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Resenha - Origem do Capitalismo

Por:   •  16/10/2018  •  2.124 Palavras (9 Páginas)  •  320 Visualizações

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do capitalismo mas que não foram marcantes para a mudança das ideias enraizadas no modelo mercantil clássico, mesmo que este tenha sido aprimorado.

Adentrando os principais debates marxistas, Wood nos alerta para uma duplicidade narrativa na obra de Karl Marx o que justifica a enorme discordância entre os autores marxistas e até a não contestação do modelo mercantil em diversas obras marxistas. O debate da transição entre o economista Paul Sweezy e o historiador Maurice Dobb em 1950 é um importante marco para a discussão marxista a respeito da origem do capitalismo utilizando da transição do sistema feudal para o sistema capitalista buscando assim entender o “motor primordial” dessa passagem com a contribuição também do medievalista R.H Hilton: “De várias maneiras, Dobb e Hilton sugeriram que a dissolução do feudalismo e a ascensão do capitalismo haviam resultado da libertação da pequena produção mercantil, de sua liberação do jugo do feudalismo, sobretudo por meio da luta de classes entre senhores e camponeses.”(p.38) os intelectuais que foram responsáveis por essa discussão que se tornou livro mais tarde em 1976 discordavam no ponto que tratava a dissolução do feudalismo como suficiente para a ascensão do capitalismo, e aqui novamente vemos a sutileza do discurso do modelo mercantil: “se a dissolução do feudalismo é suficiente para explicar a ascensão do capitalismo, não estamos de novo muito próximos dos pressupostos do modelo mercantil? (...) Dobb e Hilton, portanto, não parecem questionar todos os pressupostos básicos do modelo mercantil.”(p.41) Paul Sweezy é o único que tinha dúvidas inquietantes a respeito da “via realmente revolucionária” e sobre a não aceitação da dissolução do feudalismo como momento de elevação do capitalismo, Wood nos mostra algumas que essas questões não foram esclarecidas. O marxista Perry Anderson nos dá uma interpretação ligada a outro momento da História: a formação do Estado absolutista. Em sua visão a lógica do absolutismo é fundamentalmente feudal, ele divide os poderes políticos e econômicos mas não os transforma essencialmente. O poder político parte para o estado e o poder comercial passa a ficar menos rígido, fazendo assim com que os comerciantes sigam uma lógica que já parece intrínseca anteriormente. Logo, Wood deduz que a contribuição de Anderson apesar de fascinante é apenas um aprimoramento do modelo mercantil e ainda contesta que “o capitalismo inglês não desfrutou do benefício do absolutismo, enquanto o absolutismo francês não deu origem ao capitalismo”(p.47) esses temas serão base para a argumentação na segunda parte do livro.

Em Alternativas Marxistas, a autora nos apresenta uma visão de grande influência para a sua obra; a do historiador Robert Brenner que apoiado no debate da transição contribuiu para a discussão partindo da dúvida de Sweezy e escolheu a via interna para procurar responder essa questão, ao contrário de Sweezy que procurava agentes externos para a solução. Outra premissa de Brenner era não pressupor que neste momento já havia uma lógica capitalista. Para ele, os senhores e camponeses, especificamente da Inglaterra “dispararam involuntariamente uma dinâmica capitalista, enquanto, no conflito de classe uns com os outros, agiam no sentido de se reproduzirem como era. A consequência não pretendia foi uma situação em que os produtores ficaram sujeitos aos imperativos do mercado.” e é essa a diferença entre a via de Brenner e a dos intelectuais do debate da transição. Dentro da lógica interna do feudalismo a situação se deu de uma maneira determinada em sua época, que não pode ser prevista ou resgatada no passado e que não foi uma oportunidade mas um imperativo e nesse momento surgem as compulsões “Essas regras geraram suas próprias leis de movimento singulares. O resultado foi o acionamento de uma nova dinâmica histórica: uma ruptura sem precedentes com os antigos ciclos malthusianos, um processo de crescimento auto-sustentado, novas pressões competitivas, que exerciam seu próprio efeito na necessidade de aumentar a produtividade, reconfigurando e concentrando ainda mais a posse da terra, e assim por diante. Essa nova dinâmica foi o capitalismo agrário.” (p.53). A compreensão da tese de Brenner nos ajuda a mergulhar no cerne da ideia de Wood já que ele é o primeiro autor citado a partir de um capitalismo não-natural.

Na segunda parte denominada A origem do Capitalismo, Wood pretende explorar e expor sua tese partindo da origem agrária desse sistema. Ela lança-se contra uma ideia culturalmente difundida no Ocidente: de que o Capitalismo começa e se desenvolve na cidade. Para ela “Talvez o corretivo mais salutar desses pressupostos e de suas implicações ideológicas seja o reconhecimento de que o capitalismo com todos os seus impulsos sumamente específicos de acumulação e maximização do lucro, não nasceu na cidade, mas no campo, num lugar muito específico e em uma época muito recente da história humana.” (p.77). Entre essas peculiaridades, está principalmente a nova cultura de propriedade que se instaura na Inglaterra: a do arrendamento e do melhoramento das terras. Os arrendamentos são mais comuns na Inglaterra do que em qualquer outro lugar da Europa na época e geram situações muito singulares, inclusive o que ela denomina de “mercado de arrendamentos”(p.84) que gerava uma lógica de competição entre os arrendatários que tinha como motor os imperativos capitalistas, específicos daquela sociedade que era muito mais interligada do que as outras, fator que provavelmente favoreceu a competição que consequentemente favorece a maximização dos lucros. Os melhoramentos da terra estavam muito mais ligados a nova forma de propriedade do que a avanços tecnológicos propriamente ditos, a terra produtiva e melhorada era de um grande proprietário que tinha condições de competir no mercado e gerar lucro. Contudo, essa lógica não traz benefícios as classes mais baixas já que é fundamentada na desapropriação da terra que impacta a vida dessa população: “A ética do “melhoramento” em seu sentido original, no qual a produção é inseparável do lucro é também a ética da exploração, da pobreza e da falta de teto.”(p.126) a lógica da luta de classes também se subverte em determinado momento do capitalismo, quando surgem as nações imperialistas a quem as nações menores devem se submeter economicamente. As situações que permitiram o nascimento do capitalismo mudaram completamente a maneira como as pessoas se relacionam entre si e com o meio ambiente, mudaram a lógica econômica, política e a ordem social já que praticamente tudo é produto para o mercado capitalista. Portanto, esse sistema não estava sempre lá esperando o fim dos grilhões da religião

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