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CRÍTICA SOCIAL: CONDIÇÃO DE MISERABILIDADE E POBREZA

Por:   •  8/3/2018  •  1.176 Palavras (5 Páginas)  •  345 Visualizações

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comer, e a mãe não consegue proporcionar nem um cobertor para a filha de três anos, que tossiu a noite toda, se aquecer.

[...] A chupeta suja, de bico rasgado, que o bebê mordiscava, escapuliu rolando por sob a irmãzinha de três anos, que, a seu lado, suga o polegar com a insaciedade de quando mamava nos seios da mãe. O peitinho chiou o sono inteiro e ela tossiu e chorou, porque o cobertor fino, muxibento, que ganharam dos crentes, o irmãozinho de seis anos enrolou-se nele. (RUFFATO,2013, p.22)

Outro aspecto que chama a atenção do leitor é a forma como a criança de treze anos é abusada sexualmente pelo companheiro da mãe viciado em crack. Sabemos que atualmente a maioria dos abusos são cometidos em crianças mais pobres, que possuem uma baixa ou nenhuma orientação sexual.

[...] Birôla, homem bom, ele. Uma vez levou a meninada no circo, palhaços, cachorro ensinando roupinha-de-balé, macaco de velocípede, domador chicoteando leão desdentado em-dentro da jaula, cavalos destros, trapezista, equilibrista, pipoca [...] Aí começou a abusar da mais velha, agora de-maior, mas na época treze anos. (RUFFATO, 2013, p.22)

Toda a carga dessa miséria recai sobre a mãe, assassina do companheiro viciado em crack:

[...]forças não tem mais [...] boca desbanguelada, os ossos estufados os olhos, a pele ruça, arquipélago de pequenas úlceras [...] e lêndeas explodem nos pixains encipoados das crianças e ratazanas procriam no estômago do barraco e percevejos e pulgas entrelaçam-se aos fiapos dos cobertores e baratas guerreiam nas gretas. (RUFFATO,2013, p.22)

O que conseguimos observar no capítulo “Ratos” é que a culpa de toda essa desgraça que a família encara incide sobre a mãe. Ela não consegue fazer nada para que sua realidade e a realidade de seus filhos possa ser modificada. A mãe, apesar de ter pouca idade, como o próprio livro menciona não tem condições nem físicas, nem psíquicas e muito menos financeira para lutar por melhores condições de vida. Sua força interior foi esgotada, com certeza, pelo sofrimento e pelo ritmo desesperador de sua vivência até aquele momento.

Assim, as personagens tornam-se alvo de uma violência em princípio destinada aos infelizes. Elas estão na mira da pobreza sem esperança, participam por acidente ou pela compreensão, certamente momentânea, de que o mal e a desigualdade perversa de renda, a falta de sentido da vida diz respeito a todos os seres humanos.

REFERÊNCIAS

DEBORTOLI, Solange Fernandes Barrozo. A (des)construção narrativa como forma de representação da sociedade do espetáculo em Eles eram muitos cavalos, de Luiz Ruffato. Dissertação (Mestrado) ¬ Universidade Regional do Alto Uruguai e das Missões, Erechim, 2011.

LAFETÁ, João Luiz. 1930: A crítica e o Modernismo. São Paulo: Ed.34, 2000.

RUFFATO, Luiz. Eles eram muitos cavalos. São Paulo: Companhia das Letras, 2013.

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