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Antropologia - caminhoneiros

Por:   •  25/1/2018  •  2.022 Palavras (9 Páginas)  •  259 Visualizações

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“Sempre o vi como um cara que conseguia domar um monstro (Caminhão) e por isso sempre tive verdadeira admiração por ele,assim como tenho pelos meus irmãos,dirigir ônibus, Caminhões e Cavalo hidráulico é uma verdadeira arte e a relação familiar era boa na medida do possível, como ele tinha essa vida de estrada e via muita coisa,acho que existia uma cobrança maior em casa!”[1]

Em nossa conversa senti uma paixão na profissão do pai, e que mesmo com todas as dificuldades e cobranças ela o amava. Em suas palavras era nítido o orgulho e entusiasmo da mesma. “Eu, estou disposta sim a está profissão, vou seguir estes passos, porém estou buscando me aperfeiçoar como instrutora... para que ajude a manter essa profissão limpa! Cair na estrada é o meu sonho... e vou! Um futuro próximo!”

Muitos estudos dizem que caminhoneiros escolheram esta profissão pela falta de estudo, porém acredito que seja muito mais que isso, o entrevistado Raimundo afirma escolher essa profissão ainda pequeno, era seu sonho, quando lhe pergunto sobre a forma como é visto o profissional, ele humildemente me responde que a pessoa é aquilo que ela quer ser, ele quis não se envolver com as coisas que lhe eram oferecidos na estrada, e isso é uma decisão de cada um, e ainda afirma que sua vida melhorou muito depois que entrou para o evangelho.[2]

- Os riscos da profissão e como é visto o trabalhar carreteiro

Atualmente, os diversos assaltos a cargas tem se tornado algo constante, os perigos dessa profissão não compensam a remuneração que lhes é dada, dados do sindicato nos mostram que o piso salarial em 2015/2016 de motoristas carreteiros está em 1.757,05, valor este considerado pouco em relação a todas as dificuldades em pistas com péssimas condições, assaltos, horas esperando dentro de um pátio para carregar e descarregar, às vezes perde o dia nesses lugares, além de ficarem sem comer porque alguns pátios como o da COSIGUA depois que o motorista entra não tem um lugar para comer. Riscos de saúde como obesidade, embora alguns, na maioria os novos entre 25 anos façam academias quando tem disponibilidade para se manterem com o corpo visualmente bem, entre outras doenças mais graves.

A Lei dos Caminhoneiros (Lei 13.103/15) prevê a construção de pontos de descanso nas principais rotas do Brasil. Creio que esta lei está sendo aplicada, apenas no papel, assim como a que diz que o caminhoneiro que não respeitar as regras da lei de descanso (12.619/12) será punido, que também não se faz valer, a punição deveria vir também para as empresas que submetem seus funcionários a metas absurdas.

“(...) o motorista, realmente, merece de nós, consideração e reconhecimento, por seus infindáveis e imprescindíveis serviços. Serve à nação, servindo seus filhos. Entrega se a luta, arriscando a própria vida, pela vida e bem estar de seus irmãos...” [3]

Dentre os riscos que os caminhoneiros são expostos em suas trajetórias, um dos classificados com maior gravidade é o de acidentes, o Sr Malcenir da Silveira se recorda de dias em que perdeu o freio na descida da Serra das Araras/ RJ, conta que foram horas de extremo estresse, medo, por sua vida e pelas vidas das outras pessoas[4], então percebemos mais um problema, veículos sem boas condições de uso, alguns em estado precário, normalmente os caminhões de autônomos é que se encontram desse jeito, pois o valor ganho nos fretes não supre o alto custo de manutenção dos mesmos.

“Vejo os carreteiros como uma profissão de alto risco e pouco valorizada, homens que vivem sós na estrada por semanas e até meses com um salário baixo, é um risco muito grande! Dirigimos para nós e para os demais!” [5]

Esta é a visão de alguém que conhece de perto a vidas destes heróis da estrada. No livro de Norbert Elias, Estabelecidos e Outsiders o autor mostra a relação de estigmatização, do que se acha superior para com o inferior. O caminhoneiro por muitos anos foi colocado na sociedade como inferior as outras profissões pelo fato de os requisitos para adentrar nesta profissão era somente ter o ensino fundamental incompleto, e como diz Norbert Elias, são tão estigmatizados que aqueles o qual estão sofrendo com isso acabam tomando para si aquela imagem que tem sido feita dele, crendo que ele realmente é aquilo que lhes foi imposto, no caso dos caminhoneiros muitas vezes impostos pela sociedade. Olhando o quesito fofoca colocado pelo mesmo autor posso considerar que algumas reportagens lançadas pela mídia de modo um tanto exagerado, criaram nas pessoas que não conhecem este meio, uma espécie de medo, o que entendo como uma fofoca destrutiva ao caminhoneiro, que já não é visto como um profissional de tal importância, mas sim um profissional de má fé e desvalorizado.

Considerações finais

No livro o “O trabalho do antropólogo” o autor Roberto Cardoso de oliveira estabelece que o escrever está profundamente associado ao pensamento, que é no escrever que o pesquisador tem seu momento de analise sobre os problemas encontrados na observação e tenta encontrar meios de saída para eles, é no ato de escrever que as informações são estruturadas e as idéias nascem, e evoluem na transcrição das informações, deste modo, espero que os métodos utilizados para tornar este trabalho possível, além do esforço e desempenho, tenham contribuído e ajudado as pessoas terem uma nova perspectiva deste tema e também para que os leitores possam conhecer um pouco melhor a trajetória destes homens e mulheres que disponibilizam grande parte do seu tempo em prol de suas famílias e sonhos.

Acredito que ainda há muito que melhorar para estes profissionais e que também existem muitas histórias de vida belíssimas de tristeza e alegria e paixão entre o homem e a máquina, que se fazem companheiros em todos os momentos.

Descrevo com orgulho e ao mesmo tempo tristeza, Malcenir, 45 anos, casado, dirige desde seus 17 anos com seu pai, trabalhou por anos na estrada, chegando a ficar mais de três meses fora de casa, muitas vezes andei por esse Brasil fazendo companhia em suas vagens, hoje é dono de seu próprio caminhão, porém não trabalha nele, pelas péssimas condições oferecidas aos trabalhadores pelas empresas que pagam fretes, vejo a tristeza em seus olhos ao ver seu velho amigo se acabando ao sol e chuva, a cada ligação de compradores, percebi uma resistência em vende - lo mesmo diante das dificuldades financeiras enfrentada.

Por fim, posso dizer que foi uma experiência engrandecedora ouvir várias histórias de diferentes opiniões e aprender cada dia a respeitar esses profissionais

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