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EJA: Formação e prática do educador

Por:   •  24/4/2018  •  3.686 Palavras (15 Páginas)  •  258 Visualizações

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Na educação o homem é considerado como sujeito do conhecimento; a escola é identificada como um dos lugares de conhecimento, mas não o único. O processo ensino-aprendizagem é desenvolvido objetivando a superação da relação entre opressores e oprimidos; há horizontalidade na relação professor-aluno, embora o docente tenha clareza quanto ao seu papel de orientador do processo educativo. A metodologia se caracteriza pela dialogicidade e pela problematização dos conteúdos escolares em relação aos conteúdos do mundo e da vida. São desenvolvidos processos de autoavaliação, de forma que o planejamento de ensino, os conteúdos, a metodologia, a relação professor aluno etc. possam ser repensados continuamente.

Na concepção dialógica/problematizadora da educação e da EJA existe uma preocupação com o desenvolvimento da consciência política mediante o trabalho coletivo e a valorização da prática social dos sujeitos do processo educativo. Assim, alfabetização não deixa de ser a aquisição de um padrão convencional de escrita, leitura, ortografia, etc. porém,

torna-se também a busca pela interpretação dos conteúdos ideológicos que envolvem as palavras e o discurso. Do mesmo modo, a continuidade dos estudos é uma forma de caminhar em direção à emancipação humana.

As práticas da EJA têm sido marcadas pela influência de ambas as concepções de educação: de um lado estão as práticas que dão excessiva ênfase às metodologias de ensino e à utilização de manuais didáticos, que facilitam a aquisição dos requisitos para a leitura e a escrita; de outro, estão as práticas que focalizam o conteúdo social no fazer educativo e os processo dialógicos que possam levar ao desenvolvimento da consciência crítica, da emancipação.

É importante lembrar, como diz Soares (2004, p. 16) que:

“O que se propõe é, em primeiro lugar, a necessidade de reconhecimento da especificidade da alfabetização, entendida como processo de aquisição e apropriação do sistema da escrita, alfabético e ortográfico; em segundo lugar, e como decorrência, a importância de que a alfabetização se desenvolva num contexto de letramento – entendido este, no que se refere à etapa inicial da aprendizagem da escrita, como a participação em eventos variados de leitura e escrita, e o0 consequente desenvolvimento da habilidade de uso da leitura e da escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita e de atitudes positivas em relação a essas práticas; em terceiro lugar, o reconhecimento de que tanto a alfabetização quanto ao letramento têm diferentes dimensões, ou facetas, a natureza de cada uma delas demanda uma metodologia diferente, de modo a que a aprendizagem inicial da língua escrita exige múltiplas metodologias, algumas caracterizadas por ensino direto, explícito e sistemático – particularmente a alfabetização em suas diferentes facetas - outras caracterizadas por ensino incidental, indireto e subordinada a possibilidades e motivações das crianças; em quarto lugar, a necessidade de rever e reformular a formação dos professores das séries iniciais do

ensino fundamental, de modo a torná-los capazes de enfrentar o grave e reiterado fracasso escolar na aprendizagem inicial da língua escrita nas escolas brasileiras”.

A formação do educador da EJA, portanto, dá ênfase a duas dimensões indissociáveis. De um lado, valoriza-se a experiência do aluno estagiário que já trabalha na EJA. De outro, valorizam-se os conhecimentos já construídos na EJA, seja pelas pesquisas acadêmicas, seja pelo aprofundamento das práticas desenvolvidas nos diferentes programas de EJA no Brasil. A articulação entre prática e teoria é essencial na formação do educador da EJA.

Vamos pensar como fazer a articulação entre prática e a teoria (ou entre prática e teoria) nas aulas que daremos, como futuros professores da EJA, observando no que as concepções de EJA influenciam a formação e a prática do educador.

Segundo os trilhos de Moura (1999, p 23), concordamos que “Toda a história das ideias em torno da alfabetização de adultos no Brasil acompanha a história da educação, como um todo que, por sua vez, acompanha a história dos modelos econômicos e políticos e consequentemente as relações de poder, dos grupos que estão no poder”.

É importante mencionarmos aos fatores estruturais da sociedade brasileira (economia voltada aos interesses externos, relações patrimonialistas na esfera do Estado, enraizamento das relações de poder, de submissão e de clientelismo etc.), pois a educação de adultos integra esse contexto maior de relações nacionais e internacionais. Durante muito tempo, a educação de adultos esteve a margem do debate sobre educação pública. Ao longo do século XX, o analfabetismo foi tratado como um mal que assolava a sociedade e que precisava ser erradicado, era preciso diminuir a “ignorância” e formar um “coletivo eleitoral” que viesse responder aos interesses da elite política, segundo o ideário político daquele momento.

O analfabeto era visto como um ignorante, característica que marcou o desenvolvimento de programas de alfabetização, os quais valorizavam o ensino das primeiras letras – leitura e escrita. Portanto, bastava que o sujeito assinasse o próprio nome para ser considerado alfabetizado. Como diz Moura (1999), a concepção instrumental de alfabetização predominou até meados dos anos de 1950 no Brasil.

Entretanto, ainda podemos verificar em materiais didático-pedagógicos traços da concepção instrumental da educação, particularmente quando o contexto sociocultural dos educandos é ignorado no processo pedagógico.

Como afirma Oliveira (2007, p.97), “a lógica que deve presidir a seleção e apresentação dos conteúdos aos alunos é a da educação de jovens e adultos e não a do ensino regular”. A autora enfatiza a abordagem teórico-metodológica que articula os conteúdos com as situações de vida cotidiana das populações.

Concepção instrumental

Concepção dialógica

Preocupa-se com que o aluno domine

os conhecimentos tradicionais

Preocupa-se com o estudo do conhecimento com significado sociocultural

Na concepção instrumental de educação, a preocupação central é que o aluno domine os conhecimentos escolares tradicionais. Na concepção dialógica, a preocupação central é que o aluno possa trabalhar com os conhecimentos que tenham

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