A instituição escolar
Por: kamys17 • 25/7/2018 • 1.867 Palavras (8 Páginas) • 423 Visualizações
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A estrutura da escola tradicional foi objeto de reação de alguns pedagogos, ansiosos por mudar os rumos do ensino não só quanto às obsoletas práticas didáticas, mas também quanto ao conteúdo transmitido.
A Revolução Industrial, iniciada no século XVIII, altera em alguns aspectos as exigências da escola burguesa: à formação acadêmica predominantemente humanística se contrapõe a necessidade de formação técnica especializada, além do estudo das ciências.
No século XIX, com a burguesia já triunfante, o pedagogo alemão Herbart enfatiza a importância da instrução completa até como condição de formação moral.
Apesar de algumas alterações, continua a existir por muito tempo o sistema de internatos com disciplina rigorosa e vigilância constante, marcando sobretudo a escola secundária elitista, que visa a formação humanista e propedêutica (isto é, voltada à preparação para o curso superior). Essa situação foi sempre mais dramática no Brasil.
Além disso, acelera-se o processo de secularização e democratização do ensino, com as reivindicações de uma escola pública, leiga, gratuita e obrigatória a que possam ter acesso as camadas não-privilegiadas da sociedade.
Enquanto nos países desenvolvidos a luta pela universalização do ensino básico já no século XIX atingia seus objetivos, no Brasil, nem no século XX conseguimos superar as dificuldades de acesso à escola. Aqueles que tentam estão sujeitos à repetência e ao êxodo, sem falar na qualidade do ensino oferecido. Além disso, o dualismo decorrente das diferentes formas de ensino (acadêmica e profissionalizante) tem perpetuado a divisão social.
O desafio a ser enfrentado pelos governos e pela sociedade civil - abrangendo aí as forças organizadas dos excluídos do sistema - está na universalização de um ensino básico de qualidade, que prepare para o trabalho, para a cidadania, cuidando da formação da personalidade nos aspectos afetivos e éticos.
2. A educação na encruzilhada
A ação da escola tornou-se cada vez mais extensa, "roubando" funções antes assumidas pela família e exercendo considerável influência na formação das crianças e dos jovens. Poderíamos perguntar: que tipo de influência é esta? É crítica, transformadora? Ou é conservadora? A esse respeito veremos diversas tendências na Unidade V.
Os teóricos da escola nova analisam com otimismo a influência da escola, vendo-a como agente de transformação, um instrumento de mobilidade, permitindo a ascensão social e a criação de uma sociedade mais humana e democrática. Os teóricos crítico-reprodutivistas, porém,
argumentam sobre as dificuldades dessa mudança, porque a escola é apenas uma engrenagem dentro do sistema e tende a reproduzir as diferenças sociais, mesmo quando dá a impressão de democratizar.
As críticas que vêm sendo feitas à escola tradicional revelam a sua incapacidade de atender as necessidades de um mundo em constante mutação, no qual a ciência e a tecnologia tornam cada vez mais complexa a função do educador. Basta lembrar que viver a era pós-industrial significa enfrentar o desafio de uma nova educação para um novo homem em fase de transformação.
Como superar o fosso cavado entre a educação e a vida? Como fazer da escola não mera reprodutora do sistema, mas um local de fermentação da mudança? Como tornar viável a socialização da educação, a fim de que ela deixe de ser privilégio de poucos?
Apesar da perplexidade, as respostas - nem sempre adequadas - têm sido muitas: de um lado, Ivan Illich propõe a "desescolarizacão" da sociedade; no outro extremo, a Unesco sugere a educação permanente, considerando a necessidade de uma constante renovação dos conheci-
mentos, que exigiria a reciclagem do saber dos adultos.
Surgem formas mais singelas de educação alternativa, como as escolas abertas, em que os professores trabalham junto com alguns adultos da comunidade e pais de alunos dispostos a participar da ação pedagógica. Há até casos de famílias que se organizam coletivamente para que
possam, elas próprias, educar seus filhos, prescindindo da escola clássica.
Para outros, é importante que a escola incorpore os modernos meios de comunicação de massa, visando a exploração de alta tecnologia no ensino. Nesse caso, a esperança maior estaria na cibernética.
Segundo a tendência progressista, a solução não se encontra em modismos e fórmulas mágicas, mas no esforço de levar a educação a todos, sobretudo à população marginalizada, dando condições para o domínio de conteúdos e conhecimentos valorizados pela sociedade, bem como disposição crítica para avaliar a herança recebida.
O campo de reflexão que instiga o pedagogo contemporâneo é extenso e intrincado. Como superar essa crise permanece ainda um desafio, mas, se a escola não é uma ilha, ela reflete, neste
momento, a crise mesma por que passa a nossa civilização.
Quando nos referimos a crise, queremos entendê-la no sentido de um momento de confusão e dificuldade que caracteriza os períodos de transição, nos quais o "velho" ainda não morreu e o "novo" não se apresenta com clareza. Mesmo porque o novo resultará do que os homens poderão construir a partir dos desafios a serem enfrentados.
Já nos referimos a aspectos dessa mutação em outras partes do livro, sobretudo no Capítulo 2, e voltaremos a examinar, no último capítulo, a questão do que se convencionou chamar de "pós-modernidade".
3. Escola e sociedade
Por enquanto cabe observar que não se compreende a escola fora do contexto social e econômico em que está inserida. Sempre que se exige a mudança da escola, a própria sociedade está em transição e precisa de outro tipo de educação.
Nesse sentido, nenhuma reforma educacional é apenas técnica e neutra: por trás das decisões existem posições políticas. Ao privilegiar determinado tipo de conteúdo a ser ensinado ou um método para facilitar esse processo, a escola não transmite apenas conhecimentos intelectuais por meio de uma prática neutra, mas repassa valores morais, normas de conduta, maneiras de pensar.
Vivemos no momento o centro desse debate multiforme. E aí reside nossa tarefa: repensar os rumos da escola sem otimismo ingênuo, mas também sem pessimismo derrotista. O que, afinal, é possível fazer dentro dos limites
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