Análise "O Safári Definitivo"
Por: Salezio.Francisco • 3/4/2018 • 4.146 Palavras (17 Páginas) • 372 Visualizações
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- DESENVOLVIMENTO
3.1. METODOLOGIA
Após a leitura do conto, da biografia da autora, do material disponibilizado através da vídeo-aula e do livro-texto, foi realizada uma análise das características da obra e como estas se revelam, de forma a possibilitar a elaboração das respostas às perguntas apresentadas.
3.2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
O presente trabalho fundamenta-se na leitura do conto, da biografia da autora e do material disponibilizado através da vídeo-aula e do livro-texto, com o objetivo de identificar e analisar as características de estilo da autora, com o objetivo de elaboração das respostas às perguntas apresentadas.
3.3. CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA
A narrativa acontece em Moçambique, país localizado no sudeste da África, cuja capital é Maputo, e possui cerca de 19 milhões de habitantes. O país era uma colônia portuguesa e tornou-se independente em 1975.
Com a independência, a Frente de Libertação de Moçambique, FRELIMO, passa para o poder, mas enfrenta a Resistência Nacional de Moçambique, RENAMO, partido anti-comunista secretamente apoiado pela minoria branca no governo da África do Sul. Como política de dominação e para se manterem no poder, essa minoria branca do governo sul-africano queria desestabilizar os governos marxistas pós-coloniais de outros países africanos para que estes não servissem de modelo de insurgência aos seus nativos negros, e para isso, apoiava as guerrilhas nas novas nações liberadas com governos negros. Isso resultou em uma violenta guerra civil de 1976 a 1992, que foi responsável pelo atraso do progresso na região e fez com que uma enorme massa de refugiados saísse de suas terras ou países em busca de proteção na África do Sul.
O conto “O safári Definitivo” foi escrito em 1989, período em que a guerra civil ameaçava a vida de muitos. No ano anterior, foram registradas as mortes de 600.000 pessoas, além de 494.000 crianças que morreram de desnutrição, como consequência da guerra. Manifestar-se contra o governo poderia resultar em prisão ou até mesmo em morte, e Nadine Gordimer estava ciente desse fato e do risco que poderia correr caso falasse abertamente da realidade devastadora em Moçambique. Por esse motivo optou por lançar mão do simbolismo em várias passagens da obra.
As histórias dos dois países se entrelaçam no conto. Assim como Moçambique, terra natal da menina protagonista da história, e África do Sul, país natal de Gordimer, o continente africano como um todo enfrentou diversas guerras e revoltas civis contra seus governos, e seus povos foram vitimados pela violência da guerra e da fome, com consequências que se estendem até os dias atuais.
3.4. APRESENTAÇÃO DAS PERGUNTAS E RESPOSTAS
- a. Considerando o contexto histórico do conto, qual é posição de Gordimer frente a essa situação?
Nadine Gordimer, escritora branca sul-africana, nasceu em Springs, uma cidade próxima de Johanesburgo. Desde muito jovem, demonstrou interesse na luta contra a desigualdade econômica e social que afligia seu país. Filha de um pai refugiado da Rússia czarista e de uma mãe ativista, Gordimer buscou denunciar em suas obras a situação de pobreza e discriminação enfrentada pelos negros na África do Sul. Sofreu duras repressões do governo e entrou para a chamada lista negra de escritores antiapartheid. Mesmo após o fim do regime de segregação racial, parte de seu trabalho continuava censurado devido a conteúdo considerado “subversivo” e “unilateral”.
Quando escreveu “O safári Definitivo”, Gordimer estava extremamente compadecida pela situação dos refugiados na África do Sul. Moçambique sofreu 14 anos com a Guerra Civil. Além dos ataques indiscriminados aos civis pelos rebeldes, a situação violenta do país se agravou ainda mais pelo colapso econômico, falta de serviços médicos durante anos e a fome que se alastrara por quase todo o território. Ferido e faminto, o povo moçambicano buscou refúgio em países vizinhos e, entre eles, a África do Sul. Em sua obra, Gordimer retrata a história desta comunidade invisível que aos olhos de muitos não pode ser considerada uma comunidade de fato pois, não tem um lugar: os refugiados. Seja pelos horrores da guerra, conflitos religiosos ou econômicos, a África do Sul recebeu centenas destes refugiados que procuravam asilo, emprego e moradia abalando a também caótica situação pela qual passava o próprio país que os acolheria.
O tema recorrente da violência e miséria na África traz consigo questionamentos sobre este cenário perturbador. Quando mulheres debilitadas e crianças famintas fogem de suas casas no meio da noite e podem contar apenas com ajuda humanitária para obter água e comida, o ódio racial e a xenofobia são alimentados pelo sistema onde a desigualdade educacional gera elevados índices de analfabetismo reforçando estereótipos e a subordinação dos menos afortunados pelos homens poderosos. Através da literatura, Nadine Gordimer usou a arte da palavra para expor seu sentimento de angústia pelo sofrimento imposto ao povo africano. Que através de sua obra a humanidade possa refletir e mudar sua posição diante da realidade que nos cerca.
b. Qual seria o tema principal do conto?
O tema central da história é o apartheid, que significa “separação”, o sacrifício, a coragem e a esperança. Mesmo havendo uma guerra no seu país, e vivendo em condições desumanas, a família nunca perde a esperança e deixa para trás sua aldeia e suas raízes em uma árdua jornada para escapar e buscar um futuro em paz. A família compreende que a alternativa para a vida é a morte, e assim, usa cada oportunidade como forma de lutar pela sobrevivência. A vida é uma batalha constante, com breves intervalos de felicidade e serenidade.
O conto também fala de esperança e perseverança. Mesmo com desfecho incerto, a família segue na sua busca por um destino melhor. Apesar das tragédias que ocorreram, todos tentam permanecer juntos em seu propósito. A avó desfaz-se de seus bens materiais ao longo do caminho, seja em troca de comida ou água, porque o único objetivo é sobreviver, para que, vivos, possam vislumbrar dias melhores.
2. Quem narra a história?
A história é narrada em primeira pessoa por uma menina sem nome de 11 anos. Ela é a irmã do meio, de um irmão mais velho e um mais novo, ainda muito pequeno. Após
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