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A Sabianada e a Polização da Cor

Por:   •  22/3/2018  •  2.250 Palavras (9 Páginas)  •  316 Visualizações

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esclarecimentos ao rei sobre um clausula da lei de 1973 que afirmava terem os descendentes de africanos permissão para ocupar qualquer cargo, recebendo honras e privilégios se assim merecessem. Mas, essas reivindicações só ganhou forca com a outorga da Constituição de 1824, ao estabelecer que todos os brasileiros livres teriam os mesmos direitos.

“foi nesse quadro de crescentes demandas que a abdicação significou, para muitos, a finalização do processo de independência”. Isso, porem, não aconteceu e pouco mais tarde em varias províncias surgiram às revoltas federalistas. Diz: Grinbeg.

Como bem afirma Hendrik Kraay, a “Sabinada desafia caracterizações fáceis”. Kraay, começou a recuperar a Sabinada e a imagem de Sabino, ao afirmar que “gente de primeira classe apoiou a Sabinada”. E ainda Praguer ainda compararia Sabino com Tiradentes, preconizando que ele se tornaria um mártir de igual monta—o que de fato nunca aconteceu. A Sabinada jamais teria apelo equivalente ao da Inconfidência Mineira, pois a revolta foi organizada por homens cultos e ficou restrita às camadas médias da população de Salvador. E, a proposta era que o exercito e as milícias usaria a revolta para expressar seus descontentamentos com as reformas militares. Portanto, a sabinada se insere no conjunto das revoltas regenciais que eclodiram como manifestações de descontentamento e insatisfação de parcelas das classes dominantes e populares diante da condução do governo monárquico pelas regências. A Sabinada apresenta ainda outros episódios de tensões de tipo racial, sobretudo quando se leva em consideração as diferenças entre homens livres e escravos – perceptíveis, ordinariamente, a partir de marcadores como a cor da pele. A necessidade do movimento rebelde de armar cativos para lutar contra as forças legalistas levou ao encontro, nas mesmas fileiras, de pessoas tradicionalmente separadas.

Grinberg nos mostra que entre os porta-voz da revolta, havia tácito reconhecimento de que o conflito tinha dimensões raciais. Alguns dos autores que reconheceram na Sabinada uma politização da identidade negra recorreram à mesma citação do Novo Diário da Bahia para exemplificar esta questão:

“Mas enfim eles nos estão fazendo a guerra, porque são brancos, e na Bahia não deve existir negros, e mulatos, principalmente para subirem a postos, salvo quem for muito rico, e mudar as opiniões liberais, defendendo títulos, honrarias, morgados, e todos os princípios de fidalguia”

Porém o artigo segue atacando aquele cujo exemplo não deveria ser seguido: mulato Antônio Pereira Rebouças, que havia ficado do lado do governo, depois de ter abandonado suas “opiniões liberais”.“ (...) quem não for mulato rico como Rebouças, e como ele enfatuado peru, tendo sido dos trancafios, não pode ser coisa alguma(...)”.

O jornal editado por Sabino descreve a disputa entre rebeldes e legalistas em termos raciais: tratar-se-ia de uma luta empreendida por brancos para evitar a subida de negros e mulatos aos cargos de poder.

Rebouças tinha como máxima o parágrafo da Constituição de 1824 que estabelecia que os cidadãos brasileiros só pudessem ser distinguidos de acordo com seus talentos e virtude. Por isso Rebolcas defendia que nenhum cidadão deveria ser discriminado por sua origem.

Para além das questões especificas relacionada às demandas e expectativas da população de cor na década de 1830, das quais a Sabinada é um dos episódios mais radicais, salta aos olhos o envolvimento de duas pessoas públicas altamente influentes na sociedade salvadorenha da primeira metade do século XIX, ambas mulatas. Mas, o que se torna complicado de se entender é que justamente quando a demanda envolvia questão de “igualdades entre as cores”, a Sabinada iria deixar Rebouças e Montezuma de um lado, e Sabino do outro. E que logo depois Rebouças assumiria a província de Sergipe e Sabino iria preso por, acusado de radicalismo.

Foi em novembro de 1837 na cidade de Salvador que Antônio Pereira Rebouças levantou forças contra o grande movimento revolucionário que iria eclodir e com isso começou a organizar a resistência sempre envolvendo forças políticas importantes na época e o contingente policial para que reprimisse qualquer forma de revolução. Há historiadores que afirmam que sua participação dentro do movimento contrarrevolucionário não foi tão importante, porém, é interessante destacar a importância atribuída pelo próprio Antônio Rebouças.

Podemos destacar a imagem de Rebouças como um defensor da ordem durante a sabinada e mesmo entre a disputa de poder entre moderados e centralizadores e toda questão de ordem isso não significava que Rebouças apoiasse os centralizadores. E foi por causa dessa sua postura de ordem e legalidade que ele ainda se destacava entre as altas autoridades do império. Cartas que Rebouças recebia mostravam explicitamente o seu prestigio entre as autoridades e que servia como manutenção política entre a Bahia e o Brasil.

Mesmo diante de todo prestigio ainda havia suspeitas de seus adversários que Rebouças poderia vir contra a ordem por ser mulato, ou seja, suas ideias e atitudes sempre deixam suspeitas. Isso era bastante comum nesse período porque a sociedade ainda pensava de uma maneira bastante escravocrata e porque não era comum ter pessoas mulatas que conseguiam prestigio entre a elite. As ideias de Rebouças incomodavam ambos os lados, pois Sabino via as atitudes de Rebouças como uma traição ao movimento e Francisco Gonçalves Martins, chefe de policia, que não acreditava em Rebouças como defensor da ordem, pois para ele os mulatos eram culpados por todo tumulto.

Antônio Pereira Rebouças se achava no direito de fiador dos brasileiros como disse em sessão na assembleia geral “[...] eu sou fiador da união [...] provei eficazmente, nessa conjuntura difícil, que a minha qualidade de mulato valia muito, como grande elemento de ordem e mútua confiança entre todos os brasileiros”. Para Rebouças havia uma necessidade de sempre se colocar como uma pessoa diferente de Sabino, apesar das semelhanças em ambas às trajetórias. Isso se explica porque durante a sabinada os mulatos viam que a única possibilidade de se ascender politicamente era a independência. A pessoa de Rebouças incomodava os revolucionários justamente porque construiu uma carreira política profissional e de nada fazia para com seus pares.

Houve tentativa da parte dos sabinos para fazer com que Rebouças fosse lutar ao lado deles apelando para ele no jornal [...] “unam-se conosco, se querem salvar a Bahia e a si próprios: os direitos de igualdade e liberdade serão defendidos pelos bravos do dia 7 de novembro até a morte”. Mas Rebouças ignorou

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