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Análise de Fonte: Vamonos con Pancho Villa

Por:   •  17/11/2018  •  4.932 Palavras (20 Páginas)  •  401 Visualizações

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As populações campesinas na administração de Porfírio Díaz[3] perderam sua autonomia e terras comunais com o desenvolvimento de ferrovias, transporte, comunicação, indústrias, produção mineradora; além do governo ditatorial de Díaz favorecer haciendas, aumentando a posse de terras à elite agroexportadora. Sendo assim, os campesinos mexicanos foram prejudicados pela expropriação de suas pequenas terras, foram excluídos socialmente e não tiveram voz ativa em suas reivindicações cotidianas de modo pacífico, sendo necessário, muitas das vezes, ir para o conflito armado. No México pré-revolucionário havia um embate entre dois tipos de sociedade: sendo de um lado uma sociedade urbana e de outro uma sociedade rural que vivia precariamente. De um extremo havia o progresso e uma sociedade moderna, e de outro, havia uma imensa população rural com hábitos tradicionais, que tiveram suas terras expropriadas pelo porfiriato, gerando uma situação conflituosa entre campesinos e a elite mexicana que muito lucrou com a modernidade. Essa situação provocou uma imensa desigualdade social. De acordo com Barbosa (2010):

a contradição e as difíceis relações entre as duas sociedades que conviviam na realidade do México – de um lado, um Estado moderno, surgido das reformas liberais e aprofundado pelo regime de Porfírio Díaz; de outro, uma sociedade tradicional vinculada aos pueblos, camponeses e grupos indígenas – foi uma das causas da Revolução Mexicana (BARBOSA, 2010, p. 44).

Várias foram as causas e demandas da Revolução Mexicana e antigos aliados se tornaram opositores de um momento para outro. Esse acontecimento foi marcado pela pluralidade e heterogeneidade das agitações políticas. Em determinados momentos, tais grupos se juntaram para derrotar um inimigo comum e num momento próximo, iniciava-se a disputa pelo poder, pois os interesses eram diversos, e, muitas das vezes, antagônicos. Foi assim, que forças políticas e sociais ambíguas, como as forças de Venustiano Carranza, Álvaro de Obregón, ligados a classe média e as elites, além de Francisco “Pancho” Villa e Emiliano Zapata representantes dos campesinos e dos grupos indígenas se uniram numa nova onda revolucionária para derrubar o governo contrarrevolucionário de Victoriano Huerta.

A linguagem cinematográfica tem valor histórico, e pode ser usada como instrumento de representação para forjar uma realidade social ou difusão de cultura, e por isso propicia aos estudiosos interpretar, desmontar a montagem cinematográfica e lançar questões sobre temas importantes para a História, pois utilizam a “noção de cinema enquanto instrumento de revelação de uma determinada mentalidade” (KORNIS, 2008, p. 19).

Desse modo, recorremos para o empreendimento da análise o conceito de Representação do social utilizado pelo historiador francês Roger Chartier. As representações do social são determinadas por projetos de interesses de grupos políticos hegemônicos para legitimação do poder à custa de outros grupos que tenham projetos antagônicos. De acordo com o autor:

as representações do mundo social assim construídas, embora aspirem à universalidade de um diagnóstico fundado na razão, são sempre determinadas pelos interesses de grupo que as forjam. Daí, para cada caso, o necessário relacionamento dos discursos proferidos com a posição de quem os utiliza. (...) As percepções do social não são de forma alguma discursos neutros: produzem estratégias e práticas (sociais, escolares, políticas) que tendem a impor uma autoridade à custa de outros, por elas menosprezados, a legitimar um projeto reformador ou a justificar, para os próprios indivíduos, as suas escolhas e condutas. Por isso esta investigação sobre as representações supõe-nas como estando sempre colocadas num campo de concorrências e de competições cujos desafios se enunciam em termos de poder e dominação. As lutas de representações têm tanta importância como as lutas econômicas para compreender os mecanismos pelos quais um grupo impõe, ou tenta impor, a sua concepção do mundo social, os valores que são seus, e o seu domínio. Ocupar-se dos conflitos de classificações ou de delimitações não é, portanto, afastar-se do social – como julgou uma história de vistas demasiado curtas (...) (CHARTIER apud PACHECO, 2005, p. 3).

Sendo assim, um evento histórico pode ser interpretado e representado de diferentes formas de acordo com a intencionalidade e posição de quem o utiliza. As representações estabelecem relações de poder, impondo autoridade de um grupo e alijando outros, no interesse de construir uma determinada memória oficial e visão de mundo do passado. BENJAMIN (2003) tem uma posição interessante sobre a disputa da memória pelo passado:

Así como el poder, el passado es disputado em la política, la guerra y la revolución. En el decurso de cualquier lucha, los más poderosos privilegian determinados recuerdos y mitos a costa de otros y buscan crear uma memoria oficial (con miras a convertirla en nacional o em dominante) para aí legitimar la autoridade política existente. (BENJAMIN, 2003, p. 40).

Desse modo, os filmes épicos são estratégicos para a construção de projetos políticos, além de determinar imposições sociais e de autoridade. “No contexto de abertura da história para novos objetos, os filmes (...) passavam a ser encarados como fontes preciosas para a compreensão dos comportamentos, das visões de mundo, dos valores e das ideologias de uma sociedade ou de uma dada época” (KORNIS, 2008, p.23). Dessa maneira, a História cultural nos permite tangenciar temas ligados à produção cultural de uma determinada época, como pretendemos aferir na análise de !Vamonos con Pancho Villa.

O documento cinematográfico é imbuído de subjetividades, ideias, sentimentos e, principalmente intencionalidades, e são por esses motivos que são instigantes para o historiador, onde o mesmo possa lançar perguntas e inquietações sobre variados temas em variadas épocas. Na análise de !Vámonos con Pancho Villa procuraremos mostrar que “o filme, em sua linguagem imagética – sobretudo aqueles ambientados no passado – pode abrir o passado no presente, permitindo assim a constituição – em muitos casos – de uma contra história, em contraponto à história oficial” (SILVA, 2012, p. 37).

De acordo com Kornis (2008) As imagens em movimento têm um lugar especial na memória. O cinema trabalha no espectador ideias e sentimentos “criando para as gerações futuras a ilusão de, diante dessas imagens, estarem frente a um registro fiel de uma dada realidade” (KORNIS, 2008, p.11). Sabemos que os filmes têm um grande potencial para divulgação

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