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A Espiritualidade para Insatisfeitos

Por:   •  3/5/2023  •  Resenha  •  4.632 Palavras (19 Páginas)  •  460 Visualizações

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“ESPIRITUALIDADE PARA INSATISFEITOS”

CASTILLO, José M. Espiritualidade para insatisfeitos. São Paulo: Paulus, 2012. 264p. ISBN 9788534933469.

Eduardo Malaspina

1. Introdução

Os temas relacionados à espiritualidade têm recebido generosa atenção atualmente. Não são poucas as pessoas que recorrem às religiões diversas, espiritualidades ou até se compreendem curiosos a respeito de temas que versam sobre religião. Acontece que essa procura tem parado no limiar de uma busca de satisfação imediata. É nesse contexto, consciente desses pressupostos, que José M. Castillo (2012) escreve “Espiritualidade para insatisfeitos”. Ele inicia a sua reflexão apresentando a preponderância que o esoterismo tem recebido em relação à religião. Esclarece que o primeiro conhece o sucesso porque não implica engajamento, apresenta soluções com rapidez mágica e é mais atrativo à curiosidade. Corrobora essa situação o fato de que boa parte das pessoas estão cansadas em relação a tudo o que se refere à religião e ao religioso. Assim, diante disso, Castillo elenca três idéias fundamentais que o motivaram a escrever o presente trabalho. A primeira consiste em esclarecer que o cristianismo não é uma espiritualidade do sofrimento, que se coloca contra a tudo aquilo que torna a vida das pessoas feliz. A segunda refere-se à explicação de que o seguimento de Jesus implica práticas éticas, mas que devem ser sempre precedidas de profunda experiência mística. A terceira afirma categoricamente que a espiritualidade cristã não pode ser vivida sem profundo amor pela utopia, pois ela surge no coração daqueles que querem levar a sério a espiritualidade que brota do Evangelho (CASTILLO, 2012). Ademais, a compreensão de que a espiritualidade cristã está relacionada diretamente à vida e ao alívio do sofrimento é a perspectiva fundamental desse livro, perpassando todas as suas páginas. Na conclusão, retoma-se a tese do segundo capítulo e se afirma categoricamente que “[...] o centro da espiritualidade cristã é a vida” (CASTILLO, 2012).

2. SÍNTESE DAS IDEIAS PRINCIPAIS

Essas três ideias fundamentais que mencionamos acima e a sua correspondente perspectiva fundamental, que é a da centralização da espiritualidade na vida , serão utilizadas aqui para a organização da síntese das principais ideias presentes no livro. Assim, organizaremos o texto em quatro momentos. No primeiro, sintetizaremos as principais ideias dos capítulos primeiro ao quarto. No segundo, do quinto ao oitavo. No terceiro, do nono ao décimo primeiro. Enfim, no quarto apresentaremos uma apreciação crítica e algumas aplicações pastorais.

2.1 O cristianismo é feliz (cap. I-IV)

No primeiro capítulo tem-se contato com os “perigos” da espiritualidade. Não é muito comum falar em “perigo” em relação à espiritualidade, mas o autor enfatiza que “[...] falar de espiritualidade é falar de um tema que encerra sérios perigos” (CASTILLO, 2012, p. 11). Esse perigo está propriamente na interpretação negativa que durante a história se fez das realidades sensíveis, colocando-as em oposição às espirituais. Assim, Castillo faz uma pequena síntese da compreensão da palavra espiritualidade ao longo da história, citando diversos autores, e salientando que o distanciamento entre o sensível e o espiritual foi ficando sempre mais intenso. Essa é a espiritualidade inaceitável, pois favorece uma visão dicotômica das coisas e jamais integrada, como deve ser. Dessas diversas interpretações sobre espiritualidade, tem-se uma definição bastante pontual, que é aquela que a interpreta como atitude daquele que vive sob a ação do espírito. No caso do cristanismo, esse espírito é aquele que animou a vida de Jesus. Nesse sentido, não se pode dissociar a espiritualidade e a vida. Afinal, espiritualidade “[...] mais exatamente, é uma forma de viver a vida” (CASTILLO, 2012, P. 20), mas não no sentido da privação do que torna a vida feliz; o sofrimento é uma realidade, mas não a finalidade de Deus. Tanto que “[...] o único sofrimento que Deus quer é aquele que brota da luta contra o sofrimento” (CASTILLO, 2012, p. 22) Ademais, juntamente com o sofrimento, a mortificação é reinterpretada. “Este é o sofrimento e a mortifcação que lhe [Deus] agrada: o sofrimento e a mortificação que nos tornam cada dia mais livres e mais disponíveis, em síntese, mais humanos” (CASTILLO, 2012, p. 22). Essa releitura do sofrimento implica comprometimento e, portanto, não é correto uma espiritualidade que se estrutura apenas “[...] a partir do projeto da própria perfeição espiritual” (CASTILLO, 2012, p. 24). Acontece que a espirutalidade cristã é um seguimento pessoal, não ideológico. “Seguir Jesus é seguir uma pessoa” (CASTILLO, 2012, p. 25). Essa pessoa não se dissocia de sua mensagem e o “[...] centro do pregação e do ministério de Jesus foi sua proclamação do Reino [...]” (CASTILLO, 2012, p. 26). Essa é a estrutura da espiritualidade cristã: o Reino. Portanto, não há espaço para o subjetivismo intimista, pois o projeto do Reino, que é estrutural e fundamental na espiritualidade, “[...] é um projeto de humanização das pessoas, um projeto de vida e felicidade para todos os que sofrem” CASTILLO, 2012, p. 27). Assim, a liberdade é fundamental, sobretudo no sentido de predisposição e condição de luta contra a injustiça. As práticas espirtuais são importantes. A oração é necessária, pois é o diálogo que estabelecemos com Deus e a celebração do sacramentos, que é expressão de fé, favorece a superação do individualismo.

No segundo capítulo, disserta-se sobre o centro da espiritualidade cristã. Constata-se que é um tema que traz certo contraste e até confrontação. Isso acontece porque se trata de um tema sério e infelizmente é muitas vezes mal colocado. Um exemplo tem-se quando se compreende Deus como um ser inimgo da vida, compreendendo como mal tudo aquilo que traz alegria. Isso é contraditório, pois Jesus se deixou conduzir pelo Espírito Santo “[...] para uma coisa: aliviar o sofrimento humano”. (CASTILLO, 2012, p. 37). Acrescenta o autor: “Em síntese, dar vida àqueles que têm a vida questionada ou diminuída” (CASTILLO, 2012, p. 37). Tanto que o centro da mensagem de Jesus foi o Reino. Nesse sentido, a finalidade do encontro com Deus é a libertação. Não é possível assumir essa espiritualidade sem conflitos. Jesus a assumiu e teve muitos, sobretudo porque soube colocar a religião em seu devido lugar. “O que quer dizer é que Jesus pôs a religião onde

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