa, dos seus processos internos e das imperfeições do mercado (CYERT; MARCH, 1963). Por fim, Whittington (2002) explica que a abordagem sistêmica traz as premissas da teoria clássica, porém considerando um contexto sociológico, que insere os indivíduos dentro de um sistema social fortemente entrelaçado.
Pode-se notar, por tanto, que são várias as formas de se direcionar o pensamento estratégico, segundo perspectivas que variam em função do foco entre o ambiente interno e externo, em função da dimensão do tempo, confrontando as visões de curto e de longo prazo, e também em função da visão ou relação da empresa com o desempenho, variando entre o apenas satisfatório até a busca pela maximização, além da consideração dos fatores sociológicos que envolvem a organização.
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