MEMORIAL ACADEMICO
Por: Lidieisa • 1/4/2018 • 4.255 Palavras (18 Páginas) • 418 Visualizações
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e depois passou para outro lugar próximo.
As memórias mais marcantes que tenho de lá não são felizes. Assim como eu e minhas irmãs, éramos descriminadas por sermos muito pobres. Não tínhamos condições de ter material escolar e muito menos uniforme, o que acentuava a situação. A Caixa Escolar oferecia o tecido para quem não tinha condições de adquiri-lo, mas sempre ficávamos fora desse privilégio.
Acredito que fiquei lá apenas um ano. Tenho lembranças da minha primeira professora, Dona Agnéia, da funcionária que fazia a merenda e cuidava da limpeza assim como de outras professoras.
O que marcou como lembrança positiva, foi uma apresentação onde eu fui escolhida para ser a Rosa na apresentação da música “A Linda Rosa Juvenil”. Lembro-me do rancor das minhas colegas que moravam na minha rua por ter sido escolhida para representar a personagem. Acho que era por ser a única
criança loura e de olhos verdes da escola. Infelizmente a ignorância ainda é sinônimo de discriminação social.
Meus pais eram pessoas simples, que não tiveram oportunidade de estudar, mas sabiam ler e escrever. Minha mãe poderia ser considerada analfabeta funcional e meu pai apesar de não possuir diploma era uma pessoa letrada. Eles acreditavam que os filhos poderiam mudar a situação através dos estudos. Eram rigorosos a esse respeito.
Depois do pré - escolar, iniciei o ensino fundamental na Escola Estadual Cecília Dolabela Portela Azeredo. Ali também o fator social era determinante. Ser pobre era uma situação excludente. Não se valorizava o potencial do aluno. Íamos para a escola de chinelo de dedo. Como éramos muitos filhos, o uso dos chinelos tinha que ser feito em regime de escala. Encontrávamo-nos no meio do caminho e passávamos o chinelo de um para o outro. A nossa pasta era uma sacola feita com a embalagem plástica de leite. Mal tínhamos cadernos e não podíamos comprar os livros.
Os professores questionavam o motivo de tanto eu, como alguns dos meus irmãos sermos “inteligente”. Tinha uma professora que quando ia “corrigir” as minhas atividades, sempre me questionava de quem eu tinha copiado. Ela não acreditava nas potencialidades dos alunos. Eu ficava retraída. Tinha medo de me manifestar e ser repudiada. Priorizava-se o desenvolvimento da área cognitiva em detrimento à área afetiva No entanto, via de regra, segundo Linhaça (2011,s/p), “a escola não forma, massifica, não ensina, massacra, não prepara para a vida, alija dos sonhos e necessidades individuais.
De acordo com o ponto de vista das Professoras Fátima Salles e Vitória Farias, temos que ter cuidado com as nossas escolhas enquanto educadoras.O que pretendemos com os nossos alunos?Formar ou deformar?
Felizmente esses fatos ocorridos na minha trajetória como aluna da educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, possibilitaram-me um olhar humanizado e mais afetivo na minha prática profissional. Não tenho mágoas. Acredito que por ter sofrido bullying na escola, principalmente por alguns professores, me possibilitou ter um olhar voltado para a afetividade na escola, pois a relação interpessoal professor/aluno é um dos fatores determinantes na construção da auto- estima e, conseqüentemente, na eficácia do processo educativo.
No decorrer dos anos, por questões econômicas, interrompi os estudos em alguns anos no ensino fundamental, para trabalhar e ajudar a aumentar a renda familiar. Após três anos, reiniciei os estudos no turno da noite. Essa época foi muito positiva. Terminei essa etapa e prossegui para o 2º grau em outra escola.
Fui para a Escola Estadual Padre Menezes, única que atendia o ensino de 2º grau em Lagoa Santa. Comecei o 2º grau com alguns anos de atraso, pois tive que parar de estudar para trabalhar em casas de famílias para ajudar na renda mensal da casa.
Confesso que não escolhi o magistério por idealismo. Como postula Freire, “Ninguém começa a ser professor numa certa terça- feira às 4 horas da tarde...” Ninguém nasce professor ou marcado para ser professor. A gente se forma como educador permanentemente na prática e na reflexão sobre a prática.
Nunca me imaginei como professora. Sonhava em ser bailarina, assim como toda menina sonha. Depois queria ser advogada. Sonho sonhado por muito tempo. Em Lagoa Santa existia apenas uma escola de 2º grau que tinha como opções de curso na época, o curso técnico em edificações, contabilidade e o curso normal. Pensar em fazer cursos em faculdade era quase o mesmo que pensar em ir morar na lua. Muita pobreza em uma cidade que não oferecia oportunidades de empregos a não ser trabalhar como empregada doméstica.
Lagoa Santa era uma cidade de veraneio, com muitas “casas de campo”. Não tínhamos perspectivas profissionais além de ser professora. Cursei o primeiro ano básico e no ano seguinte tive que escolher entre o curso técnico em edificações, o curso de contabilidade e o magistério. Escolhi o magistério por não ter outras opções melhores, pois matemática nunca foi a minha matéria preferida.
Mas a partir do momento que escolhi o magistério me empenhei em fazer um curso com excelência. Na escola tinha apenas duas turmas: uma de manhã e a minha turma que era à noite. Éramos poucas alunas, que optamos em fazer o curso à noite, pois todas nós trabalhamos no horário diurno. Após alguns dias, a diretora nos comunicou que pelo reduzido número de alunas, a nossa turma teria que se juntar ao turno da manhã.
Ficamos indignadas, e colocamos para a diretora que trabalhávamos de dia e não teria como estudar no turno da manhã e que o lógico seria a turma da manhã passar para a noite, visto que as colegas não trabalhavam e tinham disponibilidade de tempo. Demos-lhe um ultimato. Ou era assim ou migraríamos para outro curso e o curso de magistério na cidade se extinguiria. No outro dia, o turno da manhã começou a estudar no turno da noite.
O Curso de Magistério me encantou. Comecei a perceber que a minha escolha não tinha sido em vão. No terceiro ano do curso me casei e logo fiquei grávida. Minha filha nasceu em janeiro, no 4º e último ano do curso. A primeira dificuldade em retornar aos estudos foi em relação de como conciliar a rotina de mãe de primeira viagem, fazer estágios e estudar a noite. Mas desafios existem para serem superados. Pensei em parar pelo menos naquele ano. Os meus sogros se dispuseram a ajudar a tomarem conta da minha filha na minha ausência, pois sempre foram conscientes do meu esforço e acreditavam que se eu parasse naquele momento, dificilmente retomaria o curso.
Formei-me com louvor no ano de 1991, dando muita satisfação aos meus
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