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Jesus de Nazaré

Por:   •  27/2/2018  •  3.299 Palavras (14 Páginas)  •  434 Visualizações

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Jesus, no discurso escatológico, fala do tempo dos pagãos, localizado entre a destruição de Jerusalém e do fim do mundo: durante esse tempo, “o Evangelho deve ser levado a todo o mundo e a todos os homens: somente depois a história poderá chegar a sua meta”.

Bento XVI, na minha opinião, faz uma leitura bastante perspicaz ao aferir: “Em alguns períodos da história, tornou-se demasiado débil a percepção dessa urgência (evangelização), mas sempre se reacendia depois, suscitando um novo dinamismo na evangelização.” Vivemos dias, creio, em especial no Ocidente, em que a Igreja anda entorpecida sem a real noção da urgência de proclamar a Boa-nova. E isso, obviamente, influencia negativamente a práxis da igreja levando-a a ser insipida e irrelevante.

Outro aspeto que Bento XVI considera neste capítulo, e que pessoalmente corroboro, é o facto de o “tempo dos pagãos” não ser exclusivo de Lucas e, sim, ser “patrimônio comum da tradição de todos os evangelhos”. Aliás, em bom rigor, não é somente dos evangelhos, é de toda a bíblia, a começar em Gênesis. (p. ex., Gn 12: 1-3)

Um aspeto pertinente que o Bento XVI salienta, é o facto de Jesus no seu discurso escatológico não descrever as realidades futuras com as suas próprias palavras, antes, recorreu a palavras usadas pelos profetas que o precederam, dando uma nova interpretação às mesmas.

Concluo este capítulo com este sublime trecho: “A Palavra, é mais real e mais duradoura que todo o mundo material, “é a realidade verdadeira e confiável. Os elementos cósmicos passam; a palavra de Jesus é o verdadeiro ‘firmamento’ no qual o homem pode estar e permanecer”.

O Lava-pés - Capitulo III

A frase sumária do capitulo, para mim, é: “Vós estais puros”: nessa afirmação admiravelmente simples de Jesus está expressa, quase em resumo, a sublimidade do mistério de Cristo. Deus, que desce até nós, torna-nos puros. A pureza é um dom.”

Ratzinger, chega a um dos pontos mais desconcertantes da vida de Jesus a saber, o lava-pés. Neste episódio pedagógico Jesus dá o tom para para a Paixão. Ele, o Rei dos reis, o Senhor dos senhores, o Criador e Sustentador de todas as coisas, humilha-se de tal forma que assume a condição servil de todos, inclusive de quem o iria trair, lavando-lhes os pés. Um pequeno vislumbre do seu télos, a totalidade da doação, “até ao fim”. - Que amor inefável este, do qual somos alvo!

Importa referir o quão acurado, Bento VXI, foi neste particular: Jesus amou “até ao fim” todos, até mesmo aqueles que não o receberam (cf. João 1, 11; 13, 1).

O lava-pés realizado por Jesus apresenta-se como o caminho de purificação, assevera Bento XVI. Ao lavar os pecados, Jesus se despoja de seu esplendor divino para purificar a sujeira do mundo e para “tornar-nos capazes de participar do banquete nupcial de Deus”, realizando uma mudança radical na história da religião: diante de Deus, “não é a prática de rituais que purifica”, mas é “a fé que purifica o coração”. “Vós estais puros”: nessa afirmação admiravelmente simples de Jesus está expressa, quase em resumo, a sublimidade do mistério de Cristo. Deus, que desce até nós, torna-nos puros. A pureza é um dom.”

Isto é libertador, não depende de mim, não é algo que eu tenha que fazer ou deixar de fazer, esta purificação não está subordinada ao meu desempenho. Ela emana do amor que se empenha até à morte. Não é uma moral “superior”. Portanto, entendemos que cristianismo é muito mais que uma religião, é o entrosamento da humanidade no Cristo pela relação que se sustenta pela fé.

Ratzinger relembra-nos o que Jesus disse: “Quem crê em Mim fará as obras que faço (...)”; não poucas as vezes ousamos suavizar e, por vezes, interpretamos erradamente, pensando que faríamos milagres “espetaculares”. Porém de forma contundente, Bento XVI, associa essas obras ao lava-pés. Amar como Ele nos amou, isto é de facto a “essência do cristianismo”.

A Oração Sacerdotal de Jesus - capitulo IV

A oração sacerdotal de Jesus é compreensível somente com o pano de fundo da liturgia da festa judaica da Expiação (Yom kippùr).

Bento XVI, cita Feuillet, quando este diz que a “finalidade do grande dia da Expiação é restituir a Israel, depois das transgressões de um ano, a sua qualidade de “povo santo”, reconduzi-lo novamente ao seu destino de ser o povo de Deus no meio do mundo.”

A elevação de Jesus sobre a Cruz constitui “o dia da Expiação do mundo, em que toda a história do mundo encontra o seu sentido”: aquele de reconciliar-se com Deus.

Corroboro a correlação entre, Servo Sofredor, Bom Pastor e a Oração Sacerdotal, que Ratzinger e Feuillet fazem. Ambas apontam para a Cruz.

Ratzinger, conclui, e bem, que “o não ser reconciliado com Deus constitui o problema essencial de toda a história do mundo.”

Outro fator mencionado pelo Bento XVI, e que subscrevo, é o facto de na Oração Sacerdotal, assim como em qualquer outro contexto das escrituras, Jesus, ao falar da Vida Eterna refere-se, também, ao “aqui e agora”. Isto é, viver o eterno agora. Possuir a vida zoe, experimentar, embora seja um pequeno vislumbre, aqui e agora, o que será nos novos céus e nova terra.

Contudo, há um ponto que não posso deixar de salientar a minha objeção a Ratzinger, quando este alude Platão como sendo “profundamente bíblico” na sua concepção de imortalidade. Creio veemente, à boleia de N. T. Wright (cf. Surpreendido pela Esperança), que Platão, influenciou negativamente o conceito “escatológico”, principalmente na redenção da matéria (p. ex., do corpo), do cristianismo, em especial no Ocidente.

Defendendo uma dicotomia entre alma e corpo, onde a matéria é inferior, em que emancipação da alma e, por conseguinte, a vida eterna, tem que ver com renuncia do corpo.

Salienta também e, a meu ver corretamente, o facto que Jesus na Oração Sacerdotal abre “o vasto horizonte da comunidade futura dos crentes através das gerações, a futura Igreja está incluída na oração de Jesus. Ele invoca a unidade para os futuros discípulos.”

Por vezes, esquecemo-nos que Jesus não é polígamo. Isto é, que Ele só tem uma noiva, a Igreja Universal. Há tantas disputas, procura-se inexoravelmente as divergências interpretativas, claro, consequentemente há cisões e dissidências. Se formos intelectualmente

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