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História da educação de surdos - correntes filosóficas

Por:   •  24/5/2018  •  3.123 Palavras (13 Páginas)  •  523 Visualizações

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Muito embora os surdos fossem desprezados pela sociedade, no início do século XVI temos registros das experiências do médico pesquisador italiano Gerolamo Cardano, que viveu no período de (1501-1576), o qual “concluiu que a surdez não prejudicava a aprendizagem, uma vez que os surdos poderiam aprender a escrever e assim expressar seus sentimentos” (JANNUZZI, 2004, p.31).

De acordo com relatos históricos, os procedimentos pedagógicos voltados para os surdos, datam do século XVI, na Renascença (PEDREIRA, 2006).

Na perspectiva pedagógica, podemos destacar o primeiro professor de surdos na história, conforme se lê em PEDREIRA (2006):

Ponce de Leon é considerado o primeiro professor de surdos. Suspeita-se que tenha inventado o primeiro alfabeto manual, recurso bastante utilizado pelos professores da época para auxiliar no aprendizado da fala e da escrita.

Ponce de Leon (1510-1584), conforme MESERLIAN e VITALIANO (2009), conseguiu ensinar a linguagem articulada aos surdos, mas destinada apenas aos filhos surdos de ricos e nobres, os quais teriam que ter, em alguns casos, conhecimentos para administrarem os bens da família, consequentemente, garantindo a continuidade de seus bens. Mesmo que se tenha considerado essa experiência educacional satisfatória, rompendo-se com a lógica dominante, esta obteve pouca repercussão na época (SILVA et al, 2006).

Aproximadamente duzentos anos mais tarde, segundo Lacerda (1988) na cidade de Paris, surge outro personagem de extrema importância na história da educação dos surdos. Trata-se do abade Charles Michel De L’Épée (século XVIII) que, a partir dos estudos dos sinais usados pelos surdos nas ruas de Paris, cria os sinais metódicos com o objetivo de ensinar os surdos parisienses a ler e escrever a língua francesa. Mais tarde, o método criado por L’Épée ficou conhecido como gestualismo, que tinha como base o uso da língua de sinais, pois, para L’Épée, conforme cita Lacerda (1998, p. 7):

[...] a linguagem de sinais é concebida como a língua natural dos surdos e como veículo adequado para desenvolver o pensamento e sua comunicação. Para ele, o domínio de uma língua, oral ou gestual, é concebido como um instrumento para o sucesso de seus objetivos e não como um fim em si mesmo. Ele tinha clara a diferença entre linguagem e fala e a necessidade de um desenvolvimento pleno de linguagem para o desenvolvimento normal dos sujeitos (1998, p. 7).

Com seu sucesso em ensinar a linguagem gestual aos surdos de Paris, L’Epée, em 1755, conforme PEREIRA (2006), fundou a primeira escola de surdos, a qual formou diversos professores surdos para lecionar na França e em outros Países da Europa. Segundo a mesma autora, ainda, L’Epée demonstrava, orgulhosamente, em aulas públicas o desempenho de seus alunos na leitura, na escrita e na forma como expressavam suas ideias.

A transformação de sua escola em Instituto Nacional para Surdos-Mudos de Paris, em 1790, um ano após sua morte, e a atuação de alguns de seus seguidores, como o abade Sicard, garantiram continuidade de seu método até o triunfo do oralismo, no final do século XIX (PEREIRA, 2006).

A história da educação de surdos chega ao Brasil, tendo suas raízes na França, alguns anos mais tarde. Em 1857, sob os auspícios do Imperador D.Pedro II, foi fundado o Instituto Nacional de Surdos-Mudos, no Rio de Janeiro, atual Instituto Nacional de Educação de Surdos, com a vinda do professor surdo francês Ernest Huet (PEREIRA, 2006).

Segundo a mesma autora, a administração de Huet foi conturbada. Somente em 1868, sete anos após sua partida, inicia-se a estruturação do ensino de surdos no Brasil, quando o Dr. Tobias Leite, médico da Secretaria de Estado do Império assume a direção do Instituto.

Conforme Rocha (1997), é interessante destacar que o primeiro livro sobre educação de surdos, publicado em 1871, uma tradução da obra “Methode pour enseigner aux surds-muets”, do Francês J. J. Vallade Gabel, intitulado “Compêndio para o ensino dos surdos-mudos”, sob a forma de perguntas e respostas, traz questionamentos ainda atuais na educação de surdos: o uso da língua de sinais e a aquisição da língua portuguesa oral e escrita.

Apesar da proposta educacional de L’Epée ter tido êxitos, há registros de ter recebido, naquele tempo, muitas críticas, justamente pela utilização de uma Língua de Sinais. Seus críticos acreditavam que tal linguagem era desprovida de uma gramática própria que possibilitasse aos indivíduos surdos a reflexão e a discussão de vários assuntos (SILVA, 2003). Temos, como exemplos de críticos, Heinicke na Alemanha e Pereira em Portugal, para eles o pensamento apenas seria possível por meio da língua oral, a língua escrita seria secundária (LACERDA, 1998).

Como nota-se agora, a discussão acerca dos métodos pedagógicos para educação de surdos teve seus embates durante muitos anos seguindo-se até os dias de hoje, no entanto há evidências gritantes de que o método através de gestos é significativamente mais eficaz comparado ao método falado, fato esse que foi ignorado pelo primeiro congresso que discutiu a educação a pessoas surdas, sendo este o evento que influenciou por mais de um século as propostas educacionais para pessoas surdas (MESERLIAN e VITALIANO, 2009).

- CONGRESSO DE MILÃO

Durante o período de 06 a 11 de setembro de 1880 foi realizado o Congresso de Milão, tendo como participantes 182 pessoas, na sua grande maioria ouvintes, provenientes de vários países, como: Inglaterra, Itália, Suécia, Rússia, Canadá Estados Unidos, Bélgica, França e Alemanha. Neste evento foi declarado que, na Educação de Surdos, o método oral deveria ser preferido, ao gestual, pois se acreditava que as palavras eram, consideravelmente, superiores aos gestos (SILVA et al, 2006).

No referido congresso foi determinado por maioria de votos que o método a ser utilizado na educação de surdos seria o oral, o pressuposto para tal opção era a afirmação de que a surdez era uma deficiência e como tal deveria ser erradicada, pois de acordo com ideias já conhecidas do educador alemão Heinick, o qual preconizava o futuro oralismo, o pensamento só se desenvolveria através da língua oral. Este considerava a escrita secundária e a Língua de sinais um retrocesso (PEREIRA, 2006). Sendo assim, durante mais de um século a metodologia de ensino de pessoas surdas foi o oralismo.

- ORALISMO

Essa corrente iniciou-se em 1880 e perdurou até meados do século XX. Esse

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