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O Método de Marx

Por:   •  14/11/2018  •  5.220 Palavras (21 Páginas)  •  292 Visualizações

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Marx realiza a mesma inversão, mas dessa vez com a assertiva de Hegel, ao inferir que o Estado funda a sociedade civil, na verdade, é a sociedade civil que permite compreender o Estado. Como entender a sociedade civil? Não havia ferramentas para compreender o Estado (filosófico/jurídico político) a disposição de Marx. Ou seja, ele ainda não sabia como tratar a sociedade civil.

É através de seu projeto em Paris que Marx conhecerá Engels. O texto que Engels envia ao jornal de Marx “Esboço de uma crítica da Economia Política”(1844) trata da sua experiência de vinculação com o movimento operário inglês. Engels faz uma leitura da economia política inglesa e trata de observar que essa é a racionalização da sociedade de classe da burguesia acerca da dinâmica econômica da ordem capitalista. Esse texto é nodal para o posterior desenvolvimento político-intelectual de Marx e para a profícua parceria entre Marx e Engles.

Em Paris Marx conhece a tradição socialista através das associações e movimentos operários. E agora se coloca um problema teórico: como compreender a sociedade civil? Sua chave holística será a economia política. Em 1845 Marx é expulso da França por pressão do governo prussiano e se dirige para Bruxelas.

A crise de 1848 em toda Europa traz consigo a luta pelo direito ao trabalho. As vanguardas operárias percebem que seus interesses históricos de emancipação são incompatíveis com as limitações da ordem burguesa. É a partir de 1848 que o proletariado com suas organizações políticas se coloca como sujeito revolucionário. Nesse período é publicado o Manifesto do Partido Comunista (1848). A análise do Manifesto do Partido Comunista (MPC) é a primeira de Marx que vincula uma estrutura teórica com seu movimento histórico. Um dos principais marcos do MPC é ser uma programática política precedida por uma rigorosa fundamentação teórica.

Essa profícua trajetória é marcada por uma profunda coerência teórico-política por parte de Marx e Engels. Tratava-se de intelectuais engajados na leitura radical da sociedade que reconheciam a necessidade da ação revolucionária para a superação da ordem posta. Marx e Engels não eram utopistas, eles não expressam desejos, por exemplo, o programa MPC é factível, um projeto de sociedade que pode ser enfaticamente concretos pois hoje há tendências que apontam para sua possibilidade. Uma possibilidade não é uma realidade. Ela demanda a vontade política organizada dos homens.

Em 1847 – Proundhon publica “A Propriedade é um roubo” – Filosofia da Miséria. Marx a lê, e teme sua influência no movimento operário francês, decide então compor uma obra crítica e desmontar essa obra através de seus escritos que resultam em “Miséria da Filosofia” (1847). Marx expõe no 1º capítulo sobre o valor com o objetivo de mostrar que Proudhon não entendeu nada da discussão da economia clássica. E, no 2º capítulo, desenvolve uma discussão metodológica. Marx levanta a categoria de totalidade como ontológica e fundamental. Ou seja, Marx expõe o método adequado para estudar a sociedade.

É na Miséria da Filosofia que Marx expressa sua primeira análise do modo de produção capitalista. Oferece um quadro da constituição da sociedade capitalista por via das categorias: Forças produtivas; Relações de produção; Inovação tecnológica, crises do capitalismo e seu caráter cíclico; relação do modo de produção capitalista com a inovação técnica; tensionalidade e contradição das dinâmicas produtivas e de propriedade.

O conceito de classe é analisado materialmente a partir do movimento operário europeu fazendo emergir a celebre distinção na prática política entre classe em si de classe para si. As lutas europeias dos trabalhadores e os interesses burgueses. Marx está atento em sua análise do modo de produção capitalista e é nutrida pela informação teórica, a crítica a econômica política e no movimento social real.

O interim de 1843 – 1858 foram de intensa participação política e estudos. Sendo que é entre 1857 e 1858 que Marx encontra o patamar teórico-metodológico que lhe permite identificar elementos que o auxiliam a decifrar a ordem civil da sociedade burguesa, é nesse período que ele elabora O Capital I.

Marx morreu algumas décadas depois, em 1883, em seu funeral seu amigo Engels fez o seguinte discurso:

“Marx era, antes de tudo, um revolucionário. Sua verdadeira missão na vida era contribuir, de um modo ou de outro, para a derrubada da sociedade capitalista e das instituições estatais por esta suscitadas, contribuir para a libertação do proletariado moderno, que ele foi o primeiro a tornar consciente de sua posição e de suas necessidades, consciente das condições de sua emancipação. A luta era seu elemento. E ele lutou com uma tenacidade e um sucesso com quem poucos puderam rivalizar. Como consequência, Marx foi o homem mais odiado e mais caluniado de seu tempo. Governos, tanto absolutistas como republicanos, deportaram-no de seus territórios. Burgueses, quer conservadores ou ultrademocráticos, porfiavam entre si ao lançar difamações contra ele. Tudo isso ele punha de lado, como se fossem teias de aranha, não tomando conhecimento, só respondendo quando necessidade extrema o compelia a tal. E morreu amado, reverenciado e pranteado por milhões de colegas trabalhadores revolucionários - das minas da Sibéria até a Califórnia, de todas as partes da Europa e da América - e atrevo-me a dizer que, embora, muito embora, possa ter tido muitos adversários, não teve nenhum inimigo pessoal”.

- O MÉTODO EM MARX E ALGUNS CONCEITOS.

José Paulo Netto afirma que os homens que fundam certas matrizes teórico-políticas compartilham de dois traços em comum:

- Problemática perseguida por toda sua vida;

- Todo grande pensador é a expressão de um sujeito social – proletariado revolucionário.

Pode-se afirmar que o objeto da pesquisa de Marx foi a sociedade burguesa e o evolver histórico da sociedade capitalista regida por essa classe social. Seu objetivo consistiu no deciframento do Estado burguês - o que para Marx equivalia a sociedade civil - sua gênese, desenvolvimento, consolidação e crise. Sua obra possui complexos elementos constituintes, sem os quais seu edifício teórico não se sustenta, seriam esses:

- Método dialético – herdada da tradição filosófica clássica, Marx é conhecido por “inverter” a dialética clássica hegeliana fazendo da materialidade

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