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A SOCIEDADE DE MASSA SOB A ÓTICA DE HANNAH ARENDT

Por:   •  3/1/2018  •  2.546 Palavras (11 Páginas)  •  475 Visualizações

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O esforço de se manter vivo é a preocupação com as necessidades individuais que, para Hannah Arendt, foram elevadas à esfera pública no Estado-Nação, achatando a esfera política. Deste modo, a vida natural, politicamente indiferente, entra agora em primeiro plano na estrutura do Estado, no lugar das discussões sobre os assuntos da coletividade - e como evidencia Agamben, torna-se, inclusive, o fundamento terreno de sua legitimidade e da sua soberania (FRICKMANN, 2009, p. 9).

Para Passos (2010), o esfacelamento dos Estados-nações ocasionou o desaparecimento da estratificação da sociedade, sendo esta, fundamental para o indivíduo poder ser reconhecido pela camada social na qual se encontra. Não há mais, a partir desse momento, a luta pelo interesse de uma classe específica.

“A pirâmide social foi destruída, pela base, em detrimento de uma sociedade de consumo, a qual gerou um profundo desinteresse pela coisa pública” (PASSOS, 2010, não paginado).

Uma vez submetidos às condições da sociedade de massas e envolvidos no conflito que se verifica entre sociedade e indivíduo, tal situação gera o “grito subversivo” do artista, porque ele se sente angustiado ao perder a própria identidade, sobretudo pela causa materialista de toda psicologia autoritária que se revela capaz de mobilizar de modo racional as massas; “grito” emitido pelo indivíduo que deixa atrás de si toda quintessência das realizações humanas; em última instância, as obras de arte (MEDEIROS, 2006, não paginado).

De acordo com Frickmann (2009), Hannah Arendt faz uma ferrenha crítica ao presente e à modernidade, pondo em cheque o isolamento político dos indivíduos e da perda do interesse comum em um mundo cujos principais valores são ditados pelo trabalho.

“A preocupação pelo interesse de um grupo ou de uma classe foi substituída pela preocupação da sobrevivência de “cada um”. A apatia e a hostilidade pelos assuntos de cunho coletivo estavam inauguradas” (PASSOS, 2010, não paginado).

Essas fomentaram uma reunião de seres homogêneos e destituídos de representação política, dada a falta de organização da sociedade em classes distintas, na qual cada uma possuía seu interesse específico e todos que formavam essa classe possuíam um interesse comum. Ao contrário, o que se percebe, a partir desse momento, é a existência tão somente de uma busca desenfreada pelo “possuir e consumir” maior número possível de bens (PASSOS, 2010, não paginado).

Para Frickmann (2009), inicia-se, com isso, o interesse pela concepção de ação política no pensamento de Hannah Arendt, diante da indiferença das massas da política no mundo de hoje e de um Estado que se auto encarregou do gerenciamento da sociedade.

“Não mais havendo o princípio de individuação social, originada pela estratificação social, os homens passaram a formar uma unidade homogênea, na qual não se pode distinguir um indivíduo de outro” (PASSOS, 2010, não paginado). Assim, deixou-se de existir os indivíduos, dando lugar a seres da mesma espécie.

O quadro de desintegração da estrutura social que foi ser recrutada a força motriz que direcionará as massas humanas. Um exemplo dessa força motriz é aquilo que Arendt chama de filisteu: o burguês isolado de sua classe social, que se preocupa fundamentalmente com seu bem estar e de sua família e que, nessa perspectiva, faz qualquer coisa para manter sua segurança e tranquilidade (PASSOS, 2010, não paginado apud ARENDT, 1998, p. 388).

“Arendt viu no isolamento dos indivíduos e no seu afastamento da esfera pública a impotência que deu lugar não somente às atrocidades políticas, mas também ao estado de total isolamento político vivido pelas massas na democracia moderna” (FRICKMANN, 2009, p. 6).

Segundo Passos (2010), a sociedade de massa, na perspectiva arendtiana, por se estender por grande número de indivíduos que não possuem interesses em comum, conceitua-se por ser uma reunião de pessoas que nunca ou muito dificilmente se filiarão a um partido político ou a um conselho regional, por exemplo, pois lhes faltam algo que possam agregá-los em uma ação conjunta. “Ou melhor, falta-lhes a certeza de pertencerem a um mundo comum, impregnado de interesses comuns que, para sua manutenção, depende, prioritariamente, do poder que emana da ação conjunta” (PASSOS, 2010, não paginado).

Essa situação, ainda na ótica de Passos (2010), evidencia que o mundo não mais os agrega, logo, o mundo não deixa de ser visto sob a ótica do “homem” como lar pertencente e, para continuar a sê-lo às gerações futuras, é necessário preservá-lo: em suas instituições, prescrições morais, leis, tudo o que junto figura o que o homem chama de mundo.

Assim, para Arendt (1989), quando há massas sociais é possível o desenvolvimento da afinidade politica nos indivíduos. Em suas palavras tem-se que “são possíveis onde quer que existam massas que, por um motivo ou outro, desenvolveram certo gosto pela organização política” (ARENDT, 1989, p. 361).

As massas não se unem pela consciência de um interesse comum e falta-lhes aquela específica articulação de classes que se expressa em objetivos determinados, limitados e atingíveis. O termo massa só se aplica quando lidamos com pessoas que, simplesmente devido ao seu número, ou à sua indiferença, ou a uma mistura de ambos, não se podem integrar numa organização baseada no interesse comum (...). Potencialmente, as massas existem em qualquer país e constituem a maioria das pessoas neutras e politicamente indiferentes, que nunca se filiam a um partido e raramente exercem o poder de voto (ARENDT, 1989, p. 361).

De acordo com Frickmann (2009), quando Arendt se refere a “articulação de classes” se traduz como sendo as classes se ligavam à estrutura política, através de partidos políticos. “As classes tinham obrigações grupais limitadas e certas atitudes tradicionais em relação ao governo, mas os indivíduos muito dificilmente se defrontavam diretamente com os negócios públicos” (FRICKMANN, 2009, p. 10), de forma que “se sentissem, individual e pessoalmente responsáveis pelo governo” (ARENDT, 1989, p. 361).

Segundo Passos (2010), a partir da ótica arendtiana, pode-se dizer que os indivíduos, nas sociedades de massas, cultiva algum tipo de relação que não pode ser denominada de “ação conjunta”. Assim, torna-se evidente a ausência de um sentimento que as una em um interesse comum, que as faça dar mais prioridade aos desejos coletivos do que os particulares.

Essa falta de referência comum faz com que haja uma desarticulação

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