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Astrolábio, o mar e o império

Por:   •  24/1/2018  •  1.822 Palavras (8 Páginas)  •  317 Visualizações

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O astrolábio, a agulha de marear e o desenho do Império.[pic 8]

Para o mar, melhor é dirigir-se pela altura do sol, que não por nenhuma estrela; e melhor com astrolábio, que não com quadrante nem com outro nenhum instrumento (Faras, 1º de maio de 1500). Ao informar ao rei dom Manuel acerca das novas descobertas, o médico relatou que tomou a altura do Sol, em terra, ao meio-dia, do dia 27 de abril, com auxílio do “piloto do capitão-mor e o piloto Sancho de Tovar” (Faras, 1o maio 1500). João Faras afirmou que, entre os instrumentos usados na navegação oceânica, o astrolábio era o mais seguro e, entre as estrelas para observação, era o Sol. Ainda que outros instrumentos fossem utilizados, a predominância do astrolábio vem-se confirmando ainda a partir de levantamentos arqueológicos no fundo do mar, onde os astrolábios são encontrados em maioria nas embarcações de origem portuguesa (Reis, 1988).

Todo o procedimento, desde a coleta até a inserção dos dados em cartas de marear, roteiros e tabelas, era fruto de um trabalho conjunto que unia aqueles situados nas embarcações que atingiam os pontos mais remotos do Império e os cosmógrafos e cartógrafos que trabalhavam no Reino. Um dos aspectos cruciais era a padronização da graduação e da forma de divisão, pois se os dados fossem coletados com unidades de medidas distintas, além de tornar a reunião dos dados dificultosa, multiplicar-se-iam os erros no momento de inserção dos dados em novas tabelas, nos roteiros e nos mapas-padrão. Verifica-se mais uma vez que havia de fato a necessidade de que os responsáveis pela coleta e condução das embarcações tivessem um preparo mínimo, fossem eles os pilotos ou capitães de um navio.

O astrolábio existia desde a antiguidade, e acredita-se ter sido introduzido em Portugal durante a presença na península Ibérica de astrônomos, matemáticos e médicos de origem islâmica e judaica (Seed, 1999). Dessa forma, as embarcações, conduzidas por homens que seguiam corretamente os caminhos descritos nos roteiros e guiavam-se pelos lugares e informações assinalados em cartas de marear,com auxílio do astrolábio e da agulha, cruzavam os mares e percorriam as rotas que ligavam as terras pertencentes a Portugal. As cartas de marear desenhadas pelos cosmógrafos-mores eram entregues aos pilotos ou, ocasionalmente, para aqueles que prestavam serviços ao rei no ultramar e eram versados em cosmografia, como o caso de Martim Afonso de Sousa ou dom João de Castro, entre tantos outros. Cabia a esses homens, eventualmente, corrigir ou atualizar os dados contidos nas cartas.

Porém, no processo de catalogação das informações e na transposição dessas para as cartas de marear oficiais, quem detinha a autoridade para decidir eventuais discordâncias eram os cosmógrafos do Reino. Não era incomum a discordância entre pilotos e cosmógrafos, mas os últimos tinham a autoridade – tanto intelectual quanto pela hierarquia do cargo – para decidir. Muitas vezes as localizações exatas de pontos estratégicos eram objeto de disputa entre os Estados, o que era levado em consideração pelo funcionário real, nesse caso, os cosmógrafos e cartógrafos (Portuondo, 2009; Sandman, 2002).[pic 9]

Considerações finais

Como tantos outros cosmógrafos, Manuel Pimentel não realizou viagens oceânicas. Porém, quando se verificam a quantidade e a qualidade de informações presentes nos livros de marinharia não é errado concluirmos que, nas embarcações, o piloto, ou quem quer que fosse, controlasse minimamente conceitos básicos da esfera e dos cálculos que permitiam usar corretamente o astrolábio, a agulha, as tabelas e as cartas de marear. Embora existam erros de localização nas cartas de marear e nas tabelas de latitude e longitude dos lugares inseridas nos livros, lembremos que podem fazer parte de interesses territoriais e eram estrategicamente distorcidos pelos cosmógrafos. Portanto, tais erros não devem ser imediatamente atribuídos por nós à má formação e preparo dos pilotos que cruzavam o Atlântico em nome de Portugal como reclamavam os cosmógrafos, ainda que houvesse a dificuldade da realização de cálculos e de procedimentos mais complexos por parte dos homens do mar.

Apreciação crítica[pic 10]

O advento do movimento cultural iluminista propiciou as nações da Europa um olhar mais abrangente nos aspectos da arte, cultura, arquitetura, filosofia, política, ciência, ou seja, influenciou exponencialmente a sociedade europeia do séc. XVI. Para acelerar ainda mais o processo de expansão marítima a Europa estava mergulhada numa crise financeira sem precedente, em virtude das guerras e pestilências que assolavam e, corroia a cada dia o tesouro nacional. Como se não bastasse, a poderosíssima igreja Católica recebeu uma chaga mortal: a reforma protestante. Seu poder decisivo, incutido diariamente na mente do homem medievo, agora, foi questionado! Martinho Lutero rompe com o clero e seus dogmas.

Os burgueses aproveitaram o ensejo da reforma, já que desde a idade média não eram aceitos pela igreja, pois, lucravam por meio da usura, ato condenado pelo clero. Excomungados da comunhão desta Encontraram na reforma protestante um colo acolhedor pelo qual puderam se desenvolver economicamente sem impedimentos da igreja católica. Com a perda significativa de fiéis para o protestantismo, a igreja Católica alia-se ao Estado português, num acordo secular- eclesiástico desesperado com o fim de barrar o avanço do protestantismo nas “novas colônias à vista” e ganhar novos adeptos à fé católica. Isso possibilitou a Portugal, o primeiro país onde se estabeleceu o poder do Estado Nacional lançar-se no além mar. É nesse contexto de instabilidade econômica e religiosa na Europa que os portugueses lançarem-se ao mar rumo ao “desconhecido”, em busca de algo que contornasse a situação do país. Assim, rumaram para o “novo mundo”, as Américas. O espírito aventureiro dessas nações foi despertado pelo movimento humanístico do séc. XVI e XVIII. Para isso, era necessária a criação de equipamentos especiais: cartas de marear, astrolábios, agulha de marear.

Tudo era controlado ao bel prazer do Estado português que se utilizava dos recursos científicos para salvaguardar e enriquecer a economia portuguesa. Os instrumentos deveriam ser precisos, os geógrafos trabalhavam na criação e atualização de dados coletados por aqueles que se lançavam ao mar. Por mais que os dados desses cosmógrafos não coincidissem com as novas informações dos aventureiros, o que prevalecia era a decisão do geógrafo-chefe, pois, assim queria o Estado.

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