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CENÁRIO ARQUEOLÓGICO DO PARANÁ

Por:   •  18/10/2018  •  2.080 Palavras (9 Páginas)  •  234 Visualizações

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Com relação à sua ocorrência no Paraná, Prous (1992) indica que a datação mais antiga para esta tradição no estado é de 5.241±300 AP no sítio José Vieira. Nos sítios Humaitá paranaenses há a presença de choppers e chopping tools e de lascas corticais espessas, geralmente utilizados com gumes brutos, sendo rara a ocorrência de retoques, que costumam se limitar aos raspadores plano-convexos, também conhecidos como lesmas. É interessante notar que no caso específico desta tradição, os artefatos mais cuidadosamente elaborados são encontrados nos níveis mais antigos dos sítios. Seus assentamentos encontram-se geralmente a céu aberto, mas alguns conjuntos foram identificados em abrigos, a exemplo da gruta de Wobeto, na qual foram identificadas, além dos artefatos citados acima, bigornas de seixo picoteados do tipo quebra-coquinho.

Tradição Tupiguarani

Os ceramistas da tradição tupiguarani surgiram no Paraná há cerca de 2.000 AP, saídos da Amazônia, e seus sítios ocorrem com frequência no vale dos rios Paraná, Ivaí, Tibagi e Iguaçu (Parellada 2007). Sendo povos agricultores, os tupiguarani cultivavam uma variedade de espécies que incluía o milho, o aipim (ou mandioca doce), a mandioca brava, batata-doce, feijão e amendoim. A seus produtos agrícolas, agregavam-se também alimentos obtidos através da coleta, da pesca e da caça, esta última uma atividade masculina (Prous 1992). Entre os animais consumidos, encontram-se mamíferos, aves, peixes, répteis, anfíbios, moluscos e insetos (Noelli 2000).

Os sítios tupiguarani caracterizam-se por formarem grandes aldeias, localizadas na parte superior da encosta de morros que dominam um rio principal navegável, e em maior proximidade de córregos ou rios menores para abastecimento de água potável. Sua produção cerâmica é notável pela presença tradicional de decoração plástica e policrômica com traços lineares, embora nem todos os vasilhames sejam decorados (Prous 1992). Seu repertório apresenta vasilhames que serviam às funções de panelas, tigelas, pratos e copos (Noelli 2000) e ‘cuscuzeiros’. No material lítico, que ocorre em pequena quantidade, predominam as lascas, lâminas de machado polido, tembetás, percutores e polidores, e exemplos de matéria-prima utilizada incluem o quartzo, o sílex e a calcedônia (Prous 1992).

Tradição Itararé-Taquara

Esta tradição possui como sua característica principal a ocorrência de estruturas parcialmente escavadas no solo denominadas casas subterrâneas, que poderiam ser usadas para habitação, sepultamento ou estocagem de alimentos (Parellada 2007). Costumam aparecer em conjuntos que podem chegar a até 68 unidades, sendo mais comum, no entanto, agrupamentos menores de uma a três estruturas. Os sítios habitações desta tradição costumam ocupar encostas de morros, próximos a córregos e pequenos rios, e não há um padrão fixo de distribuição das casas nas aldeias (Prous 1992).

Sua cultura material preservada é composta basicamente por fragmentos cerâmicos e material lítico. A cerâmica é caracterizada por vasilhas geralmente pequenas e de pouca espessura, e ocorre o uso de antiplásticos como grãos de quartzo, hematita e feldspato. Sua técnica de manufatura pode ser modelada ou roletada, e as formas geralmente são cilíndricas, esféricas e ovais, com bases planas, côncavas e convexas (Parellada 2007). É rara a presença de decoração, que quando ocorre é quase exclusivamente plástica (Prous 1992), à exceção de engobos vermelhos e pretos (Parellada 2007). A indústria lítica desta tradição é relativamente abundante, comparada à tradição Tupiguarani, sendo confeccionada em matérias-primas como arenito silicificado e basalto, além de pequenos nódulos de sílex ou calcedônia. Nos sítios do Paraná são encontradas muitas lascas não-retocadas, além de raros raspadores pequenos de quartzo e sílex (Prous 1992). Ocorre também a presença de lítico polido, como mãos de pilão e lâminas de machado (Parellada 2007).

Tradição Neobrasileira

Segundo Souza (1997 pp. 35), a tradição neobrasileira é composta por uma “cerâmica arqueológica, confeccionada por grupos familiares, neobrasileiros ou caboclos, para uso doméstico, com técnicas indígenas, podendo apresentar ou não elementos de outras procedências”. Sua origem remonta às interações e trocas culturais que se deram entre colonos e nativos e, posteriormente, também entre os negros africanos. A partir destas interações e trocas, surgiu uma cerâmica híbrida com novos padrões de forma e decoração, que incorpora características indígenas, negras e européias de produção de vasilhames (Guerra, [s.d.]).

Sambaquis

Os sítios arqueológicos conhecidos como sambaquis são estruturas formadas pela intercalação de camadas de conchas mais ou menos espessas com estratos ricos em matéria orgânica. Estas estruturas, também chamadas de concheiros, variam grandemente de tamanho, podendo atingir até 70 metros de altura e 500 metros de comprimento (DeBlasis et al. 2007). O termo sambaqui é derivado do tupi tamba (mariscos) e ki (amontoamento), e podem ser divididos entre litorâneos e fluviais, ocorrendo em todo o território brasileiro. No Paraná, o principal trabalho de reconhecimento e registro dos sambaquis foi realizado por Bigarella na década de 1940, e resultou na catalogação de mais de 200 destes sítios nas planícies litorâneas do estado (Gernet & Birckolz 2011).

Embora tenha se discutido, no início do século XX, a possibilidade de os sambaquis terem sido naturalmente formados, sabe-se hoje que estes sítios são estruturas de origem antrópica, tendo sido construídos por populações pré-históricas caçadoras-coletoras-pescadoras que habitaram o litoral brasileiro a partir de aproximadamente 8.000 AP (Bartolomucci 2006). Apresentam geralmente forma de calota, formando morros artificias que frequentemente são cobertos por aroeiras, árvores calcícolas (Prous 1992).

Os sambaquis são sítios que apresentam variabilidade funcional, tendo sido utilizados como locais de habitação e de sepultamento (DeBlasis et al. 2007). Nos concheiros usados para habitação, costuma-se encontrar estruturas como buracos de poste e estruturas de combustão, que eram empregadas no processamento alimentar e para iluminação, podendo alcançar vários metros de altura em alguns casos. Os sepultamentos encontrados nos sambaquis pertencem a homens e mulheres de todas as faixas etárias, e em geral apresentam vestígios de ritos funerários. Era comum o arranjo dos corpos em determinadas

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