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DESIGN E ESTRUTURAS DE SECAGEM DE ROUPAS NAS HABITAÇÕES DE INTERESSE SOCIAL

Por:   •  17/11/2018  •  5.432 Palavras (22 Páginas)  •  448 Visualizações

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Outro fator a ser considerado é o fato de que as famílias que habitam essas moradias são de baixa renda. Sem opção, os moradores dessas habitações improvisam, estendendo roupas nas janelas ou em quaisquer estruturas que possuam: varais de ferro, cordas, varais de parede, sanfonados, de chão, e até em punhos de redes.

Os efeitos dessas adaptações são percebidos na alteração da estética arquitetônica dos prédios que, dado as roupas estendidas nas cordas, exposta nas janelas, paredes e em área pública, como calçadas e ruas, provocam poluição visual, promovendo, além da baixa autoestima dos moradores, o frequente furto de roupas e notificações da prefeitura para que sejam retiradas estas estruturas improvisadas que ocupam vias de uso comum (informação verbal)[3].

Deve-se levar em conta, ainda, a diversidade cultural que o estado do Amapá abriga, dado ao processo migratório fomentado pelas políticas de proteção fronteiriça, ocupação territorial exploração das riquezas dos Governos Militares. Neste arcabouço, foi criado o Território Federal do Amapá em 1943, assim como mais três territórios na região Norte. Grandes empresas como Projeto Jari e ICOMI instalaram-se no ex-Território nas décadas de 40 a 60, assim como várias outras nas décadas que se seguiram.

O ápice desse fluxo migratório, no entanto, foi nas décadas de 80 e 90 com a criação do estado do Amapá e a chegada de outras grandes empresas como o Grupo CAEMI, a criação do PDSA[4] e da Zona de Livre Comercio, fatores que atraíram um grande número de pessoas de várias regiões do país, sendo o maior contingente do Arquipélago da Ilha do Marajó no Pará, (LIMA 1999).

A Secretaria Municipal de Assistência Social e do Trabalho – SEMAST foi o órgão responsável pelo projeto Social do Conjunto Habitacional Mucajá, localizado no Bairro do Beirol na cidade de Macapá[5], lócus de observação dessa pesquisa. Através de uma entrevista prévia com os moradores,[6] foi possível constatar que a antiga vila do Mucajá deu origem ao Conjunto, e revelou-se, entre outros fatores, que a grande maioria dos beneficiários do referido Conjunto são advindos de regiões ribeirinhas do Arquipélago das Ilhas do Marajó, no estado do Para.

As populações tradicionais, conceituadas como ribeirinhas, vivem uma realidade distinta da urbana, apresentando ritmo, cultura e economia próprios, bem como e vínculos fortes com o território e a própria natureza (LINHARES, 2009). Os efeitos da mudança espacial alteraram seus referenciais de produção e de espaço construído e vivido, provocando um choque cultural do modo de vida ribeirinho com o urbano. Tendo em vista que o estado do Amapá é recortado por muitos rios, sendo Macapá, inclusive, a única capital brasileira banhada pelo rio Amazonas, a aproximação entre as tradições ribeirinhas e a urbanização é inevitável, o que colabora com a manutenção e fortalecimento de traços ribeirinhos nas regiões urbanas.

Agravando ainda mais a disparidade, a maioria dos habitantes do foco de observação são os próprios ribeirinhos que migraram para a capital, e se deparam com esta nova realidade das habitações sociais, cujos conjuntos possuem estruturas arquitetônica e espaciais que promovem a ruptura de forma abrupta com várias de suas relações culturais e espaciais, incluso no que se refere ao hábito de estender roupas.

Em uma pesquisa de campo prévia, na qual foram ouvidos 43 moradores do conjunto habitacional Mucajá e foi realizada uma busca por estruturas de secagem de roupas no mercado local. Observou-se que as estruturas existentes não suprem a necessidade das habitações de interesse social. Os comentários dos moradores inferem que o tipo de material e tamanho destas estruturas não suportam grandes quantidades de roupas, e nem peças como jeans, redes, lençóis e edredons, causando avarias rápidas pelo uso inapropriado.

Os aspectos estético-formais destes produtos, tal como encontrados nas lojas da região, não contemplam o ribeirinho, colaborando também com uma ruptura na cultura ribeirinha – um terceiro fator que limita o acesso desta população, em geral de baixa renda, são os valores pelos quais estas estruturas chegam ao mercado.

Tendo em vista a problemática exposta, a proposta deste estudo é desenvolver um sistema de secagem de roupas para habitações verticalizadas de interesse social, investigando o atual processo de secagem de roupas praticado pelos moradores do conjunto habitacional Mucajá e levando em consideração os conflitos socioculturais, de habitabilidade, territoriais e o deslocamento de identidades locais, haja visto que as habitações de interesse social dentre as quais está inserido o referido residencial não observaram as peculiaridades locais e culturais, logo essas moradias promovem a alienação espacial, econômica e cultural das populações que habitam o Conjunto. Tendo em vista os fatores levantados, propõe-se o seguinte questionamento: como adaptar sistemas de secagem de roupas nos conjuntos habitacionais de interesse social? Qual a representação social de moradia? Quais dificuldades cotidianas no trabalho doméstico no conjunto habitacional? Como ocorreu o processo ressignificação de mudança de habitação? Quais as principais necessidades?

Parte-se da hipótese de que a verticalização das habitações de interesse social na cidade de Macapá produziu moradias com espaços reduzidos que não atendem necessidades básicas dos moradores, como a secagem de roupas. Isso se dá, entre outros fatores pela ausência de espaço adequado, mudança abrupta de culturas e ausência de objetos de secagem de roupas compatíveis com esses espaços. Tendo em vista que o papel do designer na atualidade é buscar soluções para problemas reais e valorizar produtos locais, através do design é possível desenvolver um sistema de secagem de roupas que seja adequado a esses novos espaços, respeitando a cultura local, promovendo a valorização do território e atendendo as reais necessidades dos moradores.

A fim de tornar tal hipótese válida, este projeto visa, como objetivo geral, Investigar as principais dificuldades cotidianas no espaço de moradia do Conjunto Mucajá para desenvolver um sistema para secagem de roupas adaptado para os espaços reduzidos das habitações de interesse social, que seja sustentável nas esferas ambiental, social, cultural e econômica, levando em conta traços culturais dos moradores, valorizando também o território e a produção local.

Para tanto, será necessário ainda o cumprimento de três objetivos específicos. Inicialmente, realizar um estudo bibliográfico acerca do design voltado para habitações

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