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RESENHA - PRO DIA NASCER FELIZ

Por:   •  29/11/2018  •  2.285 Palavras (10 Páginas)  •  349 Visualizações

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Ali existe Douglas, que não tem média para passar para o primeiro ano do ensino médio e faz com que os professores discutam o seu futuro e querem dar uma chance a ele, o aprovando. Ele, por sua vez, diz que nada aprendeu na oitava série. O mundo do crime, as armas, o luxo, o fascinam, mas ele não quer que isso influencie em sua vida diretamente. Para muitos, esse parece ser o seu destino: o crime. Mas não é o que se vê. Este aluno faz parte da banda da escola, por incentivo de uma professora, que mesmo sendo mal remunerada, preocupa-se com o destino de seus alunos e consegue enxergar não só o Douglas, aqui em especial ele, mas também os outros, como alguém que pode ser muito mais do que como a sociedade o imagina (um “projeto de bandido”); fazer música, participar desses ensaios, conviver com esses professores que, apesar de todas as dificuldades ainda tentam transformar realidades, faz com que ele fique longe da criminalidade. Ele e seus colegas. Essas professoras não querem que eles fiquem a margem da sociedade e lutam contra isso. Mesmo em um sistema falido há educadores que acreditam e investem em um futuro melhor para os seus educandos. Douglas quer ser militar, tem sonhos.

Em Itaquaquecetuba, São Paulo, existe uma escola pública aparentemente um pouco diferente das outras mostradas até aqui, é bonita e admirada. É notório o interesse de alguns alunos e dos professores, é clara a vontade de aprender; segundo alguns docentes, a escola foi muito bem no ENEM. A visão de Ronaldo, 16 anos, porém, é um pouco diferente: o governo quer passar uma ideia de que o ensino está melhorando, mas não está, porque se estivesse não seria necessária a implantação dos programas de ingresso à universidade e nem cotas. Há outra estudante entrevistada, Keila, que tem 16 anos, aluna que gosta de escrever e o faz bem, porém acredita que suas escritas não têm importância. O que falta para que esses alunos possam se sentir seguros? O problema com a falta de professores e a ausência de aulas persiste e há contradição entre os alunos e a diretora, que quer passar uma imagem de uma escola que parece não existir.

A professora Celsa diz que falta por cansaço, seja ele físico ou mental. Os professores acabam absorvendo os problemas dos alunos, porque se envolvem com eles e, além disso, são mal tratados pelos alunos por causa do abismo que ainda existe nessa relação. A verdade é que os educadores acabam se sentindo desvalorizados (e são mesmo), tanto pela sociedade quanto pelo governo. Sentem-se abandonados, sozinhos, não acreditam mais na função da escola nos moldes atuais.

Além disso, o documentário também traz a tona outro fato triste que parece ser comum nas escolas, sejam elas públicas ou privadas: a violência entre os alunos. Ao entrevistar uma jovem internada em uma instituição para menores infratores, por ter assassinado outra adolescente por causa de uma discussão ocorrida em uma festa fora do ambiente escolar, a jovem conta que por causa do episódio já havia planejado o crime, então esfaqueou colega na semana seguinte dentro da escola. Questionada sobre o ato, a mesma diz que a sua vontade era a de que a colega morresse na hora, mas que infelizmente a menina ainda levou 10 minutos para vir a óbito e que não temia nada, porque os três anos que ela ficaria presa iriam passar rápido. Ainda questionada sobre a vida da aluna assassinada por ela, a jovem afirma: “a vida dela já iria acabar. Eu só adiantei”.

Outros jovens do sexo masculino, entre 14 e 18 anos, também em condições de privação de liberdade, dizem coisas como “os políticos roubam milhões e não são presos”, “a criminalidade existe por causa deles (políticos), eles estão colhendo o que plantaram”. Afirmavam gostar da adrenalina que sentiam em ter uma arma na mão e realizar um assalto, diziam se divertir com a reação da vítima ao ser assaltada e que se não fosse isso a opção seria a boca de fumo, pois, precisavam de dinheiro. Um jovem a ser questionado a respeito se ele acreditava que a escola o proporcionaria coisas positivas, respondeu: “não acredito muito, não sei se vou estar vivo até amanhã”.

Com esses casos, nota-se o quão frio alguns jovens estão se tornando, banalizando a vida e vivendo sem medo das consequências de suas atitudes. Terrível. De quem é a culpa? Do sistema, sempre. Se houvessem escolas bem preparadas, acolhedoras, interessantes, talvez gostassem de passar mais tempo nela. Talvez, então, se interessariam, todos eles, pelos estudos e não haveria lugar para situações como as mencionadas anteriormente. Se os programas desenvolvidos por pessoas que estão longe da realidade e não conhecem esses alunos fossem planejados por quem se relaciona com eles e com seus professores, possivelmente os dados seriam outros. Mas não são. E por que não?

O Colégio Santa Cruz, localizado no bairro nobre Alto de Pinheiros, em São Paulo, parece um universo paralelo. Os alunos são todos “iguais”: brancos e ricos. Longe de toda e qualquer dificuldade do sistema educacional, lá se pode (e deve) sonhar. São incentivados e cobrados a se tornarem os melhores, sempre. Isso é importante, tanto para a instituição quanto para os pais. Neste colégio os questionamentos são outros e o principal deles é o que cada um vai ser profissionalmente. Escola para os filhos da elite paulistana, cara, que forma alunos que irão para as melhores universidades do país, alunos que podem ser tudo aquilo que quiserem no sentido de que lhes é permitido escolher o curso de graduação que se identificam. É uma escola aparentemente perfeita, mas que também possui falhas, principalmente no que se refere a essa competição que pode trazer muitos transtornos aos alunos.

A jovem que se destaca é Ciça. Ela e suas amigas concordam que estão em uma bolha e possuem uma realidade privilegiada. Livres de qualquer preocupação relacionada à sobrevivência, a violência ou a qualquer coisa que atinja um aluno pobre, ou seja, livres de qualquer preocupação com “questões sociais”, fazem reflexões sobre a vida daqueles que não conhecem de perto: os pobres. Consideram que só de usarem o termo “ajudar”, isso já faz com que elas se enxerguem como alguém superior ao outro. Planejam fazer alguma coisa para que isso mude, desejam ir contra o sistema, pois consideram que todos são iguais, mas ao mesmo tempo não querem deixar de fazer suas coisas. Acham que a sociedade se dividiu em dois mundos, que na verdade é um só e é por isso essa realidade é um problema.

São jovens livres. Questionam a existência de Deus, o futuro, a razão de existir, preocupam-se, então, com questões filosóficas e encontram apoio em seus professores. Uma realidade totalmente avessa a

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