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A natureza anímica da criança

Por:   •  21/10/2018  •  4.210 Palavras (17 Páginas)  •  244 Visualizações

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“Para o oitavo aniversário de Ivone, a mãe convidou seus companheiros de brinquedo da mesma idade. Porém Ivone despareceu. Retirou-se para debaixo da toalha. (…) Foge para um canto, chora muito tempo introvertidamente, fitando com o rosto sombrio, mas com o olhar cheio de ansiedade, a brincadeira das outras crianças. Finalmente, quando se decide a brincar também, fica feliz, olha para todas as crianças, uma após a outra, com olhos brilhantes, pedindo simpatia, e fica profundamente triste quando elas se vão. Principalmente uma das menininhas ela beija afetuosamente, declara-a interiormente sua ‘amiga’ atribuindo-lhe em silêncio as mais belas qualidades, principalmente aquelas que lhe faltam.” (p. 26)

“Ivone gosta de procurar recantos silenciosos para meditar. (…) Ela não é covarde, embora tenha medo de gente. Seus empreendimentos têm algo de aventuroso e brotam de um rico mundo imaginativo, um tanto estranho. Ela pensa muito. Em seus pensamentos, ela mesma representa um papel importante: uma princesa, uma pobre órfã, um herói, uma pessoa injustamente perseguida. Não pode ouvir falar na Gata Borralheira sem se ligar de tal modo com a personagem e a situação que julga passar, ela mesma, por suas aventuras. Seus olhos grandes e ligeiramente úmidos olham ora sombrios, ora excessivamente alegres, sem que as causas sejam visíveis. Seus cabelos finos e lisos sobre a testa alta e pálida transformam-se, em sua imaginação, em cachos dourados, e então ela ergue com orgulho sua cabecinha, que é um pouco inclinada, e as costas finas, em geral um pouco curvas.” (p.26)

A criança melancólica é anímica e fisicamente uma criança delicada, assim requer muito cuidado e compreensão. Essa criança gosta de brincar sozinha e vive escondida em algum cantinho, lendo um conto de fada triste ou com uma boneca na mão. A criança melancólica sente o peso do mundo e da realidade e facilmente se entristece ou fica mal-humorada. Sua melancolia a faz sentir-se culpada das travessuras, como se fossem grandes pecados. Ela precisa de alguém com quem se possa abrir com plena confiança.

Com esse temperamento, a criança requer muito alimento anímico e espiritual. Assim, quem lhe conta histórias, devem escolher contos que estimulem a esquecer a própria melancolia. Essa criança é delicada, então deve ir para a cama a noite com pensamentos cordiais e harmoniosos, e pela manhã, ser despertada com grande amabilidade.

O temperamento colérico, citado na obra da autora, é também exemplificado para melhor compreensão. Agora nos é mostrado o exemplo da Tania.

“Tânia está fora de si. Com os dois punhos, bate num menino (ela tem dez anos, ele tem uns doze). Seus cabelos desgrenhados se levantam como as penas de uma ave de rapina. As proeminências em sua fronte bem redonda parecem se transformar em chifres. (…) Tânia pega do chão o irmãozinho – causa inocente da luta e que o menino grande empurrara – e o arrasta atrás de si. Ela não chora, mas soluça em convulsões que não consegue dominar e faz movimentos violentos para enxugar as lágrimas, que correm contra a sua vontade. Ao fazê-lo, caminha batendo os pés, ainda mais fortemente do que costuma, pisando energicamente com os calcanhares. Uma das mãos ainda está cerrada em punho e a outra segura firmemente o pulso do pequeno. (…) seu pescoço está encolhido entre os ombros, como se quisesse contrair e endurecer todo o seu ser.” (p.30)

O temperamento colérico requer muita paciência, pois com o efeito, somos facilmente levados a perder o controle diante de uma criança furiosa. O educador deve manter o controle, a serenidade e a calma.

É importante proporcionar à criança colérica oportunidade para extravasar suas forças, de maneira proveitosa, sem causar prejuízos. O pequeno colérico precisa de bastante espaço para se mover livremente, jogar-se no chão e se debater a vontade.

O último temperamento é o da criança fleumática. E Caroline Von Heydebrand nos traz o exemplo do João.

“Joãozinho está encarrapachado em sua carteira e olha apaticamente para a frente. Não obstante, não é de todo inativo, embora se desinteresse por completo das explicações do professor sobre os mistérios da tabuada. Está sonhando com o sanduíche que sua mãe, como ele não deixou de observar, cobriu com uma boa camada de manteiga e queijo, e com a bela maçã vermelha que ela lhe pôs na lancheira. João fixa durante um instante o professor com seu olhar sonolento e vê que este lhe vira as costas para escrever algo na lousa. Então abre com seus dedos gordos o papel do sanduíche. (…)Em casa, João leva uma vida pacata. Sua educação não teve problema algum. Horas a fio, ficava tranquilo no carrinho, segurando na boca a chupeta (imprescindível para a paz de sua alma) e abandonado ao seu torpor, quando não acompanhava com o olhar os movimentos lentos de suas mãozinhas gordas, que durante muito tempo eram seu único ‘brinquedo’. Só a visão da comida conseguia tirá-lo da apatia. (…) Não adoece frequentemente e, para alegria sua de sua mamãe, ele digere os sanduíches mais pesados, as omeletes mais gordurosas, o pudim mais denso. Aprendeu a andar bastante tarde.” (p.35 - 38)

O fleumático é mais lento que a média. Sua fantasia não é das mais fortes, demora para andar, tem preguiça de engatinhar e prefere ficar na mamadeira até mais tarde do que as outras crianças.

De acordo com a autora, a criança fleumática é de todos os seres humanos a que mais se aproxima da natureza, pois tudo que se fundamenta nas funções vegetativas do seu corpo funciona sadiamente. Daí sua boa memória, sua capacidade de aprender tudo o que pode ser aprendido por exercícios repetidos.

A criança fleumática dispõe de uma educação razoável, são particularmente fiéis, persistentes, honestas, ordeiras, conscienciosos e aptos a enfrentar as tempestades da vida.

É importante educar essas crianças fisicamente com muito critério e reduzir-lhes o gozo do bem estar corporal a limites razoáveis, nãos sendo conveniente permitir que essas crianças satisfaçam sua vontade de dormir desenfreadamente.

Paciência é uma qualidade importante para lidar com o fleumático. Não o mesmo tipo de paciência que se precisa ter com um colérico, mas aquela tranquilidade de quem sabe esperar. Um bom professor para o fleumático precisa saber esperar seu tempo, que é diferente dos outros.

Diante desses comportamentos, vemos que o temperamento é um dom. É a forma assumida pela vida anímica na base da existência corporal. Assim, toda educação compreensiva deve saber discernir

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