A Bolsa e a Vida
Por: eduardamaia17 • 15/3/2018 • 5.599 Palavras (23 Páginas) • 493 Visualizações
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O quarto Concílio de Latrão, ocorreu em 1215, sendo essa data o marco de um novo jeito de se confessar, sendo obrigatório uma confissão todo ano durante a Páscoa. Essa nova lei, imposta pela Igreja Católica, obrigava homens e mulheres que seguiam o cristianismo, a confessar-se pelo menos uma vez por ano. Cabia ao confessor, por meio de perguntas dirigidas ao pecador, conhecer sua vida particular, e ver qual era a semelhança de seu pecado com sua real situação. Assim lhe aplicava a penitência justa ao pecado cometido. Ao contrário de antes, a maneira de ver os pecados e as penitências aplicadas, se transformaram, o arrependimento e o auto exame, passaram a fazer parte do rito de purificar o pecador, e por meio dessa auto avaliação, o levasse ao arrependimento sincero, e assim a penitência era aplicada.
Com o auto-exame do pecador, estava lançado o inicio da psicologia, o ato de se auto avaliar, interrogar-se á si próprio sobre seus erros cometidos. Um novo lugar, é chamado pelos Católicos de Purgatório, era o lugar para onde iriam pessoas que morriam carregadas de pecados considerados perdoáveis, para purificar-se, e se livrar da eternidade no inferno.E os que morriam sem confessar seus mais graves pecados iriam direto para o lugar da morte, sofreriam pela eternidade no inferno.
Com esse novo estilo de confissão, os confessores tinham dificuldades em analisar e distinguir pecados mais graves, de pecados leves, e que penitência aplicar nos fiéis. Muitas dúvidas, eram freqüentes, diante de tantas confissões, de vários níveis de gravidade, geraram uma necessidade de pedir ajuda aos mais eruditos da Igreja, sobre as penitencias que deveriam ser aplicadas. Essa ajuda vinha em forma de manuais, para padres menos cultos, e menos experiente em matéria de analisar e aplicar a penitencia.
Entre todos esses novos códigos de confissão estabelecidos pelo quarto Concilio de Latrão, a usura continua tendo seu lugar entre eles. Em um segundo documento, a usura é o principal ingrediente. O Exempla. Que é um texto escrito em forma de sermão, para tentar edificar um público, com a força da retórica convencia os fiéis, com exemplos fortes, de fácil compreensão. Serve de lição aos fiéis, e comparada como [...] “a chave do paraíso”.
Exemplo de um sermão, de Jacques de Vitry.
[...]” Um outro usurário riquíssimo, começando a lutar contra a morte, pôs-se a se afligir, a sofrer e a implorar á sua alma, que esta não o deixasse, pois ele a havia satisfeito, e lhe prometia ouro, prata e as delicias deste mundo se ainda quisesse ficar com ele. Mas que ela não lhe pedisse, em seu favor, dinheiro nem a menor esmola pra os pobres.Vendo, enfim, que não a podia reter, se encoleriza e, indignado, lhe diz: ‘ preparei-lhe uma boa residência com abundancia de riquezas, mas você se tornou tão louca e tão miserável que não quer repousar nessa boa residência. Vá embora! Eu a entrego a todos os demônios que estão no inferno´. Pouco depois entregou o espírito nas mãos dos demônios e foi interrado no inferno.”[...] pág 13
Como qualquer sermão, o texto era envolvente por sua retórica, gesticulações, que envolvia os cristãos. Mas mesmo durante o sermão, tinha homens que se retiravam e seguiam até as tabernas, em busca de diversão, de pecados. Esses exemplos de má conduta dos fieis, foi encontrado em um Exemplum de São Luiz.
Com tamanha mudança na sociedade, voltam as pregações, que exaltavam o espírito e a pobreza. Recorrendo aos sermões, surgiram novas ordens, que repugnavam a riqueza. As duas ordens mais importantes eram os Mendicantes e os Franciscanos, especialistas em pregar contra a usura. Sendo eles, a Ordem dos Pregadores.
Anteriormente, pregavam as cruzadas, que atraiam multidões, desde o fim da mesma, passaram a pregar a reforma. Jacques de Vitry, era pregador desta nova sociedade, dividida entre o dinheiro e a religião. Com vários Exemplum, que serviram de manuais, até mesmo depois do século XIII. Tornando-se a mais rica fonte de detalhes sobre a vida dos usurários. Continha neles também os sermões, detalhando a agonia no fim dos dias de quem adorava seus bens, na Idade Média. E a condenação, o sofrimento que teria que passar por toda a eternidade caso não abandonasse a Bolsa.
A bolsa: a usura
A usura no século XII, era retratada nos documentos religiosos, como um monstro de varias cabeças. Estabelecia-se varias formas de exemplos de usura, dificultando distinguir o que seria uma prática lícita ou ilícita se tratando de juros.
Usura quer dizer, práticas financeiras proibidas. O empréstimo de dinheiro é diferente de empréstimo de bens em geral. Bens materiais seriam devolvidos, sem ganho em cima, más o dinheiro não. È o estatuto do dinheiro, a base da condenação da usura.
Le Goff, não se aprofundará no tema econômico da Idade Média. Nos indica apenas, que a relação econômica daquele tempo era muito diferente do que hoje temos por economia. Utiliza idéias sobre economia, de outro historiador mais fluente nas relações econômicas daquele tempo, chamado Karl Polanyi (1886-1964). Le Goff utiliza duas observações de Polanyi para entender o fenômeno da usura na Idade Média. As relações entre pessoas e “coisas”, eram apenas de troca mutua de objetos com o valor praticamente iguais, e que essa maneira de consumo, era justa e ninguém saia perdendo. Não atribuíam valores em dinheiro á mercadorias, como alimentos e etc. Eram laços de reciprocidade entre os homens medievais. Esse primeiro exemplo de trocas e sua finalidade, foi retirada dos escritos de Malinowski, que diz respeito ao dom e ao contra-dom. Cuja finalidade desse tipo de relação, era apenas de reciprocidade.
A segunda idéia utilizada para entender a base da “economia” medieval, de Polanyi, é a do ajustamento e da análise institucional. A economia de certo modo, sempre existiu nas relações humanas, apenas com o passar do tempo e do decorrer da história, esse sistema, a economia se consolidou. Mesmo com a ajuda do tempo e da história, e com esses vários exemplos de como a economia de certa maneira era tratada dentro dessa sociedade, fica difícil identificar em qual destas práticas ela realmente se inseriu.
O autor identifica Análise Institucional, com a maneira de como os homens da Idade Média se relacionavam entre si, dentro do contexto social da época das suas práticas e valores. A bíblia servia de alicerce para os fiéis, para levarem uma vida dentro dos mandamentos de Deus. Essa muitas vezes se contradizia, o que acarretou na vida dos cidadãos, uma certa liberdade em cometer certos pecados.
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