Peça da Seca

...

BENTO – Num se preocupa mãe que se tivesse acontecido alguma coisa, a gente já sabia. Num é a senhora mesmo quem diz que notícia ruim chega rápido. Pode ficar tranqüila que o papai ta bem e já ta vortando pra senhora. (Abraça a mãe)

ROSINHA – ô meus filhos, eu não sei o que eu faria se não tivesse vocês dois.

ZEFINHA – Vocês três né? (Fala alisando a barriga da mãe)

ROSINHA – É verdade, vocês três.

BENTO – Será que quando ele nascer, o papai já chegou?

ZEFINHA – Eu acho que sim.

ROSINHA – Não, não. O Neném já deve nascer dentro de duas ou três semanas. Não vai ter tempo de seu pai chegar.

BENTO – Quem sabe? E se ele chegar amanhã ou hoje a noite?

ZEFINHA – Não sei, mas vem logo e traz essa roupa que eu vou estender lá no meio do terreiro. (Sai levando uma bacia de roupa)

BENTO – Ai, já vou. Já vou. (Sai levando outra bacia)

ROSINHA – Onde é que ocê ta meu Sereno? Volta pra mim, volta pra sua Rosinha... Volta que eu to te esperando meu amor. (Pega a ultima bacia e sai pensativa.)

CENA III

(Som de cidade grande [buzina, multidão, engarrafamento, tiro, ambulância, motor televisão, rock, pagode etc.] No centro está Sereno, dormindo enrolado em trapos velhos como um morador de rua. Apesar de todo o barulho ele dorme com aparência tranqüila. Após algum tempo, ele acorda. Cessam os sons.)

SERENO – Rosinha... Meus filhos... Sonhei com vocês denovo. Eu já não agüento mais. Não tenho emprego, não tenho onde morar, não tenho nem como voltar pro sertão. Minha família lá, contando com a minha ajuda e eu aqui. Perdido. Sem rumo. Sem eira nem beira. Que vida mais angustiada meu Deus!

(Entra Ricardo)

RICARDO – Bom dia Sereno!

SERENO – Bom dia seu Ricardo. Alguma novidade?