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O COMANDO DA TAREFA 3

Por:   •  5/10/2017  •  4.633 Palavras (19 Páginas)  •  484 Visualizações

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Foi então que adentrei em minha sala e percebi bem ao fundo um aluno de boné na cabeça mais distanciado dos demais e com uma atitude corporal que julguei desafiadora em relação a mim. Após minhas intervenções habituais e ter perguntado o nome do aluno, expliquei como funcionavam as aulas e pedi para que ele se aproximasse dos demais. Ouvi, em tom ríspido, que não iria, que permaneceria ali mesmo. Respirei e disse: - Pois bem, fique tranquilo, sente onde quiser, porém me fará falar mais alto para que você possa escutar e em tom amistoso disse que sentia a garganta, mas ele não se comoveu. Disse então: “- eu chamo todos os alunos novos a minha mesa para conversar e perceber como estão? Você pode vir?”. Ele novamente me disse: - Não!! Não quero, não vou aí! Eu expliquei que não poderia ajudá-lo, pois se não sabia o que ele precisava aprender, não teria como ajudá-lo.

Sua postura me sinalizava que eu teria problemas... Novamente com paciência e seriedade disse: “- a cadeira está aqui, caso queira é só sentar...” Continuei a aula com os demais que perceberam a tensão do momento, mas nada falaram... (hoje não seria assim, se isto voltasse a acontecer em sala, pois os alunos já sabem argumentar e compreendem que eles podem intervir, pois sabem que todos os momentos fazem parte da educação e eles são parte integrante da mesma). Para minha surpresa, o Menino do Boné depois de um tempinho sentou-se na cadeira que eu indicara momentos atrás. Eu o tratei com naturalidade e antes que começasse o teste diagnóstico, ele sussurrando me disse: “- a senhora irá mandar eu tirar o boné?”. E eu disse: “- Por quê? Ele respondeu: Porque lá embaixo me disseram que não poderia usá-lo aqui, mas eu não quero tirar”. Ele neste instante virou-se rapidamente para o lado da aba do boné e deixou que visse sua orelha decepada.

Rapidamente compreendi todo drama e rebeldia e afiancei que o mesmo usaria o boné, e que não era o uso ou desuso de um boné que traria respeito e sim as atitudes dele. Esta conversa foi um pacto com meu aluno, que após ter realizado o teste, retornou para o fundo da sala. (...) o tempo passou e a confiança e alegria de todos se estabeleceu e todos os alunos cresceram. Muitos que eram considerados como fadados ao insucesso estão em pleno desenvolvimento, mesmo que num ritmo mais lento.

O Menino do Boné, não aceitava ir ás aulas de artes, (passei a frequentar com ele as aulas) não aceitava ordens de ninguém, não sabia falar com as pessoas, não sabia que podia mudar. Magoava as pessoas e a mim com suas atitudes, mas eu não desisti dele. Mostrava que não merecia ser tratada com falta de educação, pois o respeitava e o amava. Mostrei que cada pessoa ali tinha uma história triste e todos estavam buscando a superação. Este caminhar não foi fácil. Ele batia o caderno quando não sabia e dizia que jamais aprenderia. Aprendeu!! Confiou em mim, contou-me suas histórias e também me transformou.

Hoje, já se encontra lendo muito bem, escrevendo cartas, realizando cálculos em situações-problemas e foi promovido, depois de 1 ano e meio para a etapa seguinte. Mais que ensinar a unir símbolos aos sons, alfabetizei com consciência. Respeitei e o aluno e conquistei um espaço. O Menino do Boné me visitou há algumas semanas atrás em minha sala com um rosto humanizado, os olhos brilhantes e um sorriso quase infantil nos lábios. Disse: “- Vim agradecer” e me abraçou! Suas feições se modificaram. Ele de fato é outro cidadão, que tem consciência que precisa reivindicar seus direitos, mas sabe que a arma maior é a argumentação.

Reflexões... Um boné é desrespeitoso no ambiente escolar? Ou apenas um adorno como brincos, cordões e outros enfeites? Uma professora desta unidade em conversa sobre uniforme e o uso do boné, contou-me que teve um aluno que usava boné e quando o pediu para não usá-lo, escutou que iria embora da escola e o aluno até hoje não retornou ao estabelecimento. Ela depois soube por outros alunos, que o aluno tinha afundamento craniano e se sentia envergonhado pela deformidade craniana...

Relato: Identidade

Outra relato bem pertinente ocorreu numa classe do PEJA (alfabetização) - Ensino Fundamental no ano de 2015 na Escola José Miranda Braz, na cidade de Zé Doca no Maranhão.

Trabalhava a questão da identidade pessoal e o assunto envolvia identificação digital e órgãos expedidores das carteiras de identificações. Mostrei a minha carteira de identidade e fui perguntando aos alunos o nome do órgão expedidor de suas carteiras. Então perguntei a uma determinada aluna, que a chamarei de AAAA. Perguntei: AAAA, sua carteira foi emitida por qual órgão expedidor? A aluna me olhou e respondeu em tom de hesitação: - Fígado, professora?!

Reflexões... A palavra “órgão” não fazia sentido para a aluna que não, os órgãos internos do corpo humano. A associação da palavra com repartições públicas ou particulares não faziam sentido para ela. Mostrei que não falava dos órgãos internos do corpo humano, mas sim de uma construção física, feita de cimento e com pessoas trabalhando e que se chamava de órgão por analogia aos órgãos do corpo de uma pessoa e assim a explicação se fez. Valorizei sua correlação expliquei-lhe a que me referia novamente.

Relato: Homônimo Imperfeito

Outro relato diz respeito a uma atividade de reconhecimento do significado das palavras: Cada grupo de (3) três deveria procurar no dicionário algumas palavras: entre elas estava escrito o vocábulo “hospedeiro”. Antes da busca no dicionário, perguntei se alguém sabia o que significava HOSPEDEIRO. E quase todos em uníssono, com os braços para o alto numa atitude de alegria, responderam..os pedreiros..os pedreiros... o som mais próximo de hospedeiro que eles conheciam.

Reflexões... Aprendemos por imitação, condicionamento, comparações, associações, entre outras formas. O reconhecimento de algo ou alguma coisa que nos seja familiar, ajuda na fixação desta aprendizagem. Portanto, embora as palavras sejam diferentes em seus sentidos e grafias, para os alunos, guardavam uma semelhança, o som parecido.

A equipe educacional e as práticas pedagógicas na Escola José Miranda Braz, na cidade de Zé Doca no Maranhão.

A equipe docente do PEJA I e PEJA II e sua coordenadora se reúnem semanalmente para discutir e planejar as melhores estratégias para cada bimestre. Nestes encontros são priorizados conhecimentos que tragam ganhos aos alunos. Adaptados aos blocos I e II. São pautados na responsabilidade, politização, solidariedade

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