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A CAPITÃES DA AREIA: AS VISÕES DOS AMADOS DIANTE DOS MENINOS DO TRAPICHE

Por:   •  29/11/2018  •  1.757 Palavras (8 Páginas)  •  433 Visualizações

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Na obra literária, é enfatizado um grupo de crianças abandonadas, que para o escritor, eram vistas como heróis no estilo Robin Hood, que tiravam dos que tinham para atender a eles mesmos e ainda que envolvidos em roubos, não roubavam entre si. Amado, também expõe os problemas existenciais destes garotos, como falta de estrutura familiar, comida, ambiente digno para morarem e simples vestimentas, que os transformam em personagens únicos e corajosos.

Voltando-se para a transmutação, é notório que muitas atitudes baderneiras dos menores eram justificadas pela carência de amor e afeto que tinham, uns porque tinham sido abandonados pela família, outros porque nunca as tinham conhecido. Além de evidenciar as diferenças sociais, em que temos de um lado meninos que por falta de opção, são conduzidos ao crime sendo assim os socialmente marginalizados e do outro, a burguesia que se mostra insensível à pobreza existente na cidade.

De modo geral, em ambos, as preocupações sociais dominam. Embora pobres, sem uma moradia adequada, família, carinho e atenção, as crianças desfrutavam a liberdade das ruas, para elas, a liberdade era seu bem maior. Faltavam-lhes alimentos, ambiente limpo, um simples banho, mas com toda carência de afeto e cuidado, não deixavam de ser crianças, os meninos que tiveram seus sonhos ceifados antes mesmo de poder sonhá-los.

5 JUSTIFICATIVA

Sabe-se que nem todos os romances são adaptados para o cinema, entretanto uma grande quantidade deles, nacionais e/ou internacionais, já foram transformados em cenas fílmicas. A partir de então, o diretor realiza uma tradução intersemiótica, deixando de forma implícita ou não, suas impressões e formas de ler o texto na versão levada para as telas. Neste ponto, ao assistir a uma adaptação fílmica, o expectador não entra em contato com um enredo do texto primário, senão com uma transposição de alguém que o leu e o interpretou para a linguagem fílmica.

Apesar de ser um romance publicado na década de 30, Capitães da Areia retrata narrativas do cotidiano, principalmente relacionados ao social. Lendo Jorge Amado e caminhando pelas ladeiras do Centro Histórico da cidade de Salvador, encontramos alguns Pedros, Doras, Professores e, temos a imagem dos heróis, como o próprio apresenta no romance. Já, ao assistir à adaptação, mesmo sendo baseada na história narrada no romance, podemos, também, encontrar os meninos que Cecília Amado apresenta, sem oportunidades de crescimento diante de uma sociedade que vira a face para a inclusão social deles.

Tendo em vista que muitas aulas de literatura no ensino médio estão sendo menos produtivas, devido alguns alunos não terem o hábito da leitura, um estudo comparado de duas obras (romance e filme), pode promover uma maior interação entre estes estudantes e os autores, juntamente a narrativa e com o contexto social descrito em ambos, além de trazê-los para uma reflexão do seu social. Diante disto, uma obra literária não pode ser substituída por uma obra fílmica, estes devem ser apresentados juntos, como há expectadores que nunca leram ao romance e criticam sua transmutação por não conhecer a narrativa primária.

Conclui-se, então, que por unir dois meios artísticos de sistemas semióticos distintos, este projeto permite mostrar que uma adaptação não precisa, necessariamente, conter a mesma sequência de cenas que a obra original traz, assim como as visões dos criadores podem ser diferentes. Ele também pode contribuir para o ensino da literatura, tendo em vista a obra por mais um meio midiático, tornando as aulas lúdicas e conscientizar os professores à compreensão de que filme não pode substituir a leitura do romance.

6 ANTECEDENTES DE PESQUISA

Realizando uma pesquisa preliminar a respeito dos assuntos abordados, foram utilizados como referencias os materiais de estudos científicos que abordam a prática da tradução intersemiótica ou também conhecida como “transmutação”, além de artigos acadêmicos os quais dissertam sobre o assunto nas obras aqui apresentadas, e não menos importante, estudos relacionados ao romance e à adaptação fílmica.

Diante desta perspectiva, o apoio teórico do autor Júlio Plaza (2003) conduziu as pesquisas, possibilitando maior compreensão de tal prática e a dissertação Capitães da areia, um estudo comparado entre os amados - literatura e cinema em diálogo, da mestranda Renata Hograefe da USP (2015) a qual busca aproximar a obra literária da obra fílmica.

Plaza (2003) abarca a tradução intersemiótica podendo ser encontrada das artes plásticas e visuais para a linguagem verbal e vice-versa, ou seja, pode existir uma interpretação de um sistema de signos para outro. Citando como análogo, a tradução de uma obra literária para o cinema, quando alguns recursos da escrita são transformados em visuais, tornando o narrador da obra primária em cenas trabalhadas sem conversações, levando o espectador à apreciação dos detalhes de iluminação, ambiente, aparência das personagens, sentindo-se parte do elenco do que é assistido.

No romance Capitães da Areia, narrado na terceira pessoa, Amado torna-se um narrador onisciente, descrevendo as personagens e fatos indispensáveis ao leitor. Já na adaptação fílmica, o narrador torna-se observador, apenas acompanha as personagens, deixando que o leitor tenha suas próprias opiniões. Esta diferença de narrativas torna-se perceptível, dentre tantas outras passagens, no capítulo “As Luzes do Carrossel”, no qual os meninos se divertem, esquecendo por algum momento sua triste realidade e preconceitos sofridos:

[...] O sertanejo trepou no carrossel, deu corda na pianola e começou a música de uma valsa antiga. O rosto sombrio de Volta Seca se abria num sorriso. [...] Pedro Bala não pensava em ser um dia o chefe de todos os malandros da cidade. O Sem-Pernas em se jogar no mar, onde os sonhos são todos belos. Porque a música saía do bojo do velho carrossel só para eles e para o operário que parara. E era uma valsa velha e triste, já esquecida por todos os homens da cidade. [...]

(AMADO, 2014, p. 68)

Este registro é indispensável para mostrar à alta sociedade baiana que mesmo mal apresentados, não passavam de crianças as quais diante à burguesia, eram os baderneiros e delinquentes. Amado, então, expõe que precisam de inserção social e mesmo com ausência desta, eles vivem e sobrevivem com o que conseguem, tornando-se admirados por alguns amigos que os acompanham.

Com relação a referida passagem do romance na adaptação, temos

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