Mensagem A Lenda Da Árvore Vermelha

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e condenados. Não sem razão, muitas vezes, mas queria tanto a chance da dúvida. Pensava que até um cão, na defensiva, pode morder um inocente. E ela viu cair relação após relação. Primeiro, seu irmão, depois um cunhado e depois uma cunhada. E era grande a tentação de ser a próxima. E se perguntava se o que a impedia era covardia ou orgulho. Não sabia se tinha medo de enfrentar as consequências ou se não queria ser vista como fracassada. Ou as duas coisas. Pensava no filho. Aparentemente, tão bem ajustado. Era apavorante pensar que uma atitude, da qual talvez nunca pudesse voltar atrás, seria capaz de mudar a vida da criança, irremediavelmente. E, ao contrário do que o marido pensava, suas amigas ainda torciam para que, ao fim das contas, eles conseguissem recomeçar.

Mas é preciso voltar à árvore. Enquanto dormia, a mulher sonhou. No sonho, seu marido acordava durante a noite e percebia que ela não estava lá. Saía do quarto, passava pela casa e começava a ficar intrigado com a ausência. Procurava a chave do carro e ligava para seu celular, sem ser atendido. Naquela noite, surpreendentemente, não conseguiu mais voltar a dormir e, ao amanhecer, pôs-se a procurá-la, desesperado.

Durante a busca, em todo aquele dia, propôs a si mesmo nunca mais ir dormir sem dar-lhe um abraço, sem colocar sua mão sobre a dela, sem lhe dar um beijo de boa noite, pois não sabia se a veria no dia seguinte. Pegou a estrada e seguiu o pôr-do-sol até avistá-la repousando sob a árvore vermelha. Ao ser despertada, não sabia dizer como chegara ali. E ele, pela primeira vez em muitos anos, não se importou em ouvir explicações, nem tentou mostrar-lhe o quanto ela havia errado, pois ali entendeu que não a perdera definitivamente. Naquele instante, a mágica aconteceu. Eles se abraçaram como na Valsinha de Chico Buarque. Aquela árvore os envolveu e os fez viajar pelo tempo, e se viram na velhice, juntos e felizes.

E, assim, surgiu a lenda de que a árvore vermelha reanimava os corações entristecidos e secos e os fazia brilhar mais que o sol, mais que a lua. Grandes reconciliações foram feitas sob suas folhas, depois que aquele casal se reencontrou. Ninguém sabe ao certo onde eles estão e se realmente existiram, mas até hoje, ao pôr-do-sol, conta-se que se quem estiver sob a sombra de sua copa prestar muita atenção, ouvirá a canção A love until the end of time.

Belém, 30 de novembro de 2011.